«2012 será um ano de sacrifícios para muitos portugueses. Mas será igualmente um ano em que a fibra do nosso povo virá ao de cima. Não nos resignamos. Somos um povo que se agiganta quando as adversidades são maiores e mais difíceis de superar. É nestas alturas que os portugueses conseguem ultrapassar-se a si próprios e surpreender tudo e todos. Eu acredito nos portugueses. O civismo, a coragem e a serenidade com que têm enfrentado estes tempos difíceis são dignos de todo o respeito e de enorme admiração. Portugal é maior do que a crise que vivemos».
Deixando que outros – políticos de partidos e sindicalistas de profissão, comentadores ‘sábios’ e opinadores de intenção – façam a hermenêutica (escondida nas entrelinhas) das palavras que deviam ser ditas, consideramos que este excerto da mensagem do Presidente da República de Ano novo como que – em nosso entendimento – lança pistas para o nosso futuro próximo.
De fato, há razões para este estado do país. Há culpados e causadores. Há soluções e deturpações. Há mentira e exageros na verdade! Queremos olhar aquelas palavras com esperança – palavra repetidamente dita pelo PR na referida mensagem – pois nós somos muito maiores do que afinal pensamos, como portugueses.
= Civismo na não-resignação
Do que temos visto em certas manifestações – tanto políticas como sindicais, em greves ou noutras tomadas de posição – são atitudes de pouco civismo, criando mal-estar entre os atingidos pelos (ditos) direitos dos reclamantes. Com feito, as mais recentes greves dos maquinistas do caminho de ferro foram disso um desagradável exemplo, pois atingiram largas fatias da população e criaram prejuízos ao país e ao empregador.
Esta falta de civismo é (ou pode ser) resultado do deficiente entendimento dos deveres de uns contra os direitos de outros. Esta falta de civismo resulta de uma inadequada forma de compreender certas lutas dos sindicatos, que, na maioria dos casos, são tiros no futuro do emprego que ainda vão tendo. Esta falta de civismo quase parece resultado do enclausuramento de certos dirigentes sindicais – perpassando as várias áreas de intervenção – que, já nem conhecendo o seu espaço profissional, como poderão gerar lutas corretas, sensatas e civicamente responsáveis?
= Coragem da não-resignação
Nos tempos que correm o risco de desanimar é tentação de uma razoável maioria. A resignação não pode ser virtude dos cobardes, mesmo que acomodados ao ‘não vale a pena’! A resignação não é nem pode ser deixar correr, pois outros farão por mim.
A não-resignação exige coragem para se comprometer na mudança. Cristamente dizemos ‘conversão’, sobretudo, aos valores do Evangelho. Por isso, a rotina de certos atos religiosos pode ser uma espécie de narcotização resignada e repetitiva de rituais ocos.
A não-resignação exige capacidade de discernimento à luz do Espírito de Deus, que sempre nos incomoda para um crescimento na profundidade de Deus em nós, levando-O àqueles que se possam acomodar ou egoisticamente centrar em si mesmos.
= Serenidade pela não-resignação
Diante da exigência em não ficarmos a ver de bancada o que nós devemos fazer no campo do jogo, a não-resignação só surtirá efeito se for vivida na serenidade em «aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que posso, sabedoria para distinguir umas das outras» -- como se diz a oração da serenidade dos Alcoólicos Anónimos.
Quando tantos barafustam e querem fazer da agressividade uma nova atitude política, é urgente compreender o desafio da serenidade.
Quando tantos se abespinham contra tudo e contra todos, mas não são capazes de deixar cair as suas regalias em favor dos mais desafavorecidos, é fundamental entender a serenidade como atitude cívica e moral.
Cremos que é chegada a hora de sabermos unir e condimentar a não-resignação com estes três ingredientes – civismo, coragem e serenidade – sabiamente colocados pelo PR na sua mensagem de Ano novo. Queira Deus que, o ano de 2012, seja digno da confiança que nele depositamos!
António Sílvio Couto
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