O sacramento da Reconciliação (confissão): os benefícios de se confessar

Evangelho de São Mateus, 9, 1-8.


Notemos bem a primeira palavra de Jesus, dirigida ao paralítico: tem confiança, filho, que os teus pecados te são perdoados!

Todo pecador é um paralítico: E todos nós somos pecadores! O viciado é um leproso: já vimos como Jesus cura os leprosos; vejamos hoje como Ele cura os paralíticos espirituais: é pelo sacramento da confissão. A confissão é o grande sacramento da misericórdia divina.

I – Necessidade da Confissão
A confissão corresponde admiravelmente a todas as necessidades de nossa alma; e esta perfeita adaptação é uma prova da sua divindade. A confissão tem por fim arrancar o mal do coração do homem. Ora, o mal contém três elementos: o orgulho, a concupiscência, a revolta. O pecador repete, em atos senão em palavras, o brado orgulhoso de Lúcifer: Nom serviam!

O orgulho leva o homem a rejeitar e desprezar a lei do Criador. O homem prefere obedecer às suas paixões, deixando-se levar pela concupiscência; e como encontra um obstáculo – a lei divina – ele se revolta. A confissão cura este mal com os três elementos opostos. De fato, a confissão inclui três atos essenciais:

A humildade, oposta ao orgulho; O sacrifício, oposto à sensualidade; A obediência, oposta à revolta.

O pecador é obrigado a ajoelhar-se aos pés de um homem, seu igual como homem, seu mestre e juiz pela dignidade: é um ato de humildade.

O pecador deve declarar suas misérias: é um sacrifício.

Enfim, ele deve cumprir a penitência imposta: é um ato de obediência.

Eis como Deus destrói, até à raiz, o mal que cometemos. Ele nos castiga com três atos opostos aos atos do mal cometido… mas se Ele castiga, Ele cura e consola também, como vamos ver.

II – As doçuras da Confissão
A confissão é sobretudo um remédio, mas todo remédio é amargo. Deus, que é Pai, que dulcificar a amargura do remédio, passando um pouco de mel na beira do cálice que Ele nos apresenta… e chega até a misturar o mel com o próprio remédio. De que coisa precisa o pecador arrependido? De três coisas: consolação, luz e perdão.

Oh! Quanto nós precisamos de consolação! Há horas tristes na vida… há amigos falsos e inconstantes… há traições… Há Pilatos e Judas em grande número. Daí os desesperos… os suicídios! O pecado é um abcesso cheio de pus, que faz sofrer horrivelmente. A confissão é como uma lanceta que abre o apostema. O sacerdote é um amigo fiel… um consolador incomparável.

Nós precisamos também de luz! Jesus Cristo nos trouxe um duplo luzeiro: um luzeiro geral e um particular. O primeiro indica o caminho. O segundo mostra as pedras e os espinhos do caminho. O primeiro é a pregação e o segundo é a confissão.

Precisamos de luz, para ver nossas fraquezas. A pregação nos faz olhar para o céu. A confissão nos faz olhar para nós. A pregação nos mostra o ideal. A confissão mostra como devemos abraçá-lo. A primeira, é a luz da inteligência. A segunda é a luz do coração.

Precisamos ainda de perdão. A sociedade castiga, não perdoa. A sociedade avilta e, cumprido o castigo, não reabilita… mas deixa a vítima entregue à sua miséria. Um assassino, por exemplo, pode chegar a todas as honras… mas o povo, ao vê-lo cercado de glória, murmura sempre: é um assassino! E seus filhos, embora inocentes, são filhos de um assassino.

Só Deus perdoa, reabilita, apaga tudo: esta é a obra prima da confissão. A confissão fere, humilha, mas reabilita e consola. O pecador, uma vez perdoado, está regenerado: é de novo filho de Deus, como se nunca houvesse pecado. Isto prova a divindade da confissão.

III – Conclusão
Adorável invenção de um coração de Pai amoroso: a confissão é uma necessidade para os homens, pois são pecadores; mas é também uma consolação, pois Deus conhece as amarguras da vida.

Deus instituiu este sacramento da misericórdia para destruir o mal no homem, este mal, sendo o orgulho, a concupiscência e a revolta, o remédio deve ser: a humilhação, o sacrifício e a obediência. Deus suaviza todo sacrifício; ele quer também suavizar o sacrifício da confissão. O pecado deixa no homem tristeza, trevas e remorso.

E eis que Deus arranca estas raízes amargas, dando, ao arrependido que as confessa, consolação, luz e perdão.

Oh, como é divinamente belo… e divinamente paternal! É o sacramento da misericórdia divina.

Pe. Júlio Maria De Lombaerde, “Comentário Dogmático do Evangelho Dominical”, págs 287-292
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