A Dimensão da Cruz na Vida dos Jovens

Esperamos o Papa em nosso Brasil. Milhões de jovens de todas as partes do mundo esperam encontrar-se com o sucessor de S. Pedro na Jornada Mundial da Juventude (Rio de Janeiro: 23-28 de julho de 2013).
Este acontecimento é antecedido pela peregrinação em grandes centros urbanos do Brasil de uma cruz singela carregada por mãos jovens. É assim, desse modo, que jovens convidam jovens para a Jornada Mundial da Juventude.
Qual é o significado dessa cruz que os jovens carregam? Qual é a dimensão da Cruz do Cristo na vida dos jovens? Foi o próprio Beato, O Papa João Paulo II em 1986, quem explicitou vivamente o significado dessa cruz a sair de Roma convidando os jovens para o encontro com o Mestre Jesus: “Levem-na pelo mundo como sinal do amor do Senhor Jesus pela humanidade e anuncie a todos que somente em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção.”
A salvação da humanidade está na Cruz de Cristo. O jovem é chamado a ver nessa Cruz o seu Deus feito Homem para salvar o homem, para salvá-lo do pecado que leva à morte. Quando o jovem faz uma experiência pessoal com Jesus, ele une a sua vida com a Vida de Cristo. Entende que a Cruz do seu Salvador é o sinal concreto da vitória do amor sobre o ódio, da paz sobre a guerra, da verdade sobre a mentira… A Cruz passa a ser o sentido da sua vida, não como sinal de derrota, mas de vitória que não se resume na vida presente, mas que vai além, aponta para a vida sem fim, a vida eterna. Foi o próprio Jesus quem afirmou: “Eu vim para que tenham a Vida, que a tenham plenamente.” (Jo 10,10).
A juventude é expressão máxima do desejo pela vida. É característica do jovem a afirmação: “curtir a vida”, ou seja, viver intensamente. O que o jovem não faz para ser feliz, para vencer, para conquistar…? Sabemos também que essa força, essa garra, esse entusiasmo podem muito bem, uma vez voltados para falsas realizações, falsos ideais, tornarem-se destrutivos, caminhos de derrotas, vida sem sentido. Há muitas propostas aos jovens. Entre elas está a proposta da Cruz de Cristo. Como interpretá-la? Como falar dela aos jovens?
A cruz evidência o sofrimento, a dor. Todo contexto bíblico, de certo modo, esbarra na dimensão do mistério da dor. O Deus de amor não é autor do sofrimento, não quer a dor da criatura infinitamente amada. A Igreja essencialmente missionária, anunciadora do Cristo salvador da pessoa humana, não se intimida em afirmar que a cruz, o sofrimento, é inerente a vida humana. Iluminada pela revelação da Palavra de Deus, sabe e afirma que a doença, a dor, o pesar humano entraram no mundo por causa do pecado (CaIC 1505). O pregador do deserto, o precursor do Verbo encarnado, S. João Batista, ao contemplar o Cristo exclama: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Contudo, perdoados, redimidos, salvos por Cristo, continuamos a sofrer. Por mais que lutemos e façamos tudo para que nossos dias transcorram sem a dimensão da dor, ela nos espera em determinados dias e momentos da nossa existência terrena. É preciso portanto, entender que a pessoa que experimenta o Cristo, sabe claramente que a plenitude da salvação e da alegria se dará na vida eterna, na ressurreição. Vivemos esta esperança e associamos nossa luta de todos os dias com a Cruz de Cristo. O nosso sofrimento biológico devido a nossa frágil constituição humana, e também, sobretudo se resultado do nosso seguimento a Cristo, se causado por renunciarmos tudo o que é contrário à verdade, à justiça, ao amor e enfim à vontade de Deus, é um meio seguro de configurar-nos com Jesus Cristo e unir-nos à sua paixão que nos salva e faz o nosso olhar transcender, ir além da dimensão terrena, temporal, para uma vida eterna plenamente feliz.
