Não condeneis e não sereis condenados...

//Caritas in Veritate
       Disse Jesus aos seus discípulos: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco» (Lc 6, 36-38).
        A medida da nossa vivência cristã é Jesus Cristo.
       Não é uma medida por baixo, com os mínimos garantidos, é uma medida sempre a crescer até à estatura de Jesus Cristo. Ele dá a vida por nós, resgatando-nos ao pecado e à morte, é a Sua medida. Não dá pouco nem muito, dá-Se totalmente, entrega-Se em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar, em cada encontro, em cada sorriso, em cada afago. Por conseguinte, é seguido pelos esquecidos e odiados da sociedade do Seu tempo, come com eles, chama-os, aproxima-Se deles, vai nas suas direcções para os fazer regressar à vida.
       Hoje deixa-nos uma referência fundamental: ser misericordiosos como o Pai do Céu é misericordioso. Se Ele é a nossa medida e se a Sua medida é Deus Pai, então a medida do nosso amor é o Deus de Jesus Cristo, próximo, misericordioso, pronto para perdoar, para Se fazer próximo e em Jesus nosso irmão.
       Que melhor atitude quaresmal que o perdão, a misericórdia, a bondade, a generosidade para com os outros! Um dia disseram-nos que só gostando de nós poderíamos gostar dos outros. Mas Jesus vai mais longe, quanto mais nos dermos aos outros tanto mais nos sentiremos bem connosco e com o mundo que nos rodeia.

A Santíssima Virgem vivia a Quaresma? Os Apóstolos viviam a Quaresma?

// Senza Pagare
por Taylor Marshall
A Santíssima Virgem Maria vivia a Quaresma? Os Apóstolos viviam a Quaresma? Quão antiga é a Quaresma na tradição Católica?
Apostles and Mary
Uma das referências mais antigas à Quaresma está nos sermões do Papa Leão Magno (m. 461) do século V. O Papa São Leão Magno dizia que os quarenta dias de Quaresma foram instituídos pelos Apóstolos:
"ut apostolica institutio quadraginta dierum jejuniis impleatur."
(Patrologia Latina 54, 633)
"Que a instituição Apostólica dos quarenta dias seja cumprida pelo jejum."
S. Jerónimos (m. 420) e o historiador da igreja Sócrates (m. 433) também assumiram a instituição apostólica dos quarenta dias de jejum antes da celebração da ressureição de Cristo.
Actualmente, os historiadores modernos têm dúvidas sobre a prática da Quaresma no primeiro século.
Os escritos de Eusébio são citados muitas vezes como prova de que a Igreja inicialmente não conhecia aquilo a que nós chamamos Quaresma. Eusébio, na História da Igreja (5, 24), relacionou a epístola de Santo Ireneu ao Papa São Víctor (reinou de 189 a 199 A.D.) com a controvérisa pascal (da Páscoa) do século II. Não só havia confusão sobre a data da Páscoa (ou o 14º Nisan [nome do mês sírio] ou o Domingo depois do 14º Nisah), mas os Cristãos também debatiam sobre se o jejum antecedente devia ser um dia, dois dias ou quarenta horas. Parece que nem os Cristãos romanos nem os Cristãos orientais conheciam o jejum de "40 dias" antes da Páscoa.
No entanto, por volta dos século IV, os "quarenta dias" de jejum antes da Páscoa pareciam ser universalmente cumpridos. A carta de Páscoa de Sto. Atanásio de 331 A.D. conta que todos os Cristãos de Alexandria, Egipto, mantinham um jejum de "quarenta dias" antes da Páscoa. Na carta pascal de 339 A.D. ele menciona como os "quarenta dias" de jejum antes da Páscoa são universalmente mantidos por todas as igrejas: "até ao fim em que todo o mundo está a jejuar, nós que estamos no Egipto não nos devíamos tornar nuns gozões como as únicas pessoas que não jejuam mas têm prazer nesses dias."
O quinto ponto do Concílio de Niceia em 325 A.D. também confirma que os "quarenta dias" são guardados como dias de penitência antes da Páscoa.

O que eu acho de tudo isto:

Vou abrir o meu jogo. Eu acho que a Santíssima Virgem Maria e os Apóstolos guardavam mesmo os quarenta dias de Quaresma, tal como São Jerónimo e o Papa São Leão diziam. "Mas Taylor, então e aquela maldita citação de Eusébio?!"
Primeiro, São Jerónimo e São Leão saberiam dessa citação. O relato histórico de Eusébio era bem conhecido. Isso não os parou de dizer que os primeiros Cristãos viviam um tempo de quarenta dias de jejum antes da Páscoa.
Os Apóstolos instituiram um jejum estrito para ser guardado "no dia em que o Esposo lhes será tirado" (Lc 5:35) - o dia a que chamamos Sexta-feira Santa. A tradição de "quarenta horas" mencionada por Ireneu provavelmente refere-se ao tempo estimado que Cristo esteve no túmulo (15h de Sexta até à madrugada de Domingo). Consequentemente, o jejum apostólico começou naquilo a que chamamos Sexta-feira Santa e acabou na Páscoa. Eusébio aqui está a falar sobre o "jejum estrito" antes da Páscoa - e não na época de preparação de 40 dias. Não devemos confundir os dois.
É claro, não podemos voltar a trás no tempo com uma câmera de filmar e descobrir com certeza. No entanto, temos o testemunho de grandes santos que estavam perto dos acontecimentos (Atanásio, Jerónimo, Concílio de Niceia, Gregório Magno). Tal como deve acontecer para a maior parte dos Católicos, quando em dúvida, sigam os Padres da Igreja!
Para os interessados, tanto Maria de Agreda como Ana Catarina Emmerich descrevem a Santíssima Virgem Maria a viver um jejum de quarenta. É em revelação privadas, mas queria deixá-las aqui.

Cultivar um olhar de encanto…

// AQUI e AGORA



Há dias, alguém me escrevia numa breve mensagem: 'que Deus brilhe em nosso olhar'!

Isso fez-me refletir sobre o que será um olhar de encanto, isto é, onde brilhe Deus? Como pode Deus brilhar em nós, se não houver um olhar de encanto? Deus brilha no meu olhar? Como vejo, nos outros um olhar de encanto e os outros com esse olhar de encanto? Há ou pode haver malícia num olhar de encanto? Se tivéssemos de apresentar dois ou três exemplos, quem apresentaríamos como tendo um olhar de encanto?

- De fato, vivemos num mundo marcado por olhares muito diversos e nem sempre encontramos quem nos faça ver, com verdade e sinceridade, esse olhar de encanto, dado que poderá ser encantador, mas interesseiro, fascinante mas perigoso, marcante mas malicioso…

- Mesmo que a vida possa ser quase sempre dura e andemos de olhar turvo (isto é, sombrio e ensombrado), nós, cristãos, temos de cultivar um olhar sadio porque alicerçado no olhar de Cristo, que, como se diz tantas vezes no Evangelho (sobretudo de são Marcos), tinha um olhar de simpatia, um olhar de compaixão e um olhar de liberdade e de libertação.

- É verdade que os acontecimentos e as pessoas nos podem trazer, por vezes, menos boas recordações e isso nos pode cristalizar numa certa resistência à dádiva e à partilha para com os outros. Também as mais díspares situações humanas e culturais podem-nos endurecer, gerando um ambiente onde nos defendemos e podemos situar-nos mais em atitude de ataque do que na confiança para com aqueles/as que Deus coloca no nosso caminho, seja de forma fortuita ou mais regular.

= Como poderemos, então, cultivar um olhar de encanto, hoje?

Antes de mais para que esse olhar de encanto seja sincero e possa ser vivido de olhos levantados, temos de acreditar em nós mesmos, reconhecendo quem somos, com qualidades e defeitos, com bons e maus momentos, com virtudes e erros, com necessidade de arrependimento, de dar e receber o perdão…

O olhar de encanto precisa de ser cultivado pela verdade e nunca pactuando com a mentira, tanto para connosco mesmos como na relação com os outros. Estes não podem ser entendidos como adversários nem como concorrentes e tão pouco como inimigos.

Temos de saber levantar o olhar para que consigamos perceber os obstáculos que se colocam no nosso caminho, pois se andarmos de olhos pregados no chão corremos mais o risco de tropeçar e estatelar-nos, magoando e saindo magoados… sem vermos as pedras de tropeço a tempo.

Tal como se diz num certo aforisma popular: precisamos mais de olhar pelo vidro dianteiro do carro (vulgo para-brisas) do que pelo retrovisor, pois, este damos uma visão do (já) passado, ao contrário e em ponto reduzido, enquanto aquele nos faz ver o que está à frente, em dimensão real, enfrentando-o com naturalidade… sem subterfúgios nem medos!

Num contexto cristão/católico olhemos a passagem de Jesus na Cruz com a mãe e o discípulo. Ali, do alto da Cruz, Jesus tem um olhar de encanto sobre sua mãe e o discípulo que Ele amava – reparemos nesta designação com que o autor do quarto evangelho se refere a si mesmo e nos deixa espaço para que nos incluamos nessa qualidade perante Jesus – tentando perceber esse olhar terno e elevado, profundo e sereno, intenso e eterno. Não deveriam ser estas as qualidades do nosso olhar de encanto? Como poderemos viver a nossa fé se não tivermos um olhar de encanto sobre nós mesmos, sobre os outros e até sobre Deus?

Para terminar uma breve estória: havia uma jovem que se preocupava em saber de que cor eram os olhos de Jesus. Ela pensava: eram azuis, castanhos, pretos…de que cor será que eram? Nas orações, ela distraía-se e ficava longo tempo a pensar nisso e tentando descobrir. Um dia, ela estava a rezar, pedindo justamente essa graça, e de repente parece que ouviu Jesus dizer-lhe: 'Filha, meus olhos têm a cor dos olhos de cada irmão e irmã que encontras'. Dali para frente, ela desistiu de querer saber a cor dos olhos de Jesus, e começou a olhar os olhos de cada pessoa que encontrava.

