DAR RAZÕES DA PRÓPRIA FÉ


“...FRUTO DA TRANSMISSÃO DA FÉ E DO ANÚNCIO DO EVANGELHO, QUE EM PRIMEIRO LUGAR NÃO DEIXA DE RENOVAR OS CRISTÃOS, AS SUAS COMUNIDADES, AO MESMO TEMPO QUE LEVA AO MUNDO O TESTEMUNHO DA FÉ CRISTÔ.

Na missão de anunciar e de transmitir a fé que compete a todo o cristão é prioridade da Igreja no dever de despertar a identidade batismal de cada um, para que saiba ser verdadeiro testemunho do Evangelho e saiba dar razão da própria fé. Todos os fiéis, em força do sacerdócio comum e da sua participação na função profética de Cristo, estão plenamente envolvidos nesta missão da Igreja. 

Aos fiéis leigos toca, em particular, testemunhar o modo como a fé cristã constitui uma resposta aos problemas existenciais que a vida coloca em cada tempo e em cada cultura e que, por isso, interessa a todo o ser humano, mesmo agnóstico ou não crente.

 Isto será possível se superar o espaço entre o Evangelho e a vida, reconstruindo na cotidiana atividade da família, do trabalho e da sociedade a unidade de uma vida que encontra no Evangelho a inspiração e a força para realizar-se em plenitude.

É necessário que cada cristão sinta-se interpelado por esta tarefa que a identidade batismal lhe confia, que se deixe guiar pelo Espírito, segundo a própria vocação, na resposta a tal missão. Num tempo em que a escolha da fé e do seguimento de Cristo é menos acessível e pouco compreensível pelo mundo, senão mesmo contrastada e hostilizada, aumenta a missão da comunidade e dos cristãos individuais em serem testemunhas do Evangelho. A lógica de semelhante comportamento é sugerida pelo apóstolo Pedro quando nos convida a darmos razões, a responder a quem nos pede razões da esperança que está em nós (cf. 1 Pe 3, 15). Uma nova estação para o testemunho da nossa fé, novas formas de resposta (apo-logia) a quem nos pede, a razão da nossa fé, são as estradas que o Espírito indica às nossas comunidades cristãs. Isto serve para nos renovarmos a nós mesmos, para tornar presente de modo mais incisivo no mundo em que vivemos a esperança e a salvação que nos deu Jesus Cristo. Trata-se de aprender um novo estilo, de responder “com mansidão e respeito, com uma reta consciência” (1 Pe 3, 16). É um convite a viver com aquela força suave que nos vem da nossa identidade de filhos de Deus, da união com Cristo no Espírito, da novidade que esta união gerou em nós, e com aquela determinação de quem sabe ter como meta o encontro com Deus Pai no seu Reino.

Este estilo deve ser integral, que abrace o pensamento e a ação, os comportamentos pessoais e o testemunho público, a vida interna das nossas comunidades e o seu zelo missionário. Assim se confirma a atenção educativa e a dedicação primorosa aos pobres, a capacidade de cada cristão em tomar a palavra nos ambientes onde vive e trabalha para comunicar o dom cristão da esperança. 

Este estilo deve fazer seu o ardor, a confiança e a liberdade de palavra que se manifestavam na pregação dos Apóstolos (cf. Act 4, 31; 9, 27-28). É este o estilo que coloca cada um de nós em jogo, como nos recorda Paulo VI: “ao lado da proclamação geral para todos do Evangelho, uma outra forma da sua transmissão, de pessoa a pessoa, continua a ser válida e importante. [...] Importaria, pois, que a urgência de anunciar a Boa Nova às multidões de homens, nunca fizesse esquecer esta forma de anúncio, pela qual a consciência pessoal de um homem é atingida, tocada por uma palavra realmente extraordinária que ele recebe de outro”.

Nesta perspectiva, o convite que nos foi endereçado no Ano da Fé a uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo, é uma oportunidade para aproveitarmos ao máximo, de modo a que cada comunidade cristã, cada batizado, possa ser o ramo que, levando fruto, é podado “para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 2); e possa assim enriquecer o mundo e a vida dos homens com os dons da vida nova plasmada na radical novidade da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afetos, a mentalidade e o comportamento do homem são lentamente purificados e transformados, num caminho nunca terminado plenamente nesta vida. 

A “fé que atua pelo amor” (Gal 5, 6) transforma-se num novo critério de inteligência e de ação que muda toda a vida do Homem (cf. Ef4, 20-29), trazendo novos frutos.

Os frutos que esta transformação, apenas possível graças à vida de fé, gera no seio da Igreja como sinal da força vivificante do Evangelho ganham forma no confronto com os desafios do nosso tempo. As respostas indicam, do seguinte modo, esses frutos: famílias que são um verdadeiro sinal de amor, de partilha e de esperança aberta à vida; comunidades dotadas de um verdadeiro espírito ecumênico; a coragem de apoiar iniciativas de justiça social e solidariedade; a alegria de oferecer a própria vida seguindo uma vocação ou uma consagração. A Igreja, que transmite a sua fé na nova evangelização, em todos estes ambientes mostra o Espírito que a guia e transfigura a história.

Tal como a fé se manifesta na caridade, assim a caridade sem a fé seria filantropia. Fé e caridade, no cristão, exigem-se à partida, dado que uma sustenta a outra. Em várias respostas, sublinhou-se o valor testemunhal de muitos cristãos que dedicam a sua vida com amor a quem está só, marginalizado ou excluído, porque precisamente nestas pessoas reflete-se o rosto de Cristo. Graças à fé, podemos reconhecer em quantos pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40). É a fé que permite reconhecer Cristo; é o seu amor que impele a socorrê-lo todas as vezes que se faz nosso próximo no caminho da vida.

Sustentados pela fé, olhamos com esperança para o nosso compromisso com o mundo, na espera de “novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça” (2 Pe 3, 13). É o mesmo compromisso evangelizador a pedir-nos, como dizia Paulo VI, “de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação”. Muitas respostas pediam que se exortassem todos os batizados a viverem com maior dedicação a tarefa específica de evangelizar, mesmo através da Doutrina Social da Igreja, vivendo a sua fé no mundo, procurando o verdadeiro bem de todos, no respeito e na promoção da dignidade de cada pessoa, até intervir diretamente – particularmente os fieis leigos – na ação social e política.

A caridade é a linguagem onde, na nova evangelização, mais do que em palavras, se exprimem obras de fraternidade, de proximidade e de ajuda às pessoas com necessidades espirituais e materiais.
Uma prova de fogo de tais caminhos é seguramente o diálogo interreligioso, que não pode ter como condição a renúncia ao tema da verdade, que é um valor conatural à experiência religiosa: a procura de Deus é o ato que qualifica, em última instância, a liberdade do homem. Esta procura, contudo, é verdadeiramente livre quando se abre à verdade, a qual não se impõe com a violência, mas graças à força atrativa da própria verdade. 

Como afirma o Concílio Vaticano II: “a verdade deve ser buscada pelo modo que convém à dignidade da pessoa humana e da sua natureza social, isto é, por meio de uma busca livre, com a ajuda do magistério ou ensino, da comunicação e do diálogo, com os quais os homens dão a conhecer uns aos outros a verdade que encontraram ou julgam ter encontrado, a fim de se ajudarem mutuamente na inquirição da verdade; uma vez conhecida esta, deve-se aderir a ela com um firme assentimento pessoal”. Espera-se que o Sínodo releia o tema da evangelização, da transmissão da fé, à luz do princípio evidenciado pela verdade-liberdade.

Por fim, faz parte desta lógica do reconhecimento dos frutos também a coragem de denunciar as infidelidades e os escândalos que emergem das comunidades cristãs, como um sinal e conseqüência de uma quebra de tensão nesta missão de anúncio. É necessária a coragem de reconhecer as culpas, ao mesmo tempo que se continua a testemunhar Jesus Cristo e a contínua necessidade de se ser salvo. Como nos ensina o apóstolo Paulo, podemos olhar para as nossas fraquezas porque, deste modo, reconhecemos o poder de Cristo que nos salva (cf. 2 Cor 12, 9; Rm 7, 14s). A prática da penitência como conversão leva à purificação e à reparação das conseqüências dos erros, na certeza que a esperança que nos foi dada “não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5). Tais perspectivas são fruto da transmissão da fé e do anúncio do Evangelho, que em primeiro lugar não deixa de renovar os cristãos, as suas comunidades, ao mesmo tempo que leva ao mundo o testemunho da fé cristã.