Os jovens também experimentam a dor física, psíquica, afetiva e social. Muitos desafios, como uma avalanche, envolvem a existência do jovem. Quando o jovem por força divina deixa-se iluminar pelo Espírito Santo, reconhece em sua consciência a miséria humana causada pelo pecado. Diante dessa verdade vivenciada, constatada em seu existir, diz a si mesmo: necessito de salvação, necessito de um Ser livre desta minha condição de miséria que me aponte um novo horizonte, um sentido para viver, que me salve. Em resposta a esse apelo, o mais autêntico da história humana, é que o Cristo vem ao encontro da humanidade, faz-se  um de nós, sofre como nós, morre por amor de nós e ressuscita ascendendo a esperança em nossos corações da vida sem ocaso, da vida eterna. (conf. CDF, instr. Libertatis conscientia, 68) Este processo de conscientização é essencialmente necessário. Sem isso a conversão, o seguimento a Cristo, não pode ser autêntico. Somente com a consciência de que se é limitado que o jovem renuncia as suas certezas, seus ímpetos, seus desejos… toma a sua cruz do dia-a-dia e segue a Jesus (Mt 16,24). Reconhece que no querer do Mestre está a sua realização, na promessa do Mestre está a sua esperança de vida eterna. Não há outro caminho senão este: associar a sua cruz a Cruz do Cristo.
O jovem cristão sofre também, não deixa de ser humano, mas encontra em Jesus Cristo, um sentido para o seu sofrimento. Sofre por uma causa nobre. É defensor da verdade, da justiça. Coloca seus talentos a serviço do próximo. Sua energia forte e vivaz é consumida para a construção de um mundo melhor. Sua vida é dada por amor. O jovem cristão está configurado a Cristo. Sua cruz está unida à Cruz de Cristo.
Não se trata aqui de uma exaltação do sofrimento. Não!!! O sofrimento não é permanente. A Cruz que os jovens carregam preanunciando a Jornada Mundial da Juventude está vazia. O Cristo passou pela Cruz. Anunciamos o Cristo crucificado (ICor 2,2), mas também ressuscitado, vencedor da morte que é conseqüência do pecado. Nós pecadores redimidos sofremos, mas já não sofremos sozinhos sem esperança e sem sentido, sofremos com Cristo. As mãos jovens carregam a cruz, gesto que demonstra ao mundo que com Cristo somos mais que vencedores (Rm 8,37). Associar-se a Cristo, entregar nossa vida a Jesus não significa já não mais lutar, não ter mais dificuldades, sofrimentos…
Evidentemente que não. O jovem  livre, consciente, forte… é chamado a ser um lutador com Cristo, vencedor do mundo de pecados e de um contexto que leva milhões de jovens ao vício das drogas e do prazer desvinculado de um ideal nobre de vida. O sofrimento na vida do jovem cristão está situado nesta luta contra o mecanismo destruidor da vida. Esta luta é muito bem descrita no Documento de Aparecida: “Os jovens são chamados a ser “sentinelas da manhã”, comprometendo-se na renovação do mundo à luz do Plano de Deus. Não temem o sacrifício nem a entrega da própria vida, mas sim uma vida sem sentido. Por sua generosidade, são chamados a servir a seus irmãos, especialmente aos mais necessitados, com todo o  seu tempo e sua vida. Têm capacidade para se opor às falsas ilusões de felicidade e aos paraísos enganosos das drogas, do prazer, do álcool e de todas as formas de violência. Em sua procura pelo sentido da vida, são capazes e sensíveis para descobrir o chamado particular que o Senhor Jesus lhes faz. Como discípulos missionários, as novas gerações são chamadas a transmitir a seus irmãos jovens, sem distinção alguma, a corrente de vida que procede de Cristo e a compartilhá-la em comunidade, construindo a Igreja e a sociedade (DA 443).
A Jornada Mundial da Juventude quer ser e reza para isso, uma celebração a iluminar a consciência dos jovens a essa verdade da Cruz de Cristo, a verdade que liberta e que faz o jovem verdadeiramente feliz. Para isso, conta com a força de milhares de jovens que testemunham com a própria vida a felicidade do encontro que tiveram com a Pessoa de Jesus Cristo. É com esse ideal que o Santo Padre o Papa Bento XVI espera encontrar-se com os jovens de todas as partes do mundo aqui no Brasil.
Rezemos e ofereçamos a nossa força para que este acontecimento seja frutuoso e que muitos jovens possam dar este passo decisivo no seguimento de Jesus; e Dele venham a ser verdadeiros discípulos missionários.
Dom Antonio Carlos AltieriBispo de Caraguatatuba e 
Bispo referencial da juventude da Regional Sul 1

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