Ainda "A Cidade Antiga"

Como se sabe o Renascimento inspirou-se não apenas nas fórmulas artísticas da Antiguidade, mas também procurou emular as formas jurídicas e políticas dando origem ao estado-nação moderno. Desprezando a Idade Média, os modernos exaltaram ao máximo a Antiguidade clássica. Não há erros novos sob o sol. Ditaduras, tiranias, nacionalismos exacerbados, tudo isso que vivemos hoje já não era novidade na Antiguidade. Vejamos abaixo como Fustel de Coulanges descreve as sociedades clássicas:

"A liberdade de pensar sôbre religião era absolutamente desconhecida entre os antigos. Deviam conformar-se com tôdas as regras do culto, figurar em tôdas as procissões, tomar parte nos repastos sagrados. A legislação ateniense punia com forte pena aquêles que se abstivessem de celebrar religiosamente uma festa nacional. Os antigos não conheciam portanto nem a liberdade da vida privada, nem a da educação, nem a religiosa. A pessoa humana tinha pequeníssimo valor perente essa autoridade santa e quási divina que se chamava pátria ou estado. O Estado não tinha só, como nas sociedades modernas, um direito de justiça relativamente aos cidadãos. Podia punir sem que houvesse culpa e só porque o seu interesse estava em jogo. (...) o ostracismo não era um castigo; era uma precaução tomada pela cidade contra um cidadão, que ela suspeitava que podia um dia incomodá-la. Em Atenas, podia acusar-se e condenar-se um homem por incivismo, isto é, por falta de afecto para com o Estado. Desde que se tratasse do interesse da cidade, nenhuma garantia havia para a vida de um homem. (...) A máxima funesta de que a salvação do Estado é a lei suprema foi formulada pela Antiguidade. Pensava-se que o direito, a justiça, a moral, tudo devia ceder perente o interêsse da pátria. É portanto um êrro singular, entre todos os êrros humanos, acreditar que nas cidades antigas o homem gozava de liberdade. Não tinha sequer a mais ligeira idea dela. Não julgava que pudesse existir direito em frente da cidade e dos seus deuses. (...) o governo muitas vezes mudou de forma; mas a natureza do Estado ficou, pouco mais ou menos a mesma e a sua omnipotência não diminuiu. O govêrno denominou-se alternativamente monarquia, aristrocracia, democracia, mas nenhuma dessas revoluções deu ao homem a verdadeira liberdade, a liberdade individual. Ter direitos políticos, votar, nomear magistrados, poder ser arconte, eis o que se chamava liberdade; mas o Homem estava subordinadíssimo ao Estado."


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