XIII ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

A NOVA EVANGELIZAÇÃO
PARA A TRANSMISSÃO DA FÉ CRISTÃ
INSTRUMENTUM LABORIS
Cidade do Vaticano
2012



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Educar para a Comunhão dos Santos


Gosto do tema Comunhão dos Santos. Sim, é o meu preferido! A ideia de nunca e em tempo algum se estar sozinho e isolado, mas ao contrário: sempre em companhia e, mais impressionantemente, sempre tendo os talentos de sua companhia agindo em seu favor, quase como se tais dons nos fossem emprestados, dados mesmo, bastando para isso nosso querer.
É uma realidade belíssima! Provavelmente passa por ela a cura para nossos dias, quando tudo se desmancha no ar… Tudo, tudo. E, apesar disso, quantos de nós sabemos alguma coisa de valor sobre a Comunhão dos Santos? Nem sabemos muito, mas afirmamos sempre “creio na Comunhão dos Santos”. E cremos! Felizes somos. Cremos sem saber. Não faz mal… Mas se soubéssemos mesmo faríamos melhor, eu acho.
Posso falar por mim: não fui educado para a Comunhão dos Santos. E não me parece que educar nesse sentido seja algo difícil, sequer é uma novidade… O catolicismo é tão simples! É viver o Evangelho. Que por sua vez é viver a Comunhão dos Santos, desejo de Nosso Senhor.
Muito antigamente eu achava que estar na Comunhão dos Santos era poder contar com as orações de todos, especialmente com as orações de quem já está no Céu, com Nosso Senhor. Mas não é só isso! É, de fato, poder contar com os “bens” espirituais dos Santos. Já imaginou o que é poder contar com a persistência de cada um dos apóstolos como se fosse nossa? Nós podemos. Eles podem nos conceder. É “transmissível”.
É como ter livre acesso a um “arquivo” de graças recebidas por outros cristãos e assumi-las para si… Um arquivo que não é apenas lido, mas absorvido por nós! Enxertados em nós na medida em que estamos abertos à graça de Deus. É muito interessante! Eu acho.
E ainda assim somos fracos em tudo. Como pode ser? Tem alguma coisa errada… ;)
Talvez seja nossa mentalidade… Está tão definido em nossa consciência que, espiritualmente, só nos basta Deus. E, de fato, sim, só nos basta Deus. Mas Deus está também em seus santos. E se quisermos tudo de Deus, temos que querer as coisas onde ele está, temos que querer as pessoas onde ele está e mais ainda querer aquelas onde ele está infinitamente mais. Deus está em nós quando não estamos em pecado mortal… Vivemos, aqui na terra, sempre um “SE” diante de Deus: se não pecarmos, se não vacilarmos, se formos fiéis… Deus deseja estar em nós sempre, mas nosso se não o permite. E é assim mesmo enquanto estivermos aqui.
Mas nos santos Deus está sempre e em definitivo, pois neles não há mais pecado algum, não existe mais “se” para eles. E assim, desejar Deus por inteiro é desejar a Comunhão dos Santos pois lá está Deus, também.
Quanto tempo perdemos com uma mentalidade a respeito de um Deus fantasminha, tão invisível, tão fora do nosso alcance real, mas ainda assim perto de nós… Assim é claro que é complicado servir a Deus, pois ele pode ser qualquer coisa e fica a mercê da medida que quisermos dar a ele. E vamos dar medidas a Deus, pois é assim o processo de compreensão da nossa mente: por medidas, por quantificação, por exemplos visíveis.
Foi como Deus nos fez justamente para que nunca o perdêssemos enquanto pudéssemos medir a sua presença em todas as coisas onde ele está e que não podem lhe conter… Porque não é possível conter a Deus. Mas, certamente, é na Comunhão dos Santos que ele melhor se faz presente.



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Cristiada. Filme de 2012, completo.

Legendas em espanhol e em português. Possibilidade de download: link no final da postagem.

A fé cristã começou com o martírio. Nos nossos dias, a perseguição e a hostilidade à mensagem de Deus parecem cada vez mais intensas. Somos chamados a testemunhar nossa fé até mesmo com o sangue, para completarmos em nossa carne aquilo que faltou nas tribulações de Cristo (Col 1, 24). Assista "For Greater Glory", a história dos mártires mexicanos, e veja o exemplo de verdadeiros católicos que entregaram a própria vida pelo direito de adorar e anunciar Jesus Cristo. Este filme é completo e, está legendado em português e espanhol.



Em espanhol:


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Para assistir este filme com legenda em português clique aqui, mas lembrando que em português a qualidade é um pouco inferior. 

Em português

Servidor: Gloria.TV Arquivo: Mp4
Tamanho: 344.01 MB
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São Padre Pio e o seu dom da bilocação

Maria era uma das filhas espirituais de Padre Pio e certa vez contou: "Uma vez, durante a noite, eu estava rezando com meu irmão quando de repente ele se sentiu adormecido. Ele se levantou imediatamente por ter recebido um tapa. Percebeu que a mão que o bateu estava coberta com uma luva. Ele pensou que era a mão de Padre Pio e no dia seguinte perguntou a ele se havia dado-lhe um tapa. Padre Pio respondeu: "Este é o jeito certo de se rezar?" Com um tapa, Padre Pio o levantou chamando sua atenção para a oração."



Um oficial do Exército italiano foi para a sacristia e assistindo Padre Pio disse: "Sim, aqui está ele! Eu não estou errado!" Ele se aproximou de Padre Pio e se ajoelhou em frente a ele e chorando disse: "Padre, obrigado por me salvar de morte". Aquele homem contou para aquelas pessoas que estavam lá: "Eu era Capitão da Infantaria e um dia, no campo de batalha, em uma hora terrível não longe de mim, eu vi um frade que disse: "Senhor, fique longe desse lugar!" Eu fui para ele e assim que eu me movi um estouro de granada no mesmo lugar onde eu estava poucos segundos antes. Aquela granada abriu uma cratera. Eu me virei para achar o frade, mas ele não estava mais lá".



Padre Alberto que conheceu Padre Pio em 1917 contou: "Eu vi Padre Pio que se levantou em frente a uma janela enquanto eu estava olhando para a montanha. Eu cheguei para beijar a mão dele, mas ele notou minha presença. Eu notei que o braço dele estava rígido. Naquele momento eu ouvi que ele estava concedendo a absolvição a alguém. Depois de um tempo ele se sacudiu como se ele estivesse saindo de um sono. Ele me viu e me falou: "Você estava aqui, e eu não o notei!" Alguns dias depois um telegrama foi recebido de Torino (Itália). Naquele telegrama alguém agradeceu o superior do convento porque ele tinha enviado Padre Pio a Torino para ajudar uma pessoa que estava morrendo. Eu percebi que o homem estava morrendo no mesmo momento no qual Padre Pio estava o abençoando em San Giovanni Rotondo". Obviamente o superior do convento não tinha enviado Padre Pio a Torino.


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Diligência II - A necessidade da calma e reflexão

A mão que segura e governa as rédeas da atividade é a reflexão. Só quem pensa serenamente nos seus deveres, na maneira de conjugá-los, nas prioridades que entre eles deve estabelecer, nos passos necessários para executá-los, é que possui o governo da ação e do tempo. Esse saberá aproveitar diligentemente cada um dos seus dias, e não será uma marionete puxada aos solavancos pelas cordas do nervosismo e da imprevidência.

Uma atividade madura e eficaz exige - como a planta necessita da terra em que se enraíza - o solo fecundo da serenidade e da meditação. É preciso que aprendamos a parar e a perguntar-nos: Por que estou fazendo as coisas? Como é que as estou fazendo? Atiro-me cegamente numa correnteza de ocupações desordenadas? Estou fazendo realmente o que devo e do melhor modo?

Quando alguém se questiona assim, o impulso instintivo da preguiça será voltar à carga e repetir: "Não tenho tempo, não posso parar, não consigo um mínimo de tranquilidade, o tumulto das ocupações não me 'deixa' meditar..."

Na verdade, quem não nos deixa meditar é a preguiça. É mais fácil escorregar pelo tobogã da rotina, mesmo que seja uma rotina febril, do que ter a coragem de se enfrentar consigo próprio, agarrar com firmeza o leme da vida e controlar energicamente o rumo da navegação.

É por isso que a diligência pressupõe uma "atenção esmerada e cuidadosa" para "apreciar" o valor dos deveres a cumprir, e para os "escolher" conscientemente, "como fruto de uma reflexão atenta e ponderada".

O homem moderno é pobre em interioridade. A ação não lhe nasce de dentro. Medita pouco e quer abranger muito. Então é quase inevitável que num dado momento, talvez quando já chegou longe demais, se lhe tornem claras, como um soco na consciência, as palavras de Santo Agostinho: "Corres bem, mas fora do caminho".

Contaram-me certa vez a história de um homem de idade avançada, que dedicara a vida a uma brilhante atividade empresarial. Chegou a aposentadoria, e um dia - para matar o tempo - pegou no catecismo elementar de um de seus netinhos. Abriu a primeira página e começou a ler: "Quem é Deus?"... E depois: "Para que foi criado o homem? O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo...". Duas grossas lágrimas rolaram-lhe pela face: "- A minha vida foi vazia. Fiz muitas coisas, mas esqueci-me da única que valia a pena".