Afinal, um olhar de encanto é muito mais do que um olhar encantador, pois este pode seduzir e levar ao mal, enquanto aquele eleva e faz-nos encontrar Deus… nas pequenas como nas grandes coisas, isto é, sempre.


António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

“Perdoai e sereis perdoados” – o Papa Francisco na missa em Santa Marta nesta segunda-feira

// GUIADOS PELO ESPÍRITO SANTO
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(RV) Perdoar para encontrar misericórdia - esta a principal mensagem do Papa Francisco na homilia desta segunda-feira. Partindo do capítulo 6 do Evangelho de São Lucas em que Jesus exorta os seus discípulos a serem 'misericordiosos como o vosso Pai é Misericordioso' o Santo Padre valorizou a vergonha como o primeiro passo para julgarmos menos os outros e examinarmos melhor a nossa consciência. Principalmente dos pequenos pecados de todos os dias:

"É verdade que nenhum de nós matou ninguém, mas tantas pequenas coisas, tantos pecados quotidianos, de todos os dias... E quando pensamos: 'Mas que coisa, que coração pequenino: eu fiz isto ao Senhor!' E envergonhar-se! Envergonhar-se perante Deus e esta vergonha é uma graça: é a graça de ser pecador. 'Eu sou pecador e envergonho-me perente Deus e peço perdão.' É simples, mas é tão difícil dizer: Eu pequei."

Segundo o Papa Francisco, é frequente justificarmos os nossos pecados descarregando sobre os outros, dando mesmo a culpa a outras pessoas. Essa não é a atitude correta e não permite cumprir a prece do Pai Nosso: 'Perdoai as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido'. Porque é preciso perdoar para sermos perdoados – afirmou o Santo Padre:

" E o Senhor diz: 'Não julgueis e não sereis julgados! Não condeneis e não sereis condenados! Perdoais e sereis perdoados! Dai e vos será dado!'. Esta generosidade do coração!

"O homem e a mulher misericordiosos têm um coração largo: sempre desculpam os outros e pensam nos seus pecados. Viste o que aquele fez? Mas eu já tenho que chegue com o que fiz e não me meto nisso. Este é o caminho da misericórdia que devemos ter. Mas se todos nós, todos os povos, as pessoas, as famílias, os bairros, tivessem esta atitude, quanta paz existiria no mundo, quanta paz nos nossos corações! Porque a misericórdia leva-nos à paz. Recordai-vos sempre: Quem sou eu para julgar? Envergonhar-se e alargar o coração. Que o Senhor nos dê esta graça." (RS)

O verdadeiro objetivo da Ideologia de Gênero é a destruição completa da família

// Viver Santamente

No final do ano passado, foi votado no Senado Federal o projeto para o Plano Nacional de Educação. O PNE contém as diretrizes para todo o sistema educacional brasileiro para os próximos anos. Dentre os diversos problemas que se encontram no texto, o mais grave deles é a inserção da Ideologia de Gênero em nosso sistema educacional. Na ocasião, os senadores rejeitaram a tentativa de tornar obrigatório o ensino dessa ideologia em nosso sistema educacional. 

Após a votação no Senado, o PNE foi para a Câmara dos Deputados, onde será votado por uma Comissão Especial. A votação final ocorrerá no dia 19, na próxima semana. Vários deputados afirmaram que são favoráveis à obrigatoriedade da insersação daIdeologia de Gênero. Além disso, o relator da comissão, o deputado Álvaro Vanhoni, do PT do Paraná, adotou a mesma posição defendida pelo presidente da ABGLT, ou seja, a defesa da inclusão da Ideologia de Gênero no sistema educacional brasileiro. 

Como já foi explicado em outra ocasião, a Ideologia de Gênero é uma técnica idealizada para destruir a família como instituição social. Ela é apresentada sob a maquiagem da "luta contra o preconceito", mas na verdade o que se pretende é subverter completamente a sexualidade humana, desde a mais tenra infância, com o objetivo de abolir a família. 

Além disso, a palavra "gênero", segundo os criadores da Ideologia de Gênero, deve substituir o uso corrente de palavra "sexo" e referir-se a um papel socialmente construído, não a uma realidade que tenha seu fundamento na biologia. Desta maneira, por serem papéis socialmente construídos, poderão ser criados gêneros em número ilimitado, e poderá haver inclusive gêneros associados à pedofilia ou ao incesto. É o que diz, por exemplo, a feminista radical Shulamith Firestone: "O tabu do incesto hoje é necessário somente para preservar a família; então, se nós nos desfizermos da família, iremos de fato desfazer-nos das repressões que moldam a sexualidade em formas específicas". Ora, uma vez que a sexualidade seja determinada pelo "gênero" e não pela biologia, não haverá mais sentido em sustentar que a família é resultado da união estável entre homem e mulher.

Se estes novos conceitos forem introduzidos na legislação, estará comprometido todo o edifício social e legal que tinha seu sustento sobre a instituição da família. Os princípios legais para a construção de uma nova nova sociedade, baseada na total permissividade sexual, terão sido lançados. A instituição familiar passará a ser vista como uma categoria "opressora" diante dos gêneros novos e inventados, como a homossexualidade, bissexualidade, transexualidade e outros. Para que estes novos gêneros sejam protegidos contra a discriminação da instituição familiar, kits gays, bissexuais, transexuais e outros poderão tornar-se obrigatórios nas escolas. Já existe inclusive um projeto de lei que pretende inserir nas metas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional a expressão "igualdade de gênero". 

Por isso, temos de nos manifestar imediatamente e pedir aos deputados que rejeitem completamente a introdução da Ideologia de Gênero em nosso sistema educacional.



"..praticar o jejum não somente do alimento, mas também dos excessos do bem-estar" - Frei Cantalamessa

// A Realidade é Cristo
Cidade do Vaticano (RV) - Encontrar tempos para o silêncio, praticar o jejum não somente do alimento, mas também dos excessos do bem-estar, vencer aquilo que desvia da vontade de Deus. A Quaresma do cristão deve ser feita disso, disse o frade capuchinho, Pe. Raniero Cantalamessa, na primeira das meditações propostas à Cúria Romana.
O pregador da Casa Pontifícia ofereceu na manhã desta sexta-feira, na Capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico, uma reflexão sobre o sentido dos quarenta dias que precedem a Páscoa. Nas próximas sextas-feiras, na presença do Papa, desenvolverá as grandes verdades da fé recorrendo aos ensinamentos dos Padres da Igreja Latina.
Do Evangelho à vida de cada um de nós: se Jesus apartou-se no deserto durante 40 dias, jejuou e ali foi também tentado, o que cabe a nós fazer para imitá-lo? O religioso franciscano fez a transposição dos gestos de Cristo para o nosso hoje; assim, para nós, ir para o deserto é escolher tempos de silêncio, encontrar espaços para nós mesmos, reencontrar a parte mais verdadeira de si colocando-se diante de Deus. Em suma, é o apelo do retorno ao coração, lançado por Santo Agostinho:
Portanto, voltar ao coração significa voltar àquilo que há de mais pessoal e mais íntimo em nós. Infelizmente, a interioridade é um valor em crise... existem causas remotas, por assim dizer, para essa nossa dificuldade de reentrar em nós mesmos e a mais universal é o fato que nós somos compostos de alma e corpo, de espírito e matéria e, portanto, somos como um plano inclinado, mas inclinado para baixo, não para o alto, ou seja, inclinado para o exterior, para o multíplice, o visível..., sobretudo nós, clero e vida consagrada, precisamos de um retorno à interioridade."
E então é preciso abandonar o fragor, as distrações, as diferentes formas da cultura moderna, os instrumentos da tecnologia e, portanto, revistas, livros, tv, internet e dispositivos digitais que invadem a intimidade do coração, dissipam as nossas energias. Esse se torna o jejum a ser praticado hoje. Jesus privou-se do alimento, nossa época requer um jejum diferente:
"Hoje, o jejum mais significativo se chama … sobriedade … privar-se voluntariamente de pequenas ou grandes comodidades, daquilo que é inútil e por vezes danoso à saúde. Esse jejum é solidariedade com os pobres ... um tal jejum é contestação a uma mentalidade consumista, num mundo que fez da comodidade, do usar, do uso, do comprar, a sua finalidade, o mecanismo que mantém de pé todo o sistema. Privar-se de algo não estritamente necessário, do objeto de maior luxo, é mais eficaz, talvez, que infligir-se penitências escolhidas por si mesmo."
O pregador da Casa Pontifícia recomenda, sobretudo, o jejum das imagens, daquelas que veiculam violência, sensualidade, que investem nos instintos mais baixos e que dão uma falsa ideia da vida, porque ilustram um mundo bonito, sadio e perfeito, rico de coisas a ponto de induzir à rebelião aqueles que não têm o que é insistentemente mostrado:
"Outro jejum alternativo é o jejum das palavras nocivas. Não são somente blasfêmias, naturalmente, nem mesmo somente palavrões; são as palavras pungentes, negativas, que evidenciam sempre o aspecto mais frágil do irmão, que geram desconfiança ou alimentam desconfiança e, portanto, semeiam discórdia."
Deve-se, então, evitar aquilo que pode gerar descontentamento, frustração e ressentimento, ou neutralizar o efeito das palavras que ferem pedindo desculpas. Por fim, Frei Cantalamessa recordou que também nós sofremos as tentações de Satanás, propriamente como Jesus no deserto. Inteligência perversa e geradora de perversão, o Diabo usa coisas boas como instrumentos para separar o homem de Deus.
Então o dinheiro é uma coisa boa, se usado corretamente, e a sexualidade é um dom de Deus, mas se levados ao excesso se transformam em ídolos e se tornam destrutivos. Então ir para o deserto é buscar um diálogo profundo com Deus separando-se de tudo, explicou Pe. Cantalamessa.
"Deus quis em Cristo assumir um rosto humano, um coração humano, para ajudar-nos a amá-lo como nós sabemos amar – concluiu o pregador da Casa Pontifícia –; o Espírito Santo que impeliu Jesus para o deserto, hoje nos impele também a nós para o deserto, para reencontrar-nos com Deus." (RL)


Corresponsabilidade, participação e sinodalidade...

