O leproso prostrou-se de joelhos e pediu a Jesus (Mc 1,40)

O primeiro encontro de Jesus, após a saída de Cafarnaum, é com um leproso, um homem que sofre de uma doença que o exclui da sociedade e do grupo, e que se dirige a Jesus para ser curado, infringindo assim todas as leis preceituadas para a sua situação.
São Marcos conta-nos que o leproso ao chegar ao pé de Jesus se prostrou de joelhos e lhe suplicou que o curasse. Atitude de penitência, de súplica, que encontramos em outros momentos e outras situações. Pedro, quando nos Actos dos Apóstolos ressuscita a mulher em Jope ajoelha-se também para rezar, e Paulo ajoelhava-se para rezar com as suas comunidades.
Nos primeiros séculos do cristianismo não era uma postura habitual para a oração e o Concilio de Niceia chegou mesmo a proibir a sua prática nos domingos e tempo pascal, ficando reservada apenas para os dias penitenciais. Contudo, e tendo em conta a proibição conciliar de Niceia, não é descabido pensar que havia uma prática, que de alguma forma tinha ultrapassado o razoável e por isso era necessário controlar.
Na Idade Média o ajoelhar-se passou a ser uma postura comum, e de tal modo se vulgarizou que na celebração da Eucaristia adquiriu uma preponderância que retirou lugar e visibilidade a outras posturas também necessárias e exigíveis face ao momento da celebração. Para evitar esses abusos, hoje em dia a Instrução Geral do Missal Romano determina os momentos em que se deve ajoelhar, ou seja no momento da consagração, quando o sentido de veneração e adoração pelo mistério se torna mais premente.
Na oração pessoal esta é no entanto a postura física mais comum e certamente também aquela com a qual nos sentimos mais familiarizados, ainda que hoje em dia outras posturas se tenham introduzido e nos ajudem a interiorizar e a recolher o espírito para o encontro com Deus. Convém, contudo, não perder o sentido desta experiência física e neste sentido pode ajudar-nos algumas palavras de Etty Hillesum:
“Ontem à noite, pouco antes de me ir deitar, dei por mim de repente ajoelhada na alcatifa, no meio desta sala grande, por entre as cadeiras de metal. Assim sem mais nem menos. Puxada para o chão por algo mais forte do que eu. Algum tempo atrás, tinha dito para mim mesma: ‘vou exercitar-me a ajoelhar’. Ainda tinha demasiada vergonha deste gesto que é tão íntimo como os gestos amorosos, acerca dos quais ninguém consegue falar a não ser que seja um poeta” (Diário, 155).
“Quando hoje caminhava pelos corredores a abarrotar, senti de repente uma enorme necessidade de me ajoelhar ali, no chão de pedra, no meio de toda a gente. O único gesto de dignidade humana que ainda nos resta neste tempo: ajoelhar perante Deus” (Diário, 267).
Façamos esta experiência, mostremos a nossa humildade diante de Deus, adoremos o mistério em que estamos envolvidos, recuperemos a dignidade que perdemos e como amantes manifestemos o acolhimento do amor que vem até nós.

Ilustração: “Homem doente", de Vassily Maximovich Maximov, Galeria Tretyakov, Moscovo.





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