Talvez para que essa lição não fosse tardiamente aprendida é que Jesus dirigiu a Marta, em Betânia, aquela afetuosa censura: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada (Lc 10,39 ss).

E, qual era a melhor parte, que Jesus contrapunha ao ativismo inquieto de Marta e aos seus queixumes? Era a atitude de sua irmã Maria, tal como a descreve essa passagem do Evangelho de São Lucas: Maria, sentada aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra.

É evidente que Jesus não censura o trabalho de Marta - Ele que amou tanto o trabalho no lar de Nazaré -, nem sugere substituí-lo por uma pura passividade contemplativa. O que faz é marcar claramente a diferença que existe entre "muitas coisas" e "uma só coisa necessária".

A todos, Deus nos pede que façamos muitas coisas. Mas a única verdadeiramente necessária é que nos coloquemos sinceramente junto dEle - muitas vezes - e escutemos o que tem a dizer-nos.  Assim, as "muitas coisas" unificam-se em " uma só coisa": trabalhar cumprindo a Vontade de Deus.

Todos deveríamos ter, fossem quais fossem as nossas ocupações, uns minutos diários de calma e recolhimento para parar, pensar, orar e procurar enxergar o melhor modo - o que esteja mais de acordo com Deus - de organizarmos e realizarmos as nossas tarefas.

Francisco Faus, A Preguiça. São Paulo: Quadrante, 1993. pp. 28-30.

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"Experimentar a misericórdia divina."

Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Partindo, como sempre, da afirmação de que as bem-aventuranças são o auto-retrato de Cristo, também desta vez propomos imediatamente a pergunta: como Jesus viveu a misericórdia? O que a sua vida nos diz sobre esta bem-aventurança? Na Escritura sagrada, a palavra misericórdia se apresenta com dois significados fundamentais: o primeiro indica a atitude da parte mais forte (na aliança, Deus mesmo) para com a parte mais fraca e se expressa habitualmente no perdão das infidelidades e das culpas; o segundo indica a atitude para com a necessidade do outro e se expressa nas chamadas obras de misericórdia.(Neste segundo sentido, o termo se repete com frequência no livro de Tobias). Existe, por assim dizer, uma misericórdia do coração e uma misericórdia das mãos.
Na vida de Jesus resplandecem as duas formas. Ele reflete a misericórdia de Deus para com os pecadores, mas se comove também ante todos os sofrimentos e necessidades humanas, intervém para dar de comer a multidão, curar os enfermos, libertar os oprimidos. Deles o evangelista diz: "Tomou sobre si nossas fraquezas e carregou nossas enfermidades" (Mt 8,17). 

Em nossa bem-aventurança, o sentido que prevalece é certamente o primeiro, o perdão e da remissão dos pecados. Nós o deduzimos pela correspondencia entre a bem-aventurança e sua recompensa: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia", entende-se que é ante Deus, que perdoará seus pecados. A frase: "Sede misericordiosos como vosso Pai é misericórdioso", se explica imediatamente com "perdoai e sereis perdoados"(Lc 6,36-37).

É conhecida a acolhida que Jesus reserva aos pecadores no Evangelho e a oposição que isso lhe causou por parte dos defensores da lei, que o acusavam de ser "um comilão e beberrão, amigos de publicanos e pecadores" (Lc 7, 34). Uma das falas historicamente melhor testemunhadas de Jesus é: "Não vim para chamar os justos, mas os pecadores" (Mc 2,17). Sentindo-se por Ele acolhidos e não julgados, os pecadores o escutavam com agrado.

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Os fascistas de esquerda da política e da imprensa querem censurar a oposição, o jornalismo independente e o debate. É parte da guerra cultural para impor a sua pauta. Isso tem história e teoria


Já recomendei o livro algumas vezes e volto a fazê-lo. Leiam “Fascismo de Esquerda” (Editora Record), do jornalista americano Jonah Goldbergh. Ele evidencia como as esquerdas, nos EUA (lá, chamam-se “liberais” — não confundir com o “liberalismo” como doutrina do livre mercado), tentam cercear o debate, promovendo uma verdadeira guerra cultural — prática herdada de totalitarismos d’antanho — para silenciar o “inimigo”. Nos EUA, demonstra-o a campanha eleitoral em curso, essas forças são menos bem-sucedidas do que por aqui.
Li há pouco nos sites noticiosos que o presidente do PT, Rui Falcão, acusa o tucano José Serra de disseminar o “ódio” — nada menos! — na campanha eleitoral. O espantoso não é que diga isso, já que espero de Falcão rapinagens teóricas ainda mais grosseiras. O espantoso é que lhe deem trela e julguem que isso é notícia. Referindo-se ao julgamento do mensalão no Supremo, este senhor afirmou que tudo não passava de uma reação da “elite suja e reacionária”. Ele se referia apenas ao Poder Judiciário. Às vésperas da instalação da CPI do Cachoeira — da qual o PT e PMDB saíram correndo para não investigar a Delta e os “cachoeiras” de mais elevada estirpe que estão fora de Goiás —, o presidente do PT gravou um vídeo em que afirmou: “As bancadas do PT na Câmara e no Senado defendem uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão”. Estrelas do seu partido estão por aí a pregar uma “reação” — QUAL SERÁ? — ao Supremo. Eis Falcão! Um homem sem ódio no coração!
Guerra de valores

Vamos pensar um pouquinho. Quem é que se dedica já há anos — e cada vez com mais ênfase — a promover uma guerra de valores na sociedade entre “conservadores” e “progressistas”? Quem é que se empenha com dedicação a dividir a sociedade em vez de uni-la? Na ofensiva, o esquerdismo significa cotas raciais, integrar a cultura gay à cultura predominante, apagar da praça pública os símbolos do cristianismo e um sem-número de ambições explicitamente culturais. Isso que escrevi em negrito, caros leitores, é trecho do livro de Goldberg. Ele se refere aos EUA. Parece falar sobre o Brasil. Só troquei a palavra “liberalismo” (empregada pelo autor) por “esquerdismo” para não confundir os registros. Entre nós, “liberalismo” quer dizer necessariamente outra coisa.
Vejam o caso do tal kit gay. Não se trata, é evidente, de demonizar este ou aquele grupos ou de negar que possa haver manifestações de preconceito. Ocorre que, quando se escolhe fazer um kit como aquele, faz-se a opção por uma abordagem também política. Trata-se de uma escolha. Como tal, pode — e deve — estar submetida ao crivo crítico, às contraditas, aos argumentos contrários. Não para os “fascistas de esquerda”. Marcelo Coelho, articulista de Folha — de quem discordo quase sempre, mas em quem não tinha vislumbrado até agora o viés intolerante —, escreveu em seu blog o seguinte: “Se alguém acha errado isso, e julga poder tirar votos de Haddad falando do ‘kit gay’ sem ter visto os vídeos, está cometendo um ato de desumanidade e sordidez.” Logo, só é possível dar provas de humanidade e decência concordando com Coelho e com os defensores do kit gay.
Alguém poderia, julgando apressadamente que me pegou, observar: “Calma lá, Reinaldo! Ele está se referindo às pessoas que condenaram os filmes sem ver…” Pois é. E se eu lhes disser que a coisa fica ainda pior? Coelho está tão certo de que não se pode pensar o contrário do que ele pensa e, ainda assim, ser humano e decente que não conta com a possibilidade de que alguém possa ver os filmes e reprová-los. Para ele, assistir aos vídeos implica necessariamente aprová-los, sob pena de a pessoa ser excomungada do mundo dos humanos e decentes.
Chamam a isso tolerância e democracia.
Quem é que está sempre no ataque quando o assunto é a guerra cultural? São os ditos “conservadores”? Acho que não… Quando, depois de aprovar cotas raciais obrigatórias nas universidades federais, a presidente Dilma demonstra a disposição de fazer o mesmo com o funcionalismo público, cumpre perguntar: é para unir a sociedade brasileira que ela o faz? Não é preciso ser muito esperto (bastam algumas sinapses do nível Massinha I de Lógica Elementar) para vislumbrar que o próprio conceito da representação democrática — um homem, um voto — passou a correr risco. Afinal, nada mais justo, então, do que exigir que a maior de todas as representações democráticas, o Congresso, passe a espelhar a dita composição racial da sociedade brasileira — como se raça existisse… O mesmo espírito de porco que seria tentado a me pegar acima poderia se manifestar de novo: “Ora, Reinaldo, se cada um votasse em alguém da sua cor, teríamos a relação um homem/um voto do mesmo modo”. Ainda que isso não implicasse questões bem mais complexas num sistema proporcional como o nosso, notem que a vontade do eleitor teria sido suprimida, uma vez que ele estaria obrigado a votar em alguém pertencente a seu grupo. Imaginem filas de negros para votar em urnas de candidatos negros; de brancos, em candidatos brancos e assim por diante…
Não ocorre aos fascistas de esquerda que aqueles a que chamam “conservadores”, “reacionários” ou “direitistas” têm um outro conteúdo e uma outra pauta, legitimados pela pluralidade democrática, para a luta por justiça, por exemplo. Em que cânone, ditado pelos Céus, está escrito que o combate ao preconceito contra homossexuais, mulheres ou negros passa necessariamente pela agenda dos grupos militantes? Que determinação da natureza nos informa que a afirmação de identidade é o melhor caminho da integração, especialmente quando a concessão de um direito a uma dita minoria pode implicar a supressão de direitos que são universais — como a efetiva igualdade perante a lei, por exemplo?
Isso tem teoria