// Caritas in Veritate
       Os membros provenientes dos diversos grupos eclesiais, ainda que eleitos, não são «representantes» de tipo parlamentário, mas crentes que foram designados para testemunhar a fé e colaborar na missão da Igreja. O termo de representação no domínio eclesial deve traduzir-se por testemunho de fé.
       Esta perspetiva tem uma consequência importante. O voto no interior de um organismo eclesial de corresponsabilidade não tem o mesmo significado que no domínio secular. Na estrutura sinodal da Igreja, na qual o problema da unidade nunca pode resolver-se pela afirmação absoluta da maioria, o voto, não só consultivo, mas inclusivamente deliberativo, tem outro sentido. A votação não se pode entender como vitória do ponto de vista da maioria, nem é um compromisso ou acordo entre uma práxis autoritária e uma democrática (quer dizer, um instrumento para excluir o poder absoluto do bispo ou do pároco).
       A votação é um ato jurídico formal, sim, mas serve sobretudo para fixar a opinião dos crentes que dão testemunho da fé. Esse voto não é um ato de busca da vontade política, mas o reconhecimento de uma realidade. Expressa um componente constitutivo do processo de configuração comunitária do que chamamos um juízo eclesial de comunhão. Por isso corresponde-lhe uma específica força vinculante que expressa a unidade da fé da Igreja.
in JOAQUIN PEREIA. Otra iglesia es posible. p. 255

A Mentira das Máscaras

// Oficina de Valores



Uma tradição muito antiga no Carnaval, é o uso de máscaras nos bailes e desfiles. A tradição remonta ao século XVI, em Veneza, onde os ricos usavam as máscaras durante o Carnaval para poderem sair pelas ruas e não serem reconhecidas pelo povo. O propósito da máscara é claro: disfarçar seu usuário para que ele pareça ser quem não é. Usadas no carnaval, ou em outros momentos de festa, as máscaras são motivos de alegria e diversão. Neste texto, porém, vamos falar de um outro tipo de máscaras: as que usamos diariamente e que são invisíveis aos nossos olhos.

Muitas vezes e em diversas situações nós queremos mostrar que somos algo que não somos de fato. Às vezes, durante uma conversa com um grupo de amigos, queremos causar uma impressão de sermos muito inteligentes ou muito engraçados. Às vezes, com pessoas que nós estamos conhecendo, nós queremos ser mais simpáticos do que realmente somos. Ou ainda, queremos nos "adaptar" melhor ao contexto, e queremos ser pessoas diferentes em cada ambiente de nossa vida: somos de um jeito com a família, de outro com os amigos, de outro no trabalho ou na escola, e assim por diante. E muitas vezes, nessas situações, nós "usamos uma máscara", ou seja, nós nos tornamos atores e atrizes para interpretar um papel, para passar uma imagem que não é exatamente fiel ao que somos.

E qual o problema nisso? Dependendo da situação, não há nada de mal em nos esforçarmos para impressionar alguém. Quando temos uma entrevista de emprego, ou quando queremos conquistar alguém que nós gostamos, nós certamente não ficamos demonstrando nossos defeitos, mas ao invés disso nos empenhamos para mostrar as nossas qualidades. Quando falo, porém, de "usar máscaras", estou falando de uma outra realidade. Falo de quando nós estamos insatisfeitos como aquilo somos, quando achamos que as pessoas não vão gostar do que nós somos de verdade e, por isso, nós preferimos representar um papel, viver uma mentira. Nós, muitas vezes, achamos que não somos bons o suficiente, que o que nós temos em nossa personalidade não vai interessar às pessoas, ou mesmo vai afastá-las. Outras vezes, nós queremos chamar a atenção. Temos necessidade de sermos percebidos, reconhecidos.

O problema é que uma hora a máscara cai. Não dá pra ser ator todo dia, toda hora. Em algum momento, vamos deixar transparecer aquilo que realmente somos, e aí nós podemos acabar decepcionando aquelas mesmas pessoas que na verdade gostaríamos de impressionar. E nossa imagem, que a gente queria que parecesse melhor do que realmente é, pode acabar ainda pior... No fundo, usar máscaras é nada mais do que mentir. E todo mundo sabe: mentira tem perna curta. E o maior problema é que muitas vezes quando nós usamos máscaras nós acabamos mentindo para nós mesmos, e perdemos a noção de quem realmente somos.

Muitas vezes, talvez na maioria delas, nós usamos máscaras para esconder os nossos defeitos. Na verdade, não se contentar com o que nós temos de ruim é uma coisa boa. Todos temos defeitos, e não devemos nunca nos conformar com eles. Só que não basta parecermos bons, temos que ser bons de fato! Sentir vergonha das coisas ruins que temos em nossa personalidade é algo que deve servir para que nós nos esforcemos para sermos melhores, para superarmos os nossos defeitos. Se nós queremos ser diferentes, temos que dar passos concretos. O uso de uma máscara lembra a atitude de varrer o lixo para debaixo do debate. A sujeira permanece lá e a  limpeza é apenas uma ilusão.

Quem age dessa maneira vive sempre perseguido por duas sensações: insegurança e medo. Insegurança porque sente que ao gastar tempo fingindo, não consegue fortalecer relacionamentos e mesmo desenvolver a personalidade. Medo porque por mais que a poeira esteja bem escondida, mais cedo ou mais tarde o tapete pode ser puxado.

As máscaras do carnaval, das festas à fantasia, dos cosplayers, quando vestidas em espírito de brincadeira, são peças divertidas. O problema é quando na vida queremos imitar a festa e nos habituamos a esconder nossos rostos, nossas ideias, nossos corações. O verdadeiro drama é que para parecer (e aparecer) sacrificamos o ser.

Para terminar, deixamos uns versos de Fernando Pessoa que podem servir para a nossa reflexão. Que em nossa vida a beleza ilusória das máscaras que usamos se transforme na verdadeira beleza do nosso coração.

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo

(Fernando Pessoa – Tabacaria)


Alessandro GarciaDoutorando em Sociologia - UFRJ / Fundador da Oficina de Valores
e

Thales Bittencourt
Doutorando em Filosofia - UFRJ


Quero um namoro sério

// Dado Moura relacionamentos
quero um namoro

 

Há quem pense que dizer apenas três palavrinhas (Eu te amo) é suficiente para manifestar o seu lado romântico e de comprometimento no relacionamento.

Muitas pessoas se sentem desacreditadas por perceber que a idade já passou dos 30 anos e ainda não encontrou alguém disposto a viver um relacionamento "sério". Pois, dos seus muitos envolvimentos,  nenhum deles favoreceu condições de sustentar seus projetos de namorar e viver a vida dois felizes para sempre.

Hoje, além de alguns estereótipos ainda aplicados na hora da escolha, para algumas pessoas se tornou  imprescindível, incluir também a intimidade sexual, como se essa fosse o meio de sustentação do relacionamento.

Infelizmente, algumas pessoas podem pensar que dizer apenas três palavrinhas – EU TE AMO – é suficiente para manifestar o seu lado romântico e de comprometimento no relacionamento. E,  imbuídas por um sentimento egoísta, facilmente enquadram as pessoas, que dela se aproxima, naquilo que julga ser natural dentro do namoro. Entretanto, desejar um namorado (a) somente para ter uma companhia ou minimizar a importância de seus valores, não traz a realização esperada  para o relacionamento.
A frustração será ainda maior se a pessoa souber que o namorado (a) não manifesta interesse algum em estabelecer  vínculos ou que a sua intenção não é outra, senão viver a intimidade.

Como já foi mencionado em outros temas, o sexo de maneira alguma sustenta um relacionamento débil, especialmente quando os casais acreditam que podem viver a sexualidade separada do amor incondicional.
Casais que viveram outros relacionamentos, de maneira liberal percebem que aquilo que foi importante ontem, acabou  perdendo o  significado no dia seguinte.

Das queixas sobre os namoros avançados estão alguns pontos interessantes que valem a pena considerá-los como indicadores:

- Os casais quase sempre vivem às orbitas do sexo. Para todos os momentos de encontro, a intenção maior é aproveitar-se da intimidade, ao invés de conhecer propriamente a pessoa com quem  se relacionava. Muitas vezes o casal mal conhece a história daquela pessoa com quem está convivendo,  mas conhecem muito bem o corpo do outro;

- O sexo no namoro acaba sendo tratado como um meio de compensação ou recompensa. Para não se sentir sozinhos, a pessoa se submete aos caprichos e manias do outro, vivendo um relacionamento em que não apresenta a mínima condição da felicidade desejada. Muitas vezes, a pessoa é a namorada (o) somente em horas conveniente para o outro;

- Para alguns rapazes, o peso da responsabilidade moral por ter vivido a intimidade com a namorada, dificulta o rompimento do namoro. Muitos admitem que foram para o casamento por se sentir responsável pela namorada.
Sabemos que outra grande parcela de casais fizeram do casamento um "remendo" , quando perceberam que um bebê estava a caminho.

Para aqueles que se deixam envolver por um conceito desvirtuado sobre seus relacionamentos, mal podem entender que a participação de alguém na nossa vida, traz como acréscimo  a maturidade.  Isso significa que a participação da namorada na vida do namorado e vice-versa deverá provocar neles o desejo de ser melhor a cada dia, desinstalando-se daquele mundo onde o "eu" imperava.

Encontrar alguém que corresponda às nossas expectativas, muitas vezes, exigirá paciência. Pois ninguém está pronto, mas a força de vontade e o desejo de viver com quem nos faz suspirar de amores será o inicio do caminho na busca da perfeição ao longo do tempo de namoro.
Dessa maneira, será necessário que baixemos as possíveis e demasiadas exigências de uma perfeição,  sem abrir mão de valores que prezamos ou que desejamos retomá-los a viver.

