Liturgia - Obedecer a Quem?

Quem quiser seguir os preceitos litúrgicos da Igreja à risca, sem transgressões, experimentará uma dificuldade imensa. E isto não acontece somente quando se pretende observar os costumes do Antigo Rito, o Tridentino. Também com relação ao Novus Ordo, costuma-se promover hoje uma total liberdade com relação àquilo que foi determinado pelo Concílio Vaticano II e pelos documentos que se seguiram, como a Redemptionis Sacramentum, de João Paulo II.

Parece haver um certo espírito progressista que precisa em tudo acompanhar as mudanças da época de modo que, hoje, mesmo as determinações do último Concílio tornam-se ultrapassadas e passíveis de desprezo. Em seu lugar, cumpre erigir outras normas, de acordo com o tempo e o lugar. E o mais irônico é que, não obstante este curso de coisas tenha por pressuposta a desobediência à Igreja, ele costuma exigir, no entanto, a adesão do fiel sob pena de chamar-lhe desobediente. Quem quiser, por exemplo, cantar o Glória segundo a fórmula que a Instrução Geral do Missal Romano prescreve, enfrentará todo tipo de dificuldades e será visto como se estivesse animado por qualquer capricho, apegado a rubricismos, e precisando acompanhar o transitar natural da vida, aceitando o espírito de contínua renovação. Se se opuser a este espírito, o sujeito será tido como rebelde. Embora nada mais queira senão obedecer, o fiel submisso à Igreja e ao Papa será tido como o  inconveniente, o arengueiro, o divisor, o que não aceita a pluralidade natural da Igreja e que supostamente se manifestaria, também, neste caráter fluido com que cada comunidade e cada pessoa "cumpre" o seu papel na Liturgia.

Quem obedecer à Igreja será tachado de desobediente. Quem, no entanto, isento de qualquer maior zelo pela Sagrada Liturgia, não se importa de transgredi-la, será identificado como quem compreendeu bem a alma da coisa. Um movimento ou uma organização - ou uma Conferência -, contudo, que se obstina na expressa desobediência ao Papa não pode arvorar-se o direito de ser obedecida. A sua pertinácia é constante grito de revolta. Os seus desmandos são expressão da sua cerviz altiva, incapaz de submeter-se. Pluralismo, democracia, apego ao gosto pessoal, ignorância da natureza real da Liturgia: eis o que caracteriza este espírito que anda às soltas na Igreja, sobretudo na América Latina onde ainda se sente, de modo muito vivo, a influência da Teologia da Libertação que fez e continua a fazer estragos imensuráveis.

Em que compensa obedecer à Igreja se o sujeito se verá sozinho, se atrairá para si a animosidade de muitos e complicará a própria vida? Compensa sim! Estar do lado de Nosso Senhor quando este está a ser ultrajado é o que de melhor podemos fazer. Defendê-lo das injúrias e ofensas; ser uma voz, ainda que solitária, a gritar no meio de uma multidão dispersa: "servirei! Faça-se como o Espírito Santo e a Igreja determinaram"; tudo isso é uma honra sem tamanho! "Sofrer pelo Amado é melhor que fazer milagres", diz S. João da Cruz. Experimentar a solidão deste maior Solitário que é Nosso Senhor... Compensa sim.. Lutemos e amemos, compreendendo que o nosso amor por Ele também se expressa pelo zelo por Sua casa.

Em que compensa desobedecer à Igreja para brincar de protagonismos e desmandos na Liturgia? Mesmo se obtiveres o apreço das pessoas, "que vale ao homem ganhar o mundo se vier a perder a própria alma?"

Diz S. Paulo: "Se eu quisesse agradar aos homens, eu não seria servo de Cristo". Eis algo que deveria nos nortear no nosso serviço litúrgico! Obedeçamos à Igreja, ainda que isto nos dê a fama de rebeldes. Sirvamos à Igreja, ainda que isto arruíne a nossa "carreira". Lutemos por uma Liturgia bem celebrada, pedindo a Nosso Senhor que o zelo por Sua casa também nos devore e rezando para que as pessoas despertem de seu sono e façam como Jacó que, ao acordar, exclamou: "Que terrível é este lugar! É aqui a casa de Deus!"

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