A cultura liberal brasileira é frágil — refiro-me ao liberalismo propriamente, aquele do livre mercado e dos direitos individuais. As vozes hegemônicas hoje da política são herdeiras, bem ou mal, do marxismo, ainda que possam estar distantes da teoria; em muitos casos, há mesmo ignorância de causa, repetindo conteúdos cuja origem ignoram. Os marxistas há muito desistiram do socialismo, como se sabe, mas não da perspectiva autoritária da engenharia social.
Se vocês recorrerem ao arquivo, encontrarão dezenas de textos em que trato de Gramsci, o mais importante teórico, na modernidade, da guerra cultural. Os espaços de debate, inclusive os da imprensa, foram sendo paulatinamente ocupados pelos militantes da tal “agenda progressista”. Chamam de diversidade e de progresso social a imposição de sua agenda.
De volta à religião

O que mais mobiliza a reação de alguns boçais nas redações é o fato de a crítica ao kit gay — como era a crítica à descriminação do aborto — ter, sim, um fundamento religioso. E por que não poderia? “Porque o estado é laico”, poderia responder alguém. É verdade! Por laico, então está obrigado a tolerar as críticas dos religiosos — ou estaríamos falando de um estado fundamentalista ateu, que consideraria ilegítima qualquer restrição de natureza religiosa.
Note-se que a grita havida em 2010 contra as críticas que católicos dirigiam a Dilma por causa de sua opinião favorável ao aborto estava menos relacionada ao suposto direito de escolha da mulher do que ao fato de que a raiz da restrição era religiosa. Entenderam o ponto? Os esquerdistas pró-aborto estavam menos preocupados em garantir o que chamavam de “um direito da mulher” do que em calar a boca dos crentes. Fenômeno semelhante de vê agora com o kit gay. Querem saber? Esses fascistas de esquerda não estão nem aí para os direitos dos homossexuais. Eles querem mesmo é calar os cristãos — é isso que não toleram.
Mas chamam a isso democracia e tolerância.
E, nesse caso, é preciso, sim, recuperar um pouco da história. Reproduzo um trecho de “O Fascismo de Esquerda”. Goldberg lembra que Hitler era furiosamente anticristão. Leiam. Volto para encerrar.
(…)

Sob o poder progressista, o Deus cristão havia sido transformado num oficial ariano da SS tendo Hitler como seu braço direito. Os chamados pastores cristãos alemães pregavam que “assim como Jesus havia liberado a humanidade do pecado e do inferno, Hitler salva o Volk alemão da decadência”. Em abril de 1933, o Congresso Nazista de Cristãos Alemães deliberou que todas as igrejas deveriam catequizar que “Deus me criou como um alemão; o germanismo é uma dádiva de Deus. Deus quer que eu lute pela Alemanha. O serviço militar de forma alguma ofende a consciência cristã, mas é obediência a Deus”
Quando alguns bispos protestantes visitaram o Führe rpara registrar queixas, a fúria de Hitler chegou ao extremo. “O cristianismo desaparecerá da Alemanha assim como aconteceu na Rússia… A raça alemã existiu sem cristianismo durante milhares de anos… e continuará depois que o cristianismo tiver desaparecido… Precisamos nos acostumar com os ensinamentos de sangue e raça.” Quando os bispos fizeram objeções a apoiar os propósitos seculares do nazismo, e não apenas suas inovações religiosas, Hitler explodiu: “Vocês são traidores do Volk. Inimigos da Vaterland e destruidores da Alemanha”
Em 1935, foi abolida a prece obrigatória nas escolas e, em 1938, cânticos e peças de Natal foram totalmente proibidos. Em 1941, a instrução religiosa para crianças acima de 14 anos havia sido completamente abolida, e o jacobinismo reinava supremo. Uma canção da Juventude Hitlerista ecoava nos acampamentos:
Somos a alegre Juventude Hitlerista.

Não precisamos de virtudes cristãs,

Pois Adolf Hitler é nosso intercessor

E nosso redentor.

Nenhum padre, ninguém maléfico

Pode nos impedir de nos sentirmos

Como filhos de Hitler.

A nenhum cristo seguimos,

Mas a Horst Wessel!

Foram com incensos e pias de água benta!

Encerro

O que vai acima faria muitos de nossos supostos militantes do laicismo babar de satisfação, não é mesmo? Afinal, estamos no país em que uma ministra de Estado (Marta Suplicy), que ganhou o cargo na boca da urna como paga por sua adesão a uma campanha eleitoral, decretou que Lula, que não tem vocação para Cristo, é o próprio Deus.
Os fascistas de esquerda estão assanhados. Ou você está com eles, ou eles decretam que você é desumano e sórdido. E nós sabemos o que eles fazem com desumanos e sórdidos, não é? O ataque organizado a cristãos, católicos e evangélicos, sob a pele de suposto progressismo e de amor à tolerância, é só obscurantismo e fascismo. De esquerda, sim! Como é, em essência, qualquer fascismo.



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Os fascistas de esquerda da política e da imprensa querem censurar a oposição, o jornalismo independente e o debate. É parte da guerra cultural para impor a sua pauta. Isso tem história e teoria

A Noção Católica de Beleza




Foi durante o Renascimento que, pela primeira vez o "artesão" se diferenciou do "artista plástico" (por exemplo, Michelangelo, Da Vinci e Rafael). O artista plástico era agora reconhecido como o formador do "belo" em vez de o artesão ou artífice, que era dedicado a fazer o que poderia ser usado por aqueles que tinham um trabalho a fazer. A "beleza" e suas leis tornaram-se domínio exclusivo do pintor, escultor ou músico.

De lá para cá, temos experimentado uma progressiva diminuição, um estreitamento, um enfraquecimento do conceito de "belo". Na verdade, a única vez que a palavra é usada hoje em dia, principalmente por mulheres, raramente por homens, é para descrever coisas para as quais não há outra palavra adequada na mente quando estão agarrando algo que é colorido, polido e brilhante.

Ao contrário do que possamos pensar em primeiro lugar, os artistas plásticos do Renascimento não ampliaram os espaços para as expressões do "belo". Na verdade, a atenção que estes artistas deram a "beleza", tornando-a algo a ser buscado estritamente por ela mesma fez com que o belo fosse cada vez mais regulado enquanto ia sendo "permitido" a emergir. A beleza, como no caso das pinturas de Da Vinci, teve de se expressar de acordo com as leis matemáticas da natureza (por exemplo, o equilíbrio matemático em seu A Última Ceia). Mesmo que Michelangelo tenha se rebelado contra esta escravidão do olhar artístico e da imaginação às leis matemáticas de proporção, ele ainda contribuiu para a exclusividade do belo, insistindo sobre a capacidade única do artista plástico ter insights sobre as formas latentes no material "informe" da matéria (por exemplo, um bloco de mármore não formado). Como ele afirma: "o maior artista não tem noção que um único bloco de mármore não contém potencialmente sua massa, mas apenas uma mão obediente à mente pode penetrar nesta imagem." 1

Depois de ver a busca da “beleza” primeiramente relegada à elite artística e aos círculos intelectuais Neo-platônicos, o Romantismo dos séculos XVIII e XIX enclausurou a "beleza" dentro do "momento" da experiência artística perseguida e possuída pelo apreciador da arte - o esteta. Soren Kierkegaard identificou esse tipo de homem como aquele que não avalia as ações, situações ou escolhas em termos de "bom" e "mau", mas sim em termos de "belo" e "feio". Sua busca na vida era conseguir experiências estéticas que poderiam ser capturadas e inseridas dentro do belo momento. A vida do esteta era um acumular-se de "momentos maravilhosos". A partir de agora, "o belo" foi colocado na categoria do subjetivo. Ao invés de ser um atributo real de coisas concretas existentes, "a beleza estava nos olhos do observador" e, para ser uma experiência válida, precisava ser anexada a uma sensação subjetiva de contentamento.