Um abraço

Dado Moura

Deus no Cotidiano

// Humanitatis - a internet para o homem

O tempo para o encontro com Deus é o hoje de nossas vidas. No cotidiano escondem-se as oportunidades de envidarmos contato com o Senhor. Mas para que haja encontro real, para que o homem encontre a Deus no mundo real, importa que se reserve momentos específicos para esse encontro. Com efeito, o corpo do encontro com Deus é a vontade de encontrá-lO, que se expressa na virtude da ordem. Só com organização o cotidiano deixa de ser potencial lugar de encontro para ser real lugar de encontro com Deus.

Luz

Se o cotidiano é o lugar do encontro privilegiado com Deus, todo momento é momento privilegiado. Se pode encontrar a Deus no cotidiano dos estudos, no cotidiano do trabalho profissional, no cotidiano do trabalho doméstico, no cotidiano do lazer. Como o Senhor Jesus teve uma rotina de trabalho, o trabalho tornou-se ocasião de santificação. De fato, o trabalho é santificante e santificador.

No campo das virtudes humanas, o trabalho cotidiano põe às claras as virtudes e os vícios presentes em cada indivíduo. E por isso mesmo, também pode unir-nos a Deus pelos sacrifícios por ele exigidos. Fazer render os talentos é um fruto que a introdução da espiritualidade no cotidiano favorece, pois faz com que se aproveite o tempo para crescermos no amor de Deus.

Não esqueçamos, porém, que a alma do trabalho é a oração. De nada serviria todo planejamento, toda organização para o encontro com Deus, se tudo isso não levasse o indivíduo à oração. Deus quer contar conosco para continuar sua obra, mas não há como saber qual é Seu desígnio sem algum momento de intimidade e oração com Ele. Sim, para o encontro com Deus no cotidiano importa paciência, ordem, cumprimento dos deveres, mas se todo esse esforço pessoal não redundar em um maior amor e confiança em Deus, tudo isso é estoicismo pagão.

Medo de ter filhos

// Povo


É necessário que o Estado intervenha porque a situação é de facto dramática. Mas nenhuma política terá resultado se a mentalidade continuar a ser a mesma
Um dos maiores problemas de Portugal e da Europa é o inverno demográfico. Segundo uma reportagem do "Público", publicada há dias, "em 2013 nasceram 82 538 crianças, menos 7303 do que no ano anterior, e em 2012 o país já tinha registado um saldo natural negativo sem precedentes, com menos 17 757 nascimentos do que mortes".
Os dados de 2012 apontam ainda para um outro dado importante: mais de metade dos nascimentos deste ano foram primeiros filhos. A mesma reportagem do "Público" faz eco desta realidade: estamos a criar uma geração de filhos únicos.
As consequências desta inversão da pirâmide demográfica são verdadeiramente dramáticas, quer em termos económicos quer em termos sociais. Todos sabemos isso. E sabemos isso há anos.
O diagnóstico está feito e as causas que se apontam são bem conhecidas: conciliação entre a vida profissional e familiar e dificuldades económicas. Ter filhos custa dinheiro e é preciso condições económicas e trabalho para os ter. Quem não tem segurança profissional e financeira não arrisca. E quem arrisca tem um filho.
Não podia ser pior. Esta geração de filhos únicos tem dois problemas. O primeiro é a sua educação e o segundo é o seu futuro. Um filho único é educado como uma raridade, rodeado de medos e de inseguranças dos pais. A tendência é afastá-lo das adversidades, aceder aos seus caprichos e protegê- -lo numa pseudo-segurança fabricada pelos pais que não o deixa crescer.
Ora são estes filhos, sem irmãos, tios ou primos, que terão a seu cargo a sustentabilidade de um sistema de segurança social responsável por um número considerável de beneficiários. Teremos, portanto, uma geração mal preparada mas com uma responsabilidade como nenhuma outra teve. Terão eles estofo para aguentar com o embate que é sustentar um país de velhos? A tarefa é heróica e as armas são de papel.
A questão agora é saber o que fazer. Complicado? Se fosse fácil não tínhamos chegado aqui.
Portugal está muito melhor do que estava há dezenas de anos, em que crises do petróleo, instabilidade política e níveis de inflação que hoje parecem irreais não criaram tamanha insegurança. Em que apesar das adversidades económicas, dos níveis de desemprego e dos governos transitórios, a natalidade não atingiu níveis tão dramáticos. Em que apesar de tudo as pessoas tinham filhos. E tinham mais de um filho.
A verdade é que a mentalidade era outra. Aprendia-se com os pais a ser pais e com os primos e irmãos a ser criança. Com mais ou menos dinheiro tudo se cria, diziam os nossos avós. A família era a principal rede de segurança: todos cuidavam, protegiam e garantiam o sustento uns dos outros. Numa família alargada os problemas dividem-se e as alegrias multiplicam--se. Há sempre uma mão que se estende quando as condições se tornam desfavoráveis. Ter filhos era garantir segurança. A nossa e a de cada um deles. Fosse qual fosse o preço do pão.
É inquestionável a necessidade de políticas de natalidade, políticas fiscais e políticas laborais de conciliação profissional. É necessário que o Estado intervenha porque a situação é de facto dramática. Mas nenhuma política terá resultado se a mentalidade continuar a ser a mesma. Se continuarmos a achar que os filhos são um bem de luxo com custos elevados de manutenção ou uma despesa insuportável como as PPP, não há política de natalidade que nos valha. É que nunca haverá dinheiro que chegue e nunca existirão condições garantidas. Mais que uma conta no banco, aquilo de que os nossos filhos mais precisam para os ajudar no futuro é de irmãos. Por uma questão de segurança.

O Que Há de Errado Com Nossas Crianças?

// Maria Rosa Mulher

Desde o tiroteio de 20de abril na escola em Littleton, Colorado, americanos angustiados tem se perguntado: "O que há de errado com nossas crianças? O que há de errado com nossa cultura?". Caros americanos, não há nenhuma esperança de encontrar a verdadeira resposta até que vocês perguntem: "O que há de errado com nossa religião?".

O tiroteio no Colorado foi meramente o mais recente e sangrento numa série de tiroteios que tem irrompido em nossas escolas por todo os Estados Unidos nos últimos anos.  Desta vez 12 alunos foram assassinados, muitos outros feridos, e um professor morreu. Então os dois assassinos, rapazes de 17 e 18 anos de idade, aparentemente normais e de boa aparência, moradores de um subúrbio branco rico de Denver, após terem transformado sua escola num abatedouro repleto de fumaça e sangue e cadáveres, voltaram as armas para si mesmos. Qual é o problema?

Todos os liberais e políticos de esquerda usaram Littleton para clamar por mais leis de controle de armas. Ora, cada avanço da tirania pode ser bem merecido por um povo tornando-se de outro modo ingovernável, mas o controle de armas permanece a mais estúpida das soluções para Littleton – os americanos ganharam sua República através das armas, e eles têm mantido armas em casa por mais de 200 anos sem que suas crianças saíssem por aí matando umas as outras.  Obviamente o problema não é com as armas, mas com a mentalidade de quem quer que as maneje. De onde vem a mentalidade assassina?

Uma solução menos estúpida, mas ainda relativamente superficial, é culpar as mentes jovens sendo formadas para assassinar por causa da violência em toda parte encontrada nos filmes de Hollywood, televisão e jogos de computadores. Realmente, isso tudo é cheio de violência, mas nada disso – ainda – leva muitas pessoas a assassinar de fato. Se tantos suburbanos [1] estão presentemente chafurdando em tal fantasia de violência, não será porque eles alcançaram seu alto grau de segurança e conforto apenas por eliminar de sua existência Dilbertiana tanto da vida e interesse, que agora eles precisam da fantasia de violência até mesmo para sentirem-se vivos? Ainda, quanto mais eles são entretidos, mais eles não se tornam profundamente entediados? Então em vez de culpar os assassinos dos videogames, não seria mais realista culpar tanto os assassinos e videogames na natureza das grandes cidades de hoje ou no modo suburbano de vida que é tão insatisfatório para os seres humanos?  Estamos chegando mais perto, porque em vez de culpar coisas, nós estamos começando a situar o problema onde todos os verdadeiros problemas humanos pertencem, no coração humano pecador. Mas o que há de pecaminoso na cultura suburbana?

Para começar, as escolas públicas que geram boa parte desta cultura. No "Summit Journal" (P.O. Box 207, Manitou Springs, Colorado 80829, USA), há uma admirável análise na edição de junho sobre como, se alguém quer produzir assassinos de escolas, o atual currículo nas escolas públicas americanas dificilmente poderia ser melhor planejado! O autor, Dr. David Noebel, sabe do que está falando. Através dos anos ele construiu uma organização altamente efetiva para contra-atacar o ateísmo das escolas públicas, ao ensinar os princípios anti-modernos da piedade protestante a adolescentes que de outra forma estariam indefesos contra a perversão habilidosa forjada em suas mentes e corações por essas escolas que, até onde a educação vai, tornaram-se perfídia organizada. Algum instinto de que isso é assim mesmo certamente explica em parte porque os assassinos de Littleton jogaram sua raiva sobre sua escola.

Entretanto, se os assassinos de escola tivessem lares saudáveis – realmente saudáveis – a traição que eles sofreram na escola inspiraria neles tal raiva assassina? Certamente não. Com certeza a esse respeito o verdadeiro mal da cultura suburbana ou moderna é o que foi feito à família e ao lar. Por anos – vocês leitores devem saber – essa Carta vem aqui tentando tocar o sino de alarme fora dos muros. Tem recorrido a linguagem "chocante" (sonhos não secos), pessoas "chocantes" (Unabomber), músicos "chocantes" (Pink Floyd), condenações "chocantes" (a "Noviça Rebelde" é muito desafinada) e fatos "chocantes" (crianças de ambos os sexos sendo comumente violadas em casa pelos seus próprios pais "Mas, mamãe, você se veste desse jeito!"), para socar alguma realidade para dentro das mentes católicas, onde ela pertence. (Deus os abençoe, caros leitores, certamente a maioria de vocês já assinou [para receber esta carta] para continuar sendo socado, apesar do desafio vagamente mordaz para fazer isso, escrito por mim, apenas assinado pela Sra. Mehren! Ela é inocente!)

Eis aqui mais do mesmo. Nos últimos dias nós aprendemos (não no confessionário) sobre o caso de uma garota de 15 anos de idade aqui na pequena cidade de Winona sendo repetidamente violada e finalmente engravidada pelo seu pai bêbado, que para todas as aparências, sinceramente! – clama que ele não sabia o que estava fazendo! A mãe trabalha à noite talvez para evitar a bebedeira dele, então ela alega que não tinha ideia do que estava acontecendo! A garota recebeu ajuda para fugir para uma casa de adoção numa cidade próxima de tamanho médio, levou sua irmã de 13 anos de idade com ela na esperança de continuar a protegê-la (todas essas crianças têm umas as outras!), apenas para descobrir que sua irmãzinha partilha de sua condição! América ACORDE! SUAS CRIANÇAS ESTÃO GRITANDO!

Eu sinto muito, caros leitores, mas se vocês querem uma religião Minnie Mouse, vocês não devem ser católicos. O guardião da casa de adoção disse (mas por quanto tempo mais haverá adultos sadios para serem guardiões?). "Imagine se isso acontece aqui em nossa cidade de tamanho médio, o que dirá nas cidades grandes!". Imagine também a raiva no coração da garota mais velha, que está convencida de que desapontou sua irmã caçula! Ora, em dramas domésticos como esse, ou em toda cultura que os gera, não há explicação proporcional para a raiva, por exemplo, manifestada ao mundo inteiro no website do líder dos dois assassinos de Littleton? Por gerações, mas especialmente desde os demoníacos anos 60, os pais modernos perderam a arte de educar, as casas não são mais verdadeiros lares, e há uma frieza e um vazio devastador nos corações das crianças, dificilmente crianças ainda.

O que aconteceu com a família? O átomo é firmemente unido por forças naturais, mas uma vez que é separado, essas forças criam uma explosão devastadora. Os laços da família natural são enormemente fortes, mas uma vez que eles são cortados, eles causam uma devastação incalculável. Então como os avós (e bisavós) ficam afastados dos netos quando cada um tem tanto de humano a dar que o outro precisa? Como os pais perderam tanto a arte de serem pais (isso pode ser recuperado), e começaram a tratar seus filhos como adultos ou bebês, em qualquer caso não como crianças? Como marido e esposa perderam todo o senso de diferença entre homem e mulher e de suas naturezas e necessidades complementares?

Resposta: a família foi despedaçada há mais de cem anos pelos mesmos falsos deuses que revolucionaram a sociedade ao longo de cem anos antes disso: liberdade, igualdade, direitos humanos, democracia. Se eu estou atado, eu não sou livre, então a liberdade rompe os laços familiares. A igualdade extermina a complementaridade. A democracia destrói toda hierarquia ou ordem, como crianças honrando os pais enquanto os pais cuidam das crianças, esposa obedecendo ao marido enquanto o marido ama carinhosamente a esposa. Os direitos humanos bloqueiam os deveres humanos, especialmente com relação a Deus, e sem Deus, nada humano como a família pode dar certo por muito tempo. Então toda a cultura da nossa sociedade revolucionária transforma a família em grupos de indivíduos meramente vivendo sob o mesmo teto. São esses não-lares que fazem os corações dos assassinos.

E de onde vem essa adoração antinatural ao individualismo, e como isso pode ter tanto poder? O Cristianismo ensinou para a humanidade o valor de cada homem. O individualismo que corre solto na sociedade ocidental moderna é daquele Cristianismo sem Cristo. Seu poder vem da Igreja Católica, seu correr solto vem diretamente do esmagamento desta Igreja, ou seja, o protestantismo. Se, como disse Lutero, eu não preciso de uma sociedade sobrenatural como a Igreja Católica para fazer a mediação entre eu e Deus para minhas necessidades eternas, como justificação ou salvação, por que eu deveria precisar de qualquer sociedade natural para qualquer das minhas necessidades menores? Eu, que lido diretamente com Deus, me sustento por minha própria conta!

E assim entre sociedade e indivíduo, embora projetados por Deus um para o outro, seja a comunhão dos santos no céu, ou a prática da justiça e da caridade na terra, foi introduzida uma dialética antinatural, uma oposição fatal, emergindo claramente a vista na famosa peça de Shakespeare, "Hamlet" (a qual retornaremos), e vindo à tona no sangue em Littleton. Então um protestante decente com sua decência e uso reto da Escritura (que é católica) pode fazer um bom trabalho no caminho de volta à verdadeira e única solução possível (que é católica) do conflito artificial do mundo moderno entre sociedade e indivíduo, entre uma péssima escola e um assassino enfurecido, mas de qualquer forma ele ainda partilha do falso culto do individualismo, Luteranismo ou Liberalismo, e dessa maneira ele só pode ajudar a perpetuar o conflito.

Dr. Noebel, o senhor tem feito um excelente trabalho ao armar milhares de crianças abandonadas contra os demônios de sua deseducação. Só falta o senhor jogar fora o pai da maioria desses demônios: Martinho Lutero.

No entanto quais chances o Dr. Noebel tem de discernir hoje o que a Igreja Católica verdadeiramente ensina, quando o próprio Vaticano faz uma Declaração Conjunta com os luteranos para dizer que eles chegaram a um acordo, e em seguida lança um Esclarecimento sobre a Declaração para dizer que isso não é um acordo? Que confusão! Mas isso é assunto para outra carta. Doutor, tudo o que posso dizer enquanto isso é que a Igreja Católica hoje é como Nosso Senhor carregando a Sua Cruz. Nesse Caminho da Cruz, como deve ter sido difícil reconhecê-lo como Deus, mas Ele era verdadeiramente Deus!

Paciência, queridos leitores. Nossa Fé Católica é nossa vitória sobre todos os problemas a nossa volta, e nossa plataforma de lançamento para uma eternidade de felicidades.

*Carta de junho de 1999.

Traduzido de:

Bishop Richard Williamson. Letters from the Rector of Saint Thomas Aquinas Seminary, True Restoration Press.

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Nota da tradutora:

[1] Aqui o termo "suburbanos"refere-se aos moradores de áreas, mais afastadas da cidade, nos EUA, com boas condições de vida, materialmente falando. Possuem casas, escolas, mercados, grandes condomínios, e relativamente mais segurança do que nos centros das grandes cidades.

São Francisco e os muçulmanos

// Senza Pagare
Entre a quarta e quinta cruzadas houve algumas expedições militares contra os infiéis. De uma delas, que aportou no Egipto, participou São Francisco de Assis.

Quando São Francisco, movido pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual via ser repudiado pelas hordas de infiéis muçulmanos, que eram combatidos pelos cruzados, aproveitando uma trégua entre os terríveis combatentes, partiu para o deserto com o fito de convertê-los à fé verdadeira, não pela espada, mas pelo amor a Deus e ao próximo, conta-se que assim se sucedeu.

Ia São Francisco pelo deserto quando soldados do sultão local, ávidos de sangue, caíram sobre ele, mas, ao notarem os trajes andrajosos e a pobreza do peregrino, e que não trazia armas, mas somente um tosco bornal e um cajado, decepcionaram-se e, maior que a decepção foi a surpresa quando ele lhes disse quem era, bradando altaneiro: "sou arauto do grande Rei, sou a trombeta do Imperador".

Diante disso, os soldados levaram São Francisco à presença do sultão que, informado de quem se tratava, mas muito desconfiado e como que querendo divertir-se, indagou-o com descrença:

– Então, és arauto de um rei. E que rei é esse, e quais seus objetivos ao enviar-te a nós assim, desta forma vestido e sem aparato militar que demonstre seu poder?

Tirando uma das mãos de seu cajado e apontando para o alto, ao mesmo tempo em que com grande enlevo fitava o imenso céu crepuscular do deserto, São Francisco respondeu calmamente:

– Sou arauto do grande Rei, o Deus de Amor, Senhor de todas as coisas que enviou-nos Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós em uma cruz. Mas que vencendo a morte pela morte, ressuscitou e subiu aos céus, onde está à direita de Seu Pai. E todo aquele que nEle crer não morrerá, mas terá a vida eterna. Eu vim para trazer-vos esta boa nova, a fim de que vos torneis seus súbditos.

Os mulás presentes indignaram-se e com fortes brados protestaram pela morte do insolente.
Ao ouvir isso, o sultão percebendo que São Francisco era um cristão e admirado com sua coragem e pura intenção, retorquiu:

São Francisco e o sultão ayyubide al-Malik al-Kāmil
Com um arauto tão solene e convincente nas palavras e actos, esse rei não poderia também, já que é tão grande senhor, demonstrar seu poder e riqueza com um séquito mais poderoso? Pois as tuas palavras também me servem para designar Alá, e, ao invés de Cristo, por que tu não crês no profeta Maomé, o verdadeiro enviado de Deus, e não obedeces ao seus mulás que aqui estão?


Fitando a enorme fogueira que ardia ao lado da tenda, inspirado por Deus, e, vendo que de outra forma não poderia penetrar naqueles corações endurecidos com o suave e salutar dardo do Amor Divino, São Francisco propõe:

O que é o séquito senão a escolta que protege o emissário, por mais indigno que este seja? Ora, façamos pois uma prova e depois ireis me dizer qual é o verdadeiro emissário, Jesus Cristo ou Maomé. Entremos todos, os mulás e eu, nesta flamejante fogueira. Aquele que detiver o verdadeiro mandato, por mais indigno que seja, sairá ileso e demonstrará com isso a verdade que deve guiar todo homem.

O desafio era entre Cristo e Maomé. E São Francisco já largava de lado o bornal e o cajado e preparava-se para entrar no fogaréu, quando, desesperadamente, o líder dos mulás se lança de joelhos ante o sultão clamando em prantos loucos de pavor e pedindo suspensão da prova, enquanto os outros se amontoavam assustados em um canto da tenda. O sultão, conformado, exclama:

É, parece que Alá não foi bem servido hoje! E, voltando-se para São Francisco, suplica-lhe que não entre no fogo, louva-lhe a confiança que depositava em Cristo e, respeitoso e encantado, diz-lhe:

Se outros cristãos dessem o exemplo que tu dás, eu não hesitaria em me tornar cristão também.