O gradual sequestro do "belo" pela elite artística e literária terminou quando essa mesma elite rejeitou violentamente o conceito de "belo" como a imposição de um padrão objetivo sobre a autonomia da mente artística, portanto, oprimindo a mente e reprimindo a originalidade e a escolha subjetiva do artista, por exemplo, no Dadaísmo [ver "Splendor of Form: Catholic Aesthetics” The Angelus, Julho, 1996, 2-9-Ed.] e Surrealismo. Desde o exílio de beleza no século passado pelas elites artísticas, ela vagueou para o reino do piegas, do sentimental, e do "agradável" [a]. Este conceito de Beleza não pode se mover, conduzir ou dominar.

Tudo é "Belo"?

Santo Tomás de Aquino diz em seu Commentary on the Divine Names [Comentário Sobre os Nomes Divinos] (IV, 5): "Não há nada que não participe do belo". Que mundo de diferença entre nossa concepção moderna e banal do belo e a riqueza de Santo Tomás de Aquino. A parte de sua frase "Não há nada..." é a ideia clássica grega de pankalia, o entendimento de que tudo que é bonito. Em outras palavras, "Ser é ser belo". Aqui devemos fazer uma distinção muito importante entre "seres" e "ser" para que possamos compreender o significado e a intenção da atribuição de Santo Tomás da beleza para toda a realidade criada e incriada.

Considerando os seres (por exemplo, cães, sapos, nuvens, arco-íris) eles podem ter atributos ligados a eles que indicam suas qualidades (por exemplo, "Fifi o cão é vicioso.": Fifi é compreendido como tendo a característica de ser vicioso), tais características não poderiam ser usadas para qualificar e distinguir 'ser". '1 '1 Ser é o atributo fundamental de todas as coisas que existem. Como "ser" tem um alcance universal, não pode ser descrito de uma forma que o restrinja (por exemplo, "doce", "faminto", ou "cansado"). Em um dia bom, Fifi pode ser "doce", mas o "ser" em que Fifi participa não pode ser "doce". É imediatamente evidente que, enquanto podemos dizer , "Fifi é doce", é absurdo dizer: "Ser é doce." Entendemos que o predicado deve ser mais abrangente do que o sujeito. "Doçura" pode aplicar-se a mais coisas do que Fifi. Considerando que se dizemos "Ser é doce" estaríamos dizendo que "coisas doces" superam essas coisas que existem e, portanto, têm ser. Isso seria um absurdo!

Mesmo que ser não seja doce, ou suave, ou redondo, podemos dizer com sinceridade que ser é belo e, portanto, que tudo o que tem de ser (ou seja, tudo o que é) também tem beleza? Se dissermos que sim, há três consequências muito importantes a seguir: 1) Se Deus é o maior exemplo de ser - na verdade, se Deus é Ser-Si Mesmo e tudo o que significa "ser" -, então Deus teria uma nova qualidade, que poderia ser eminentemente aplicada a Ele, ou seja, Beleza. 2) O universo dos seres iria adquirir uma nova perfeição, colocando para descansar a proposição niilista que diz que o universo, em si, é sem sentido e sem valor objetivo. Assim como não há nada ontologicamente mau (isto é, o mal nas raízes do seu ser), assim também as aparentes deformidades e dissonâncias no universo seriam resolvidas dentro de uma beleza resplandecente que brilhou na medida em que ficou diante do nada. 3) A perfeição da beleza em si adquiriria uma nova dignidade e objetividade, que não teria se existisse simplesmente "no olho do observador." Isto é muito importante se queremos fundamentar nossa descrição das coisas como "belas". Se os defensores da antiga Fé e Tradição devem defender a conexão intrínseca entre a arte e "o belo” - se quisermos refutar aqueles que apagam e acendem as luzes em salas vazias insistindo que isso se aplica ao seu padrão de "o belo"- devemos ser capazes de relacionar racionalmente a aparência do belo, do qual todos os homens são conscientes, a algum exemplar que revele, de forma racionalmente acessível e manifesta, o esboço do que constitui o belo.

Santo Tomás e os Nomes Divinos

O lugar nos escritos de Santo Tomás, onde ele trata diretamente toda a questão do "belo" está em seu Comentário Sobre os Nomes Divinos. O texto Os Nomes Divinos foi produzido por um monge sírio do século V conhecido como Pseudo-Dionísio. É no capítulo  4 deste texto intitulado "Sobre o Bem, Beleza, Luz, Eros, Êxtase, e Zelo", que Pseudo-Dionísio apresenta o reino do ser como uma hierarquia de bondade e de ser. Nesta hierarquia, o grau de perfeição de uma coisa depende de seu grau de participação nas qualidades possuídas (em uma maneira proeminente) pelo ser mais perfeito, isto é, Deus. Assim como a bondade e o ser pertencem a Deus e às criaturas, de uma maneira bem diferente, assim também a propriedade da beleza pertence a Deus e às criaturas, de uma maneira bem diferente. As palavras que Santo Tomás e Pseudo-Dionísio usam para descrever a beleza de Deus excluem qualquer compreensão do belo como uma forma de mera "beleza". Deus é "ser supersubstancial" e beleza "além do ser". Quando nós predicamos a qualidade da beleza de Deus, no entanto, estamos diante de uma dificuldade filosófica, que transcende a mera estética e beira o reino da metafísica. Como pode Deus e suas criaturas ser "belos", se um é auto-suficiente, ser infinito, eterno, e o outro é contingente, limitado, e em constante mudança? Estamos falando de uma maneira completamente equivocada quando aplicamos o termo "beleza" aos dois simultaneamente?

A resposta a esta questão é, naturalmente, não. Mas como a "beleza" de cada um é semelhante? Este problema filosófico só é agravado pelo fato de que, enquanto a experiência mais imediata do belo que o homem tem é o que ele experimenta com seus próprios olhos, Deus é invisível e tem em Si Mesmo nenhum contorno, nem forma, nem proporção, nem unidade de partes, os elementos que normalmente constituem a beleza de uma coisa. Como pode a beleza de Deus se assemelhar de algum modo ao esplendor sensível das formas visíveis, que tanto atraem a nossa consciência visual? A maneira mais óbvia em que podemos descobrir esta propriedade compartilhada do belo é, reconhecendo o fato básico de que a Beleza de Um é a fonte da beleza de todo o resto. Como São Tomás afirma em seu Comentário Sobre os Nomes Divinos (1,2):

Tudo o que existe vem da beleza e bondade, que são de Deus, a partir de um princípio efetivo. E todas as coisas têm o seu ser na beleza e na bondade, e as deseja como seu fim... E todas as coisas são e todas as coisas tornam-se por causa da beleza e da bondade, e todas as coisas buscam por elas, como a uma causa exemplar, que possuem como uma regra que rege suas atividades.

Aqui podemos fazer a conexão entre as nossas considerações anteriores, em que mencionamos a ideia grega antiga e medieval que tudo é belo na medida em que é, e a beleza super-eminente de Deus, Deus como Beleza-Em Si. Tudo o que existe possui beleza na medida em que sai da mão criadora de Deus. Todas as coisas são geradas na beleza. É a marca formal que o Criador coloca em todas as coisas, trazendo assim ordem e harmonia a todas as coisas, do íntimo do seu ser até a mais "superficial" das aparências externas. Para a ordem criada, todas as coisas estão reunidas em comunidade e plenitude pela beleza. Citando Santo Tomás: "É sempre assim que as criaturas que possam estar em vias de entrar em comunhão e de se unir, elas tem isso devido ao poder da beleza." 2

Não só as criaturas vêm da Beleza Divina, mas também estão motivadas para voltar à Beleza Divina pela atração da Perfeição Divina. É só Deus, perfeitamente proporcionado, perfeitamente integral, e superabundantemente radiante, que pode imprimir ordem em tudo o que Ele cria. Nada pode escapar a esta forma interior caracterizando todas as coisas. Quando o homem conforma seus atos morais à forma interior impressa nele por Deus, podemos ver a relação óbvia entre o "belo" e o racional.

Os três critérios do Belo

Como pode esse entendimento metafísico (isto é, ostensivamente "abstrato") do "belo" se relacionar com as coisas bonitas que encontramos continuamente em momentos ainda mais imediatos e apreciativos? Como pode a beleza de Deus se assemelhar, de alguma forma, a beleza de uma vasta paisagem iluminada pelo sol ou o rosto de um filho amado? Além disso, como podemos relacionar a beleza metafísica de todas as coisas que são aos corpos proporcionados e brilhantes que atraem a nossa atenção visual e psicológica?
A fim de discernir as conexões entre esses vários aspectos da beleza, devemos considerar os critérios [isto é, normas para julgar algo – Nota do Editor] pelos quais os antigos julgavam se algo que viram ou ouviram era belo ou não.