Depois disso, faz com que São Francisco seja conduzido em segurança de volta à linhas cristãs.

Conta-se que no leito de morte, o sultão, em seu país, recebeu miraculosa visita de São Francisco, que se encontrava ao mesmo tempo na Itália, e se fez batizar cristão tendo morrido no seio da Santa Igreja.

Atriz global Claudia Jimenez deixa lesbianismo. Patrulha GLS reage.

// Congregação Mariana Sede da Sabedoria
nova guia - claudia jimenez2


Quando a cantora Daniela Mercury publicou em uma rede social foto com outra mulher dizendo que esta era sua marida, a repercussão na opinião pública foi imediata. A ex-estrela do Axé percorreu todos os programas, pôs tom político no discurso e  se declarou lésbica.

Tratamento diferente – bem diferente, diga-se de passagem –  foi dado à atriz Cláudia Jimenez quando terminou o relacionamento de 10 anos com a sua  personal Trainner e sócia,Stella Torreão , e se declarou ex-lésbica  numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo. "Não tinha sensualidade, era muito mais gorda do que sou hoje. Não tinha forma nem vaidade. Achava que não tinha cacife para seduzir um homem. Como tinha de ser amada, me joguei nas mulheres", disse.

Claudia Jimenez e seu primeiro namorado,Rodrigo Phavanello.
Claudia Jimenez e seu primeiro namorado,Rodrigo Phavanello.
 
As declarações da atriz, que não associa homossexualidade a algo inato  à pessoa e  sim como comportamento que pode ser superado, deixou a militância LGBT do país em polvorosa. O site Parada Lésbica classificou a atitude de Claudia como um "desserviço homofóbico" e ainda chamou a atriz de "medíocre".

Em outra oportunidade Claudia contou outro trauma de infância que a fez se afastar dos homens, um abuso que sofrera aos 7 anos. "Sofri abuso quando era menina e morava na Tijuca. Um senhor me bolinava. Ele comprava muitos chocolates e me convidava para entrar na casa dele. [Quando revelei essa história aos 18 anos] foi um choque para todo mundo. O fato de esse cara ter feito isso comigo atrasou muito o meu lado. Graças a Deus, ele já morreu" contou ao UOL.

Depois do convívio de 10 anos com Stela, Claudia passou a se relacionar com homens. Os veículos de comunicação que publicaram matéria sobre o assunto foram contidos, não fizeram alardes e não manchetearam a decisão da atriz de deixar o lesbianismo, justamente o contrário do que fizeram com a cantora Daniela Mercury.

Claudia deixou claro que sua opção pelo lesbianismo se deveu a diversos fatores externos como trauma de infância, rejeição e carência afetiva. Hanna Korich, uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, editora dedicada à literatura lésbica, também alfinetou Claudia rotulando as declarações da comediante de "homofobia internalizada".

Patrulha LGBT

A militância LGBT na busca pela liberdade  acaba oprimindo muitas das pessoas com comportamento homossexual. A tolerância se torna intolerância. A cantora Adriana Calcanhoto desabafou à revista Época sobre a ação da patrulha LGBT, logo quando Daniela Mercury se assumiu lésbica:  "Se Daniela ficou feliz de falar e, se falando, ajudou a causa, eu acho válido. Só não gosto da patrulha para que você precise sair do armário, isso segmenta. Eu não gosto de expor minha vida privada por temperamento".

Walcyr Carrasco também criticou a atuação dos militantes dos movimentos pró-homossexualismo. "Recentemente, declarei que sou bissexual. Fui apedrejado por homossexuais, segundo os quais deveria ter me declarado gay. Respondi: tive relacionamentos com várias mulheres na minha vida, a quem amei. Seria um desrespeito a elas dizer que tudo foi uma mentira", escreveu em artigo que assina para a Revista Época.

O “problema” dos casais recasados I: comunhão espiritual e comunhão sacramental




O "problema" dos casais recasados I: comunhão espiritual e comunhão sacramental
// Deus lo Vult!

Não existe nenhum problema com os ditos "casais em segunda união" serem privados da comunhão eucarística. Ou, olhando a questão por outro ângulo, há sim: o problema é a naturalidade com a qual, hoje em dia, encaram-se o adultério e a bigamia. Isso, sim, salta aos olhos e choca, isso é escandaloso, isso deveria provocar-nos repulsa e inspirar-nos lágrimas de reparação pela facilidade com que Nosso Senhor é ofendido. Que aos pecadores públicos sejam negados os sacramentos de vivos é a conseqüência mais óbvia da Doutrina Católica. Que a julguem "dura demais" e procurem por todos os meios desfigurá-la, este é o verdadeiro problema que merece toda a nossa atenção.

Em recente pronunciamento preparatório para o Sínodo dos Bispos que tratará sobre o tema da Família, diante do Papa e dos cardeais reunidos em consistório, o cardeal Kasper fez um discurso que ganhou grande repercussão na mídia. Li primeiro sobre ele aqui e trechos mais amplos da fala do cardeal podem ser encontrados aqui. Algumas conclusões a que parece conduzir o raciocínio do Kasper são tão escandalosas que merecem alguns contrapontos, os quais espero fazer firmes e claros.

Antes de qualquer coisa, é digno de nota que o cardeal, que começou a sua alocução afirmando não ter respostas e sim somente perguntas, tenha vindo com "soluções" tão concretas (e equivocadas, como veremos) para o "problema" dos casais recasados. Há diferenças entre um questionamento verdadeiro e uma pergunta retórica, que podem até confundir as massas mas não escapam aos ouvidos atentos. Por exemplo, o seguinte excerto não contém um questionamento sério, e sim uma pergunta retórica cuja resposta já se encontra implícita na própria formulação do período:

Efectivamente, quien recibe la comunión espiritual es una sola cosa con Jesucristo. […] ¿Por qué, entonces, no puede recibir también la comunión sacramental?

A resposta implícita – à qual o sofista experiente fatalmente conduz o ouvinte incauto – é óbvia: não há nenhuma razão para que uma pessoa que já é «uma só coisa com Jesus Cristo» não possa receber a Comunhão Sacramental. Existe, portanto, uma absurda contradição na praxis da Igreja que precisa ser corrigida o quanto antes. Afinal de contas, se alguém pode tornar-se um só com Cristo, que autoridade terrena poderia negar-lhe a Sagrada Eucaristia?

O sofisma grosseiro por detrás desse raciocínio é ocultar a enorme diferença existente entre a presença real e substancial de Nosso Senhor nas espécies eucarísticas e a Sua presença espiritual na qual o fiel se coloca por meio da oração. É eliminar por completo a diferença existente entre as orações individuais dos fiéis e os Sacramentos – sinais sensíveis e eficazes da Graça – instituídos por Cristo e ministrados por Sua Igreja. É colocar em pé de igualdade a subjetividade da alma que reza e a objetividade da Graça conferida ex opere operato pelos Sacramentos da Nova Aliança. É, em suma, subverter por completo toda a teologia sacramental católica.

É verdade que Deus também confere a Sua Graça por meios desconhecidos aos homens, e que Ele não está de nenhuma maneira preso aos Sete Sacramentos. Mas é igualmente verdade que o modo como se dá a Graça dos Sacramentos é distinto e especialíssimo. Ninguém pode ordinariamente estar certo da pureza de sua contrição perfeita; mas qualquer penitente pode ter certeza de que, quando o padre pronuncia o Ego te absolvo, o perdão de Deus é efetivamente concedido. Um protestante em ignorância invencível pode perfeitamente estar em estado de Graça; mas como esse juízo não pode ser feito senão por Deus, não é lícito participar-lhe a Santíssima Eucaristia. O Batismo de Desejo pode tornar um catecúmeno apto a entrar no Reino dos Céus, mas não lhe permite receber a unção do Santo Crisma.

Os exemplos se poderiam multiplicar à vontade, mas creio que já tenha ficado claro o que quero dizer: os Sacramentos, por sua própria natureza de sinais sensíveis, exigem certas condições igualmente sensíveis para que possam ser ministrados. As "disposições interiores" sozinhas não bastam: ao pagão é preciso que esteja batizado para receber a absolvição sacramental, por mais pungente e contrito que seja o seu arrependimento, e ao pecador (principalmente ao público!) é necessário que esteja confessado para que possa receber a Sagrada Comunhão, por maior que possa ser a sua união espiritual com Nosso Senhor.

Deus é sempre livre para conferir a Sua Graça. Já os homens, dispensadores d'Ele, não têm a mesma liberdade divina para ministrar os Sacramentos de um modo distinto daquele que o próprio Deus estabeleceu. A (chamemo-la assim) Graça sensível só pode ser ministrada sob circunstâncias objetivamente definidas; em particular, a Comunhão Eucarística só pode ser conferida aos católicos que se encontram em estado de Graça, não o subjetivo, mas o objetivo: o estado em que se encontra o fiel que, havendo pecado mortalmente após o Batismo, tenha confessado cada uma de suas faltas graves e recebido de um sacerdote a absolvição sacramental. Esta organicidade vital dos Sacramentos não pode ser rompida, e neste itinerário sacramental não é lícito tomar atalhos.

Não é portanto verdade que se negue a Graça de Deus a – p.ex. – um pecador impenitente que se aproxime da Mesa Eucarística. Na verdade, é ele próprio quem A nega si mesmo, primeiro pelo seu pecado, depois pela recusa a valer-se dos meios instituídos por Cristo para a obtenção do perdão. O caminho para se aproximar dos Sacramentos é público e bem conhecido por todos. Quem se recusa a percorrê-lo na íntegra é o único responsável se não obtém aquilo a que ele conduz.

A gratidão

// Vitae Fratrum Ordinis Praedicatorum
 
Prazer de receber, alegria de estar alegre: gratidão. A gratidão não tem mais a dar que este prazer de ter recebido. Que virtude mais leve, mais luminosa!
André Comte-Sponville,

Ilustração: Flores de arbusto do Jardim de Serralves.

O tesouro da arte e liturgia católicas

// Lavras Resiste!
O Pe. Fernando Antonio, SJ, português e jesuíta da pura cêpa inaciana, nos manda esse belo artigo de sua autoria, publicado no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Conferência Episcopal lusa.
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O tesouro da arte e liturgia católicas

Habituámo-nos a olhar quase com inveja e com um estranho e injustificado sentimento de inferioridade as tradições litúrgicas orientais… quando nós, Católicos Romanos, temos uma tradição litúrgica belíssima, feita sobretudo de Pão e de Vinho e da Palavra de Deus, gestos e palavras que herdámos de Cristo, pelos Apóstolos, e que unem Céu e terra pela nova Árvore da Vida, a Cruz de Cristo.

A nossa liturgia é feita de luz e de fogo, de treva e de silêncio, de gesto e de repouso… É feita do mais puro incenso e do óleo perfumado do Crisma, e daqueles gestos que foram exprimindo na nossa história e na nossa cultura a presença consoladora de Deus entre nós: «Eu estarei convosco todos os dias…».

A nossa tradição produziu textos belíssimos, herdados dos nossos primeiros pais na fé, na era dos mártires, e escritos por grandes Padres da Igreja e autores eclesiásticos como S. Leão Magno, S. Agostinho, S. Tomás de Aquino…

A nossa tradição ergueu a maioria dos mais belos edifícios sagrados construídos na história da humanidade, onde trabalharam os melhores arquitetos, os melhores escultores, os melhores pintores, e tudo isto para o culto divino... E na Casa de Deus sempre encontraram o conforto do lar paterno os filhos de Deus, ricos e pobres, santos e pecadores... e mesmo os filhos pródigos...

E que dizer da música inspirada que ao longo da história os compositores escreveram para a nossa liturgia… desde o Canto Gregoriano, continuando com Palestrina, Byrd, Mozart… e por tantos outros contemporâneos?…

E tudo isto, puro dom de Deus que, pela Igreja, foi sendo comunicado, vivido e realizado de geração em geração, e que agora, como tesouro precioso e imerecido é depositado na fragilidade das nossas mãos pobres, feridas e pecadoras…

Como acontece, por exemplo, com "Ave verum corpus", hino eucarístico de William Byrd (1543-1623), grande compositor inglês que manteve a sua fé católica mesmo no meio das perseguições, interpretado aqui pelo coro britânico Tallis Scholars, dirigido por Peter Phillips.

«Ave verum corpus natum de Maria Virgine. Vere passum, immolatum in cruce pro homine. Cuius latus perforatum unda fluxit et sanguine. Esto nobis praegustatum mortis in examine. O Iesu dulcis, o Iesu pie, o Iesu fili Mariae. Miserere mei. Amen.»
(«Avé, ó verdadeiro corpo nascido da Virgem Maria. Padeceu verdadeiramente, imolado na cruz pelo Homem. De cujo lado trespassado fluiu água e sangue. Faz que nós Te possamos saborear na prova suprema da morte. Ó doce Jesus, ó piedoso Jesus, ó Jesus filho de Maria. Tem misericórdia de mim. Ámen»)

Como viver bem o matrimónio? – responde num tweet o Papa, que convida também a reconhecer os erros e pedir desculpa

// Ide e Anunciai

O matrimónio e a família estão bem presentes no espírito do Papa Francisco, que sobre este tema convocou para outubro próximo uma Assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos. A provar uma vez mais esta sua permanente atenção aí está a mensagem tweet da sua conta @Pontifex, enviada ^nesta segunda-feira, aos seus mais de nove milhões de seguidores. Diz assim: "Como viver bem o matrimónio? Unidos ao Senhor, que sempre renova o amor e o torna mais forte do que toda e qualquer dificuldade." Entretanto, hoje, terça-feira, num novo tweet, o Papa convida a reconhecer os erros pedindo desculpa. Diz o texto: "Na vida, todos cometemos tantos erros. Aprendamos a reconhecer os nossos erros e a pedir desculpa."

Qual é o ensinamento da Igreja em relação a jejuar e abster-se de carne na Quaresma?

// Grupo de Oração Filhos do Céu | RCC ACARI
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Chegou a Quaresma. Iniciamos o tempo forte da Igreja para combater, em nós, a influência do demônio, do mundo e da carne. E um dos métodos, que nos vem da Bíblia, e é atestado pela unânime tradição católica, é o jejum, em sentido amplo. Esse jejum abarca o jejum em sentido estrito, e as várias formas de abstinência.
Para melhor realizarmos o propósito que o Senhor tem para as nossas almas, a Igreja dá normas simples e mínimas para que os fiéis iniciemos a luta espiritual.
Conforme o Código de 1983, eis as normas:

Jejum: fazer apenas uma refeição completa durante o dia e, caso haja necessidade, tomar duas outras pequenas refeições que não sejam iguais em quantidade à habitual ou completa. Não fazer as refeições habituais, nem outros petiscos durante o dia (embora, pela tradição, se possa beber algo sem açúcar). Estão obrigados ao jejum os que tiverem completado dezoito anos até os cinqüenta e nove completos. Os outros podem fazer, mas sem obrigação. Grávidas e doentes estão dispensados do jejum, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum.

Abstinência: deixar de comer carnes de animais de sangue quente (bovina, ovina, aviária, bubalina etc), bem como seus caldo de carne. Permite-se o uso de ovos, laticínios e gordura. Estão obrigados à abstinência os que tiverem completado quatorze anos, e tal obrigação se prolonga por toda a vida. Grávidas que necessitem de maior nutrição e doentes que, por conselho médico, precisam comer carne, estão dispensados da abstinência, bem como os pobres que recebem carne por esmola.
Quarta-feira de Cinzas: jejum e abstinência obrigatórios.
Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor: jejum e abstinência obrigatórios.
Demais dias da Quaresma, exceto os Domingos: jejum e abstinência parcial (carne permitida só na refeição principal/completa) recomendados.

Dias assinalados pelo calendário antigo como Sextas-feiras das Têmporas: jejum e abstinência recomendados.
Dias assinalados pelo calendário antigo como Quartas-feiras das Têmporas e Sábados das Têmporas: jejum e abstinência parcial recomendados.
Demais sextas-feiras do ano, exceto se forem Solenidades: abstinência obrigatória, mas não o jejum. Essa abstinência pode ser trocada, a juízo do próprio fiel, por outra penitência, conforme estabelecer a conferência episcopal (no Brasil, a CNBB estabeleceu qualquer outro tipo de penitência, como orações piedosas, prática de caridade, exercícios de devoção etc).

O mito da juventude: "O problema de envelhecer é dos velhos"