Antes de considerarmos os três critérios de 1) proporção correta, 2) integridade e 3) "clareza", é preciso identificar o fato básico da experiência que nos leva ao nosso reconhecimento corporal humano do belo. Santo Tomás expressa este fato experiencial como "Diz-se que Belo é aquilo que quando visto agrada." Tal facilidade e naturalidade em lidar com as realidades da existência humana é característica de Santo Tomás. Ele faz essas declarações "comuns" como: “... nós chamamos as coisas de belas quando elas são coloridas". Santo Tomás não só revela para nós o reconhecimento de que os homens de sua época tinham pela cor simples e brilhosa, tons cálidos e iluminações brilhantes, ele também refuta aqueles que acusam a mente Medieval Católica de ser grosseira e de relegar a beleza para o domínio da abstração metafísica, afirma a concretude do belo e o imediatismo de sua atratividade para os olhos. Nós, modernos, que nos orgulhamos de nossa "atenção ao mundo real", temos dificuldade em apreciar a naturalidade e a alegria que caracterizam a declaração de Santo Tomás:

Produtos de beleza ou formosura surgem quando a claridade e a devida proporção andam juntas. Então, a beleza do corpo consiste no fato de que uma pessoa tem membros bem proporcionados, juntamente com uma certa clareza necessária de cor.3

São as qualidades de proporção correta (isto é, a relação de adequação das partes umas às outras), integridade (isto é, a relação entre as partes e a unidade do conjunto), e clareza ou esplendor (isto é, a cor radiante e uniforme) que são tão "adequadas" aos poderes conhecidos e desejados do homem que há um profundo contentamento gerado na alma humana quando um objeto de beleza é encontrado. Tal contentamento e prazer indica que há alguma conaturalidade que caracteriza o encontro entre a forma esplêndida e a apreciativa e receptiva mente humana. Como Santo Tomás afirma, a bela forma "apazigua" o apetite racional 4, é um ato extático que deixa a o interesse próprio e o conceito perverso para trás no jeito arrebatador da forma e ordem que marcam "o belo". Ela traz paz e contentamento à alma por que o homem tem atração pelo que está de acordo com a perfeição na Mente Divina da qual ele também saiu. O olhar momentâneo que "captura" a beleza e o esplendor de uma forma visível dela se afasta com lágrimas de alegria a fim de que ela fique residindo em forma perfeita libertando o coração, incentivando o homem a buscar o que ainda não pode ser alcançado. É um anseio tranquilo, choroso, pelo paraíso perdido ou pela visão celeste ainda a ser adquirida.

Mas o que é mais animador para nós viajantes do que as lágrimas é o fruto do "belo". Estas são lágrimas de esperança, pois nenhum homem chora por aquilo pelo qual ele está em desespero. Talvez possamos dizer então que quando a beleza e as lágrimas se encontram a essência de nossas vidas humanas é expressa.

A beleza do Filho

Não é sem razão que Santo Tomás trata mais amplamente os três critérios para julgar a beleza das coisas em um artigo na Summa Theologica dedicado à pergunta: "Os Santos Doutores Atribuíram Corretamente os Atributos Essenciais a Cada uma das Pessoas Divinas?" No decorrer deste artigo sobre a "atribuição" das qualidades de cada uma das Pessoas divinas, Santo Tomás afirma que a beleza é uma qualidade que é mais adequadamente atribuída a Deus Filho. O Filho é a beleza de Deus, Ele é Beleza-Em Si.

Ao aplicar o critério da proporção correta a Deus Filho, Santo Tomás indica que não estamos a pensar na proporção correta somente em termos de forma simétrica das partes, mas também num sentido mais profundo, mais intelectual... No Filho encontramos "clareza" no mais alto grau, porque Ele é uma imagem clara do Pai. Além disso, podemos encontrar proporção exemplar em Deus por causa da perfeita harmonia que existe entre o Seu Intelecto e Sua Vontade. Deus é, portanto, "corretamente proporcionado" em um grau preeminente.

Integridade é também aplicável em uma forma preeminente a Deus Filho. Santo Tomás diz que o Filho possui integridade, porque Ele possui a natureza completa do Pai verdadeira e perfeitamente dentro de Si mesmo. Ele é substancialmente uno com o Pai, sem qualquer confusão de Pessoa. De acordo com Santo Tomás, a integridade da forma de uma coisa pode ser violada por falta ou por excesso. [As formas das coisas são como números. Qualquer mudança, qualquer adição ou subtração, confunde a natureza das espécies e a transforma em algo diferente. - nota do Editor] Uma coisa deve ser unificada, deve ser uma, a fim de ser realmente "bela”. O que é mutilado ou caracterizado por superfluidade é, por isso mesmo, distorcido e feio.

O Esplendor da Forma e do esplendor divino

De todos os três critérios para identificar o belo, a clareza foi o que mais seduziu as mentes dos Anciães. Ao tentar explicar o que eles queriam dizer com essa característica mais extraordinária e única do "lindo", eu ofereço palavras como "luminosidade", esplendor", "brilho", "clareza da forma", ou "ser colorido". Não se pode duvidar que a luz, brilho e luminosidade foram entendidos como sendo associados com a beleza. Na verdade, eles eram a expressão específica do objeto físico bem proporcionado e harmonioso. Santo Tomás afirma que Deus, o Filho pode ter atribuído a Ele clareza uma vez que Ele é a palavra inteligível do Pai, a "luz e esplendor da mente [Divina]."

O Filho de Deus, então, é uma imagem perfeita, uma entidade adequada à Sua própria natureza, harmoniosamente de acordo com o Pai, e resplandecente com uma expressiva vida porque Ele é a Palavra - que é profundamente racional, um splendor intellectus.6

É tarefa dos Católicos libertar a realidade da "beleza" das restrições artístico-artesanais que lhe são impostas por aqueles que achavam que podiam dominá-la. Como estamos bastante longe dos gregos que falavam regularmente do kaloskagathos, ou seja, o "homem belo e bom", a vitalidade do homem de excelência moral, a "beleza" de cujas virtudes brilharam através do decoro, da nobreza, e atraente vitalidade de suas ações. É tanta beleza, forma e clareza em cada homem ou mulher que põe abaixo todas as confusões desta terra, que podem trazer lágrimas aos nossos olhos e anseio de felicidade aos nossos corações.

Todo o esforço de uma cultura verdadeira e genuína é trazer o coração humano para esses momentos de transfixão. Nós estamos perfurados e "abertos" com a lança que só pode vir de uma Fonte divina e perfeita. Uma Fonte que não teme levar o homem à exaltação. Uma Fonte que não conhece inveja. Só pode ser do Verbo, nunca a luz do homem, Quem tem encorajado a carne com a divindade que podemos esperar com certeza a efusão de graça e verdade.

Original aqui.

O autor:

Dr. Peter E. Chojnowski tem uma licenciatura em Ciência Política e outra em Filosofia pelo Christendom College. Ele também recebeu seu diploma de mestrado e doutorado em Filosofia pela Universidade de Fordham. Ele e sua esposa, Kathleen, são pais de cinco filhos. Ele ensina para a Fraternidade São Pio X, na Immaculate Conception Academy, Post Falls, ID.
_______________
Notas:

1. Cf. Anthony Blunt, "Michelangelo's Views on Art" em Readings in Art History, vol. II, ed. Harold Spencer, p. 116.
2. Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre os Nomes Divinos, I, 2.
3. Santo Tomás de Aquino, Summa Theologica, I, Q.39, art. 8.
4. ST, I-II, Q.27, art. I, ad 3.
5. ST, I, Q.39, art. 8.
6. ST, I, Q.5, art. 5.
________________
Notas da tradutora:
[a] No original “pretty”, que muitas vezes é traduzido como “bonito”. Mas o sentido do termo é “agradável”, “adorável”, “atraente”. 

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A Noção Católica de Beleza

Exame de consciência


“DETESTAI O MAL, apegai-vos ao bem”, ensina São Paulo, em sua carta aos romanos (12, 9). Desde o princípio, a Igreja tinha esta consciência da importância do combate. A comunidade cristã deveria amar a Deus e ao próximo – como tinha ensinado nosso Senhor Jesus Cristo -, mas, ao mesmo tempo, e em decorrência deste amor ao sumo Bem, precisava cultivar um profundo ódio. Pelo mal e pelo pecado. Mais: a pregação apostólica pedia não só que o mal fosse detestado, mas também denunciado. É o que o mesmo São Paulo indica em sua carta aos fiéis de Éfeso: “Não tomeis parte nas obras estéreis das trevas, mas, pelo contrário, denunciai-as” (5, 11).
Neste sentido, é urgente que façamos um exame de consciência. Será que temos dado atenção às palavras do Apóstolo? Em nosso esforço para amar a Deus, temos detestado o mal? Em nossa vida apostólica, temos alertado as pessoas sobre o engano do pecado?
Se a nossa resposta para estes questionamentos for “não”, então estamos em dívida. Receosos de desagradar o mundo, muitos de nós temos pisado no Evangelho e zombado do Magistério da Igreja e das palavras do Papa.

Começa com um desejo de não “ferir os sentimentos” de ninguém. Os defensores do aborto chegam e mostram sua ideologia perversa; apesar de não assentirmos às suas ideias, vomitamos nossa covardia com um “o aborto é uma questão de saúde pública”. Os militantes homossexuais levantam a bandeira do casamento gay e fazem passeatas na Avenida Paulista; calamo-nos e deixamos que defequem suas imoralidades em nossas ruas, e quando perguntam qual a nossa opinião sobre o tema, limitamo-nos a um “cada um faz o que quiser da sua vida”.
A princípio, detestamos o mal. Mas, sem coragem para dizer isto dos telhados, e calados por uma mídia cada vez mais agressiva aos valores do Evangelho, vamos perdendo até mesmo a noção de bem e mal. Aderimos, lenta e gradativamente, a uma espécie de relativismo; e, então, passamos a integrar a grande massa religiosa que se diz católica, mas não vive sua fé; que se diz praticante, mas se restringe às Missas dominicais e a algumas novenas em tempos de dificuldade.
Muitos de nós andamos inertes, mas o nosso inimigo não dorme. Então, está na hora de acordar… O Cristianismo é a religião da paz, não do pacifismo. Se queremos a nossa salvação, e que “venha a nós o Reino de Deus”, como pedimos na oração do Pai-Nosso, é preciso que ajamos com violência, que lutemos contra os nossos pecados e “contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelo espaço” (Ef 6, 12). Não nos enganemos – é o próprio Cristo quem nos alerta: “o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12).
“Uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história da humanidade. (…) Inserido nesta batalha, o homem deve lutar sempre para aderir ao bem; não consegue alcançar a unidade interior senão com grandes labutas e o auxílio da graça de Deus” (Gaudium et Spes, 37). Este Ano da Fé é ocasião bastante propícia para que façamos renascer em nós a chama da fé e o espírito de obediência ao Sumo Pontífice; além de pedir a Deus a coragem e a valentia de soldados. O mal existe; sua ação no mundo é visível. Se queremos realmente vencer com Cristo, devemos entregar-nos ao máximo… e vencer o nosso respeito humano.

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Jesus reza ao Pai (Lc 10,17-24)


         
 Os setenta e dois discípulos que haviam sido enviados para anunciar o Reino de Deus, voltaram muito alegres e satisfeitos com o sucesso da missão, principalmente por terem expulsado demônios em nome de Jesus. E Jesus, por sua vez, também ficou muito alegre e satisfeito com isso, e fez mais uma oração espontânea.  Antes, porém, disse aos setenta e dois:   "Porém não fiquem alegres porque os espíritos maus lhes obedecem, mas sim porque o nome de cada um de vocês está escrito no céu."
        "Puxa, vida" fico pensando. Será que o meu nome também já está escrito no céu? Os nomes de todos os sacerdotes, eu sei que já estão. Mas, o meu, eu não sei já fiz por merecer. Sei que estou tentando anunciar o Reino de Deus, já há um bom tempo.
Em sua oração Jesus agradece ao Pai por ter mostrado os mistérios da fé aos humildes...
E nós? Em nossas orações o que falamos ao Pai em nome de Jesus?   Ou será que rezamos apenas um Pai Nosso e fazemos o sinal da cruz e já estamos roncando...
Na verdade, muita gente reza na hora de dormir. Mais ao levantar e durante o dia todo, não fala com Deus. E nós podemos falar com Deus a toda hora, em qualquer lugar porque  Deus é onipresente, isto é, Ele está de forma invisível em toda parte, como o ar que respiramos está de forma também invisível em toda parte em volta do Planeta Terra.
Como devemos rezar? Ora. As nossas orações devem começar com o sinal da cruz e pedidos de perdão. Ou rezamos o Ato de Contrição, ou simplesmente pedimos perdão mais de uma vez, por todos os nossos pecados daquele dia até aquele momento. Em seguida agradecemos todas as graças recebidas: A saúde, o alimento, o emprego, enfim, tudo o que recebemos de Deus.  Depois vamos pedir. Não só por nós, mais pelos outros. Parentes, amigos e inimigos. É, inimigos também. Foi Jesus quem disse que temos de rezar por eles. Pela sua conversão, e para que eles não nos façam nenhum mal. 
Não podemos relaxar nas nossas orações, que não deve ser somente ao levantar, e ao deitar. Em todo momento podemos e devemos estar com o nosso pensamento sintonizado em Deus.  Isso, porque, se o cristão principalmente o padre, o catequista e todo aquele engajado na linha de frente da Igreja não rezar, tudo, mais cedo ou mais tarde vai por água abaixo. Já vivenciei a triste realidade de alguns padres que largaram a batina, simplesmente porque não tinha tempo ou não arrumavam tempo para rezar. Por falar nisso, está na hora de rezar. Pai Nosso ...

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Mãos vazias

Eis o que desejo, Senhor: chegar diante de Vós com minhas mãos vazias. Nada de virtudes, nada de trabalhos, nenhuma honra nas quais possa apoiar-me, desdenhando de Vossa Graça. Nada pretendo que possa dizer propriamente “meu”, para que diante do Justo Juiz, meu tudo sejais Vós. Como aquela viúva louvada no Evangelho (Mc 12,42ss), não quero guardar nada para mim. Dar-vos-ei primeiro o que posso; e depois implorarei a força para dar também o que não posso; dar-vos-ei o supérfluo, mas também, por Vós, meu Senhor, abro mão do necessário. Nada para mim.
Meu tempo é vosso tempo, Senhor; esses bens, que instam-me tão amiúdo, vossos na verdade. Não buscar garantias neste mundo, que tão mal remunera seus aduladores: isso pretendo, meu Deus. Deitar-vos-ei, na bolsa do Templo, não apenas o que tendes me dado todos esses anos; lançar-me-ei a mim mesmo, todo inteiro, como oferta de louvor.
Sede minha única segurança, Senhor, minha herança na terra que há vir. Desde agora, contudo, já não tenha outro tesouro, além de Vós. Meu coração exilado aguarda o dia em que reencontrará sua única recompensa, que é o Senhor. Nada tenho, nada quero, nada espero – mãos vazias; pois não tendo em que me fiar, Vós mesmo compadecer-Vos-á desse pobre. Não rejeitais um coração miserável, Senhor, e sendo de tudo privado, sei que ter-Vos-ei a meu lado. E tendo a Vós, já sacia-me nada; ao Vosso lado, acalanta-me coisa alguma.

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Joseph Ratzinger – Cristianismo e Moralidade

Sobre a flagrante superioridade moral dos personagens não-cristãos sobre os Patriarcas da fé: “Negar o ‘escândalo’ não faria aqui nenhum sentido. Antes, é justamente isso que possibilita o acesso para uma apreciação adequada da história das religiões: Abraão, Isaac e Jacó não são realmente ‘grandes personagens religiosas’. Deixar isso de lado seria deixar de lado o impulso que conduz ao caráter único e peculiar que a revelação bíblica possui. Esse caráter peculiar e totalmente diferente consiste no fato de que, na Bíblia, Deus não é contemplado, como ocorre com os grandes místicos, mas experimentado como o atuante que, além disso, para os olhos exteriores e interiores, permanece na obscuridade. E isso, por outro lado, acontece por que o homem aqui não atravessa as diversas camadas de seu ser e descobre Deus, em seu lugar próprio, no mais íntimo e espiritual, proém prevalece o contrário: Deus procura o homem no meio do mundo e das atividades mundanas e terranas, vai atrás do homem, entra em relação com ele”.

Fonte: RATZINGER, Joseph. Fé, Verdade e Tolerância. São Paulo: Inst. Bras. de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2007, p. 41.

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Para conhecer melhor a história de São João Maria Vianney

O futuro Cura d’Ars nasceu na pequena localidade de Dardilly, perto de Lyon, na França, no dia 8 de maio de 1786, de família de agricultores piedosos. Foi consagrado a Nossa Senhora no próprio dia do nascimento, data em que foi também batizado.
Sua instrução foi precária, pois passou a infância em pleno Terror da Revolução Francesa, com os sacerdotes perseguidos e as escolas fechadas. João Maria tinha 13 anos quando recebeu a Primeira Comunhão das mãos de um sacerdote “refratário” (que não tinha jurado a ímpia Constituição do Clero), durante o segundo Terror, em 1799.(1)
Com a subida de Napoleão e a Concordata com a Santa Sé, foi possível a João Maria iniciar seus estudos eclesiásticos aos 20 anos, terminando-os aos 29, depois de mil e uma contrariedades.
É impossível, nos limites de um artigo, abranger toda a vida apostólica do Cura d’Ars. Por isso limitar-me-ei a abordar um aspecto dela, que foi como transformou a pequena localidade de Ars de modo a tornar-se ponto de admiração de toda a França.
Ars ao tempo da chegada do santo
Quando o jovem sacerdote chegou a Ars, esta era um pequeno aglomerado de casas, contando apenas 250 habitantes, quase todos agricultores. Como a maior parte das localidades rurais da França, sacudidas durante 10 anos pelos vendavais da Revolução Francesa, encontrava-se em plena decadência religiosa. Vivia-se um paganismo prático formado de negligência, indiferentismo e esquecimento das práticas religiosas.
A cidadezinha de Ars assemelhava-se às paróquias vizinhas, não sendo nem melhor nem pior que elas. Havia nela um certo fundo religioso, mas com muito pouca piedade.
Como transformá-la num modelo de vida católica, ambição de São João Batista Vianney?
Santificando-se para santificar os outros
Primeiro, pela oração e pelos sacrifícios do vigário por suas ovelhas. Já no dia de sua chegada, o Padre Vianney deu o colchão a um pobre e deitou-se sobre uns sarmentos junto à parede, com um pedaço de madeira como travesseiro. Como a parede e o chão eram úmidos, contraiu de imediato uma nevralgia, que durou 15 anos. Seu jejum era permanente, habitualmente passando três dias sem comer; e quando o fazia, alimentava-se somente de batatas cozidas no início da semana e já emboloradas. Mas ele sobretudo passava horas e horas ajoelhado diante do Santíssimo Sacramento, implorando a conversão de seus paroquianos.
Uma de suas primeiras medidas práticas foi reformar a igreja que, por respeito ao Santíssimo Sacramento, desejava que fosse a melhor possível.
“Esforcemo-nos para ir para o Céu”
Outra de suas solicitudes foi para com a juventude. Atraía todos para o catecismo. Exigia que este fosse aprendido de cor, palavra por palavra, e só admitia à Primeira Comunhão quem estivesse assim devidamente preparado. Instava com os meninos e adolescentes para que cada um levasse sempre consigo o Rosário, e tinha no bolso alguns extras para aqueles que houvessem perdido o seu.
Paulatinamente os esforços do santo foram sendo coroados de êxito, de maneira que os jovens de Ars chegaram a ser os mais bem instruídos da comarca.
Nas missas dominicais, pregava sobre os deveres de cada um para consigo, para com o próximo e para com Deus. Falava constantemente do inferno e do que precisamos fazer para evitá-lo: “Ó, meus queridos paroquianos, esforcemo-nos para ir para o Céu. Lá havemos de ver a Deus. Como seremos felizes! Que desgraça se algum de vós se perder eternamente!”
Ele exigia a devida compostura e atitude própria a bons católicos na igreja, por respeito à Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.
“Arruinados todos aqueles que abrirem tabernas”
A guerra que moveu contra as tabernas também foi bem sucedida. Aos que a elas iam, em vez de comparecer à missa no domingo, dizia: “Pobre gente, como sois infelizes. Segui vosso caminho rotineiro; segui-o, que o inferno vos espera”. Ameaçava-os de não só perderem os bens eternos, mas também os terrenos.
Aos poucos, por falta de fregueses, as tabernas foram se fechando. Outros tentaram abri-las, mas eram obrigados a cerrá-las. A maldição de um santo pesava sobre eles: “Vós vereis arruinados todos aqueles que aqui abrirem tabernas”, disse no púlpito. E assim foi. Quando elas se fecharam, o número de indigentes diminuiu, pois suprimiu-se a causa principal da miséria, que era moral.
Luta contra blasfêmias e trabalho aos domingos
“Blasfêmias e trabalhos nos domingos, bailes, cabarés, serões nas vivendas e conversas obscenas, englobava tudo numa comum maldição”. Por anos a fio pregou contra isso, exortando no confessionário, no púlpito e nas visitas que fazia às famílias. Dizia: “Se um pastor quiser se salvar, precisa, quando encontrar alguma desordem na paróquia, saber calcar aos pés o respeito humano, o temor de ser desprezado e o ódio dos paroquianos [e denunciar o mal]”.
A guerra do santo cura contra as blasfêmias, juramentos, imprecações e expressões grosseiras foi sem quartel; e tão bem sucedida, que desapareceram de Ars. Em vez delas passou-se a ouvir entre os camponeses expressões como Deus seja bendito! Como Deus é bom! Em vez das cançõezinhas chulas da época, hinos e cânticos religiosos.
A luta contra o trabalho nos domingos foi também tenaz e durou quase oito anos. “A primeira vez que do púlpito abordou o tema, fê-lo com tantas lágrimas, tais acentos de indignação, com tal comoção de todo o seu ser que, passado meio século, os velhos que o ouviram ainda se lembravam com emoção. [...] Vós trabalhais, dizia ele, mas o que ganhais é a ruína para a vossa alma e para o vosso corpo. Se perguntássemos aos que trabalham nos domingos 'que acabais de fazer?’, bem poderiam responder: ‘Acabamos de vender a nossa alma ao demônio e de crucificar Nosso Senhor. Estamos no caminho do inferno’”. Depois de muita insistência, em Ars o domingo tornou-se verdadeiramente o Dia do Senhor.
Combate aos bailes durante 25 anos
Ars era o lugar predileto dos jovens dançarinos das vizinhanças. Tudo era pretexto para um baile. Para acabar com eles, o Santo Cura d’Ars levou 25 anos de combate renhido.
Explicava que não basta evitar o pecado, mas deve-se fugir também das ocasiões. Por isso, abrangia no mesmo anátema o pecado e a ocasião de pecado. Atacava assim ao mesmo tempo a dança e a paixão impura por ela alimentada: “Não há um só mandamento da Lei de Deus que o baile não transgrida. [...] Meu Deus, poderão ter olhos tão cegos a ponto de crerem que não há mal na dança, quando ela é a corda com que o demônio arrasta mais almas para o inferno? O demônio rodeia um baile como um muro cerca um jardim. As pessoas que entram num salão de baile deixam na porta o seu Anjo da Guarda e o demônio o substitui, de sorte que há tantos demônios quantos são os que dançam”.
O Santo era inexorável não só com quem dançasse, mas também com os que fossem somente “assistir” ao baile, pois a sensualidade também entra pelos olhos. Negava-lhes também a absolvição, a menos que prometessem nunca mais fazê-lo. Ao reformar a igreja, erigiu um altar em honra de São João Batista, e em seu arco mandou esculpir a frase: Sua cabeça foi o preço de uma dança!... É de ressaltar-se que os bailes da época, em comparação com os de hoje, sobretudo do pula-pula frenético e imoral do carnaval e as novas danças modernas, eram como que inocentes. Mas era o começo que desfechou nos bailes atuais.
A vitória do Pe. Vianney neste campo foi total. Os bailes desapareceram de Ars. E não só os bailes, mas até alguns divertimentos inofensivos que ele julgava indignos de bons católicos.
Junto a eles combateu também as modas que julgava indecentes na época (e que, perto do quase nudismo atual, poderiam ser consideradas recatadas!). As moças, dizia, “com seus atrativos rebuscados e indecentes, logo darão a entender que são um instrumento de que se serve o inferno para perder as almas. Só no tribunal de Deus saber-se-á o número de pecados de que foram causa”. Na igreja jamais tolerou decotes ou braços nus.
Ars transformada pelo santo
Um sacerdote santo torna piedosos seus paroquianos. Assim, apenas três anos e meio depois de sua chegada, o santo Cura já podia escrever: “Encontro-me numa paróquia de muito fervor religioso e que serve a Deus de todo o seu coração”. Em 1827 (seis anos depois), exclamava entusiasmado do púlpito: “Meus irmãos, Ars não é mais a mesma! Tenho confessado e pregado em missões e jubileus. Nada encontrei como aqui”.
É que, ao mesmo tempo em que reprimia os abusos, semeava também a boa semente. E ele aspirava, para seus paroquianos, ao ideal de perfeição do qual os cria capazes. Recomendava-lhes que rezassem antes e depois das refeições, recitassem o Ângelus três vezes ao dia onde quer que estivessem; e que, ao levantar e deitar, fizessem a oração da manhã e a da noite. Esta passou a ser feita também em comum na igreja ao toque do sino. Os que ficavam em casa ajoelhavam-se diante de algum quadro ou imagem religiosa, ali fazendo suas orações.
Com o tempo passou-se a dizer que em Ars o respeito humano fora invertido: tinha-se vergonha de não fazer o bem e de não praticar a Religião. O que é um auge de vitória da Igreja! Ars tornou-se também um centro de piedade e religiosidade.
Por isso, os peregrinos admiravam nas ruas da cidade a serenidade de certos semblantes, reflexo da paz perfeita de almas que vivem constantemente unidas a Deus.

Notas:
1. Francis Trochu, O Santo Cura d’Ars, Editora Littera Maciel Ltda., Contagem, MG, 1997, p. 27. Todos os textos citados sem mencionar a fonte foram extraídos desta obra.
Outras obras consultadas:
– Edelvives, El Santo de cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1948, tomo 4, pp. 403 e ss.
– Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo 3, pp. 313 e ss.

Fonte: catolicismo.com.br
Autor: Plinio Maria Solimeo

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