// Blog de Santo Afonso
 
"A ideia de que nós, os Boomers, criávamos, inventávamos e éramos definidos por nossa 'juventude' era tão pervasiva, que nos tornamos a primeira geração que nunca lidou bem com o envelhecimento." A declaração é do antropólogo Ted Polhemus, em entrevista concedida à IHU On-Line, por e-mail, e faz parte de sua análise em compreender o mito da juventude presente na sociedade. Segundo ele, diante da "inabilidade de crescer e envelhecer, os Boomers tentaram colar em si mesmos uma etiqueta de 'Jovens para sempre' que, em certo sentido, nega a juventude àqueles que realmente são jovens".
Autor do livro BOOM! A Baby Boom Memoir, Polhemus evidencia um processo de "juvenilização", ou seja, "a transferência da cultura da juventude do domínio estrito dos jovens para a penetração em todos os grupos etários e na cultura em seu sentido mais amplo".
E explica: "não é que simplesmente um novo mercado foi criado dentro da indústria da moda para lidar com aqueles que eram jovens, mas que jovens modelos e criações apropriadas apenas para corpos jovens empurraram tudo o mais para a indústria da moda".
O resultado desse processo, adverte, são "'adultos-infantis', que vão envelhecendo e que tentam desesperadamente 'enturmar-se com as crianças'. Minha esperança é de que assim que a minha geração for - finalmente - para aquele grande Festival de Rock no céu, o mundo possa voltar a ter uma percepção mais normal e sensível de que a criatividade e os valores não estão limitados a nenhuma faixa etária". E dispara: "Hoje - diferentemente dos anos 1950 e 1960 - apenas os velhos estão presos no modelo de juvenilização".
Ted Polhemus é antropólogo com formação pela Temple University, Filadélfia.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Por que há um mito em torno da juventude?
Ted Polhemus - A partir das décadas de 1950 e 1960, surgiu o mito de que é na juventude que tudo acontece - que todos os avanços criativos vêm dos jovens. Isso derrubou o (também absurdo) mito de que a juventude nada tem a contribuir. O verdadeiro mito (e perigo) é a presunção de que a criatividade é definida pela idade. No fundo, somos mais importantes que nossa idade.
IHU On-Line - Que entendimento os Boomers tinham da juventude? Em que medida a cultura que os envolvia contribuiu para sua compreensão de juventude?
Ted Polhemus - Nós, Baby Boomers, crescemos em um mundo (logo após a Segunda Guerra Mundial) no qual nos diziam constantemente que éramos a "juventude" e, como tal, éramos especiais. A coisa realmente interessante é que toda a criatividade associada ao rock n'roll, ao Swinging London Fashion (expressão comumente utilizada para descrever a efervescência cultural dos anos 1960 na Inglaterra), veio de uma geração ligeiramente mais velha, que havia nascido durante ou mesmo antes da Segunda Guerra. Os primeiros Baby Boomers, como eu (nascido em 1947), não tinham se tornado adolescentes até 1960, enquanto o rock n'roll, os primeiros estilos de rua, o jazz moderno, os poetas beats, haviam todos sido criados por adultos jovens que já não eram mais adolescentes há tempos. Mas a ideia de que nós, os Boomers, criávamos, inventávamos e éramos definidos por nossa "juventude" era tão pervasiva, que nos tornamos a primeira geração que nunca lidou bem com o envelhecimento.
IHU On-Line - O senhor diz que essa geração afetou "como um tsunami" as outras gerações, "distorcendo e metamorfoseando toda a cultura ocidental". Como e em que medida isso aconteceu? Quais são os reflexos nas gerações futuras?
Ted Polhemus - Uma vez firmada a ideia de que a juventude, e apenas a juventude, tinha a chave mágica para onde tudo acontece, todas as gerações mais velhas passaram a ser vistas como "quadrados", velhos, sem esperança e que não compreendiam nada, e todas as gerações subsequentes (ou, ainda mais importante, os homens e mulheres da publicidade, que desejavam atingi-los) aceitaram sem questionar a presunção de que a vida termina quando sua juventude acaba. Veja a moda, por exemplo: estilistas como Dior, cujo "new look" tomou o mundo de assalto em 1947, criava para mulheres, não garotas (que tradicionalmente seguiriam as tendências estabelecidas por suas mães). De fato, a moda sempre focou nas mulheres e não nas garotas, nos homens e não nos meninos. Mas os estilistas dos anos 1960 (que, ironicamente, não eram eles mesmos adolescentes), como Mary Quant, criaram moda focando nas garotas adolescentes. Hoje existem grandes debates sobre modelos tamanho zero e assim por diante, mas a essência dessa preocupação não são as medidas corporais - é a idade. "Tamanho zero" denota garotas, não mulheres. Pessoalmente, penso que é hora de dissociar a moda e o estilo dessa restrição centrada na idade.
"Tenho 67 anos e não faço a menor ideia sobre os jovens de hoje"
IHU On-Line - A geração atual de jovens ainda sofre os efeitos da geração Boomers? Em que aspectos?
Ted Polhemus - Em sua inabilidade de crescer e envelhecer, os Boomers tentaram colar em si mesmos uma etiqueta de "Jovens para sempre" que, em certo sentido, nega a juventude àqueles que realmente são jovens. Quando isso aconteceu, nos anos 1970 - todos aqueles velhos hippies controlando a indústria da música -, o triunfo final da juventude e da geração que era realmente jovem foi o punk. Mas o problema, hoje, é mais insidioso na medida em que iguala "onde as coisas acontecem" com "juventude" e procura aprisionar aqueles que são jovens numa categoria que é dominada puramente pela idade. De fato, a partir do que eu vejo, a juventude de hoje tem tido a sensibilidade de se apartar desse modelo etário - nos processos de escolhas de estilo, música, ideologia, padrões de consumo, etc., estão os indicadores de identidade realmente significativos, e estes cruzam a passos largos as fronteiras de idade.
IHU On-Line - Existe um processo generalizado de conflito de gerações na sociedade ocidental? Se sim, em que termos?
Ted Polhemus - Havia nos anos 1970, quando os jovens rebeldes do punk miravam os "velhos chatos". O que me impressiona é como o conflito geracional parece ser tão pequeno hoje. E é preciso ser mais do que jovem para responsabilizar a nós, os velhos, por estragar o mundo. Apontou-se estatisticamente que a geração Boomer teve seu próprio modo de fazer as coisas: iam sorrindo aos bancos e destruíam o planeta como ninguém antes deles havia feito.
De fato, se me é permitido dizer, penso que esse tipo de argumento (como tem sido exposto em um grande número de livros campeões de vendas recentemente) recai na mesma absurdidade de centrar-se na idade.
Havia Boomers que dirigiam ônibus e ganhavam salários muito baixos, enquanto outros - como Mark Zuckerberg - que não são Boomers, mas têm feito dinheiro suficiente para manter uma pequena nação funcionando. É absolutamente verdade que foi durante o tempo de vida dos Boomers que a destruição de nosso planeta conheceu uma aceleração. Mas, novamente, não acho que seja justo colar este juízo em cada um dos Baby Boomers. Contudo, a despeito dessas retratações, eu consigo entender facilmente que as gerações mais jovens ressintam o fato de que tantos Boomers estão gozando de rendas confortáveis (para não dizer que estão usufruindo de todas as vantagens da medicina), enquanto muitos de sua geração não conseguem nem arrumar emprego.
IHU On-Line - Em que consiste esse processo de "juvenilização" de que o senhor fala?
Ted Polhemus - Por "juvenilização" eu entendo a transferência da cultura da juventude do domínio estrito dos jovens para a penetração em todos os grupos etários e na cultura em seu sentido mais amplo. Por exemplo, como mencionei antes, não é que simplesmente um novo mercado foi criado dentro da indústria da moda para lidar com aqueles que eram jovens, mas que jovens modelos e criações apropriadas apenas para corpos jovens empurraram tudo o mais para a indústria da moda; veja a música pop.
Nós esquecemos que este não é um fenômeno natural: durante 99,9% da sua história, nossos ancestrais humanos reverenciaram o antigo por sua sabedoria. Hoje, o resultado final são os "adultos-infantis", que vão envelhecendo e que tentam desesperadamente "enturmar-se com as crianças". Minha esperança é que assim que a minha geração for - finalmente - para aquele grande Festival de Rock no céu, o mundo possa voltar a ter uma percepção mais normal e sensível de que a criatividade e os valores não estão limitados a nenhuma faixa etária.
IHU On-Line - É possível romper com esse processo de juvenilização inaugurado com os Boomers? Qual seria o mito social subsequente?
Ted Polhemus - É só parar, como eu digo, de pensar que quem nós somos é definido pela nossa idade. O principal personagem e narrador do romance do final dos anos 1950, Absolute Beginners, teme que ao fazer 19 anos ele ultrapassaria o seu prazo de validade. Que tamanha bobagem - não o romance, que é ótimo, mas a noção de que a certa idade você está passado.
"Nunca antes na história humana o Homo Sapiens teve tal possibilidade de se inventar a si mesmo"
IHU On-Line - Como se dá o processo identitário de jovens hoje em dia, e como este processo se difere do conceito de "juventude" originado a partir dos Boomers?
Ted Polhemus - Isso é exatamente o que alguém tem que começar a perguntar aos jovens. Eu tenho 67 anos e não faço a menor ideia sobre os jovens de hoje. É isso que quero que alguém faça: algum tipo de pesquisa que peça aos jovens para listarem o significado de vários fatores (idade, nacionalidade, classes, marcas, música, estilo, religião, raça, valores, etc.), do mais importante para o menos importante. Aqui vai uma observação que fiz por mim mesmo: na cidade de Hastings, no Reino Unido, onde eu vivo, quando o tempo melhora (se é que melhora), há um monte de crianças, predominantemente novas, andando de patins e skates no calçadão à beira da praia. Eu digo crianças predominantemente novas - e aqui está o meu ponto -, mas noto que, quando chega alguma pessoa mais velha que é boa nos patins ou no skate, ela é bem-vinda e respeitada, ao passo que algumas crianças que não têm habilidade são ignoradas. Compare com a minha geração que dizia "Nunca".
IHU On-Line - Essa autocompreensão de "juvenilização" faz com que os jovens não desenvolvam características próprias da idade adulta? Quais, por exemplo? Como a "juvenilização" afeta a vida adulta?
Ted Polhemus - Eu penso que o outro lado dessa moeda seja mais significativo: como aqueles que não são jovens se esforçam para viver suas vidas como se fossem jovens, quando na verdade não o são. Meu palpite seria de que hoje - diferentemente dos anos 1950 e 1960 - apenas os velhos estão presos no modelo de juvenilização.
Novamente, penso que a juventude de hoje lida bem, enquanto o problema de envelhecer é dos velhos. Se há um problema que me preocupa sobre a juventude de hoje é que muitos desses jovens parecem viver sob a sombra da minha geração. Estudantes dizem para mim: "deve ter sido tão legal viver nos anos 1960". Bem, sim e não. A história tem uma mania de ignorar todas as coisas chatas e repetir em um "loop" infinito aquele clipe de Woodstock no qual a mágica acontecia. Nos anos 1950 quando, na minha visão, as reais revoluções aconteceram, tratava-se ainda mais da questão de uma pequena minoria estatisticamente inundada por uma corrente extremamente tediosa. E não nos esqueçamos de que Jack Kerouack e Neal Cassidy, de On the road, desperdiçaram muito de suas vidas - e estragaram a vida de muitos outros ao seu redor, especialmente das mulheres que passaram por suas vidas. O que é tão significativo e excitante é que o que era a preocupação de uma maioria, hoje tornou-se a preocupação da massa. Muitas pessoas hoje - de todas as idades - se esforçam para criar uma identidade única para si e expressam essa identidade em seus estilos ou palavras, música, ou seja lá o que for. E isso é global.
Lembre-se que lá atrás, nos anos 1950 e 1960, a maioria se conformava muito mais do que se expressava a si mesma, e mesmo os Beats, Hippies, Bikers eram conformes às demandas de suas subculturas. A moda dizia às pessoas o que era in ou out. Nunca antes na história humana o Homo Sapiens teve tal possibilidade de se inventar a si mesmo.

iJuventude

// Além da Neblina

O problema dos meus familiares é meu problema! 

Será inaugurado nos próximos dias 7, 8 e 9 de Março o Instituto da Juventude. O iJuventude idealizado pelo Cardeal Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, tem como objetivo continuar a desenvolver ações onde o jovem tenha a assistência da Igreja Católica. 

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"Seu objetivo é a promoção, recuperação e inclusão do jovem na sociedade, através da evangelização, brindando assistência e ensinando valores e princípios éticos." (Site iJuventude)

A inauguração do instituto acontecerá com o evento "Doe de Coração" na sede da Comunidade Canção Nova em Cachoeira Paulista, São Paulo. Será um fim de semana JMJ pós carnaval, irá reunir os líderes jovens do Brasil, fundadores de Novas Comunidades, cantores católicos, além dos padres e bispos que trabalham efetivamente com a juventude. O primeiro objetivo do iJuventude é sanar os gastos, ainda existentes, gerados na JMJ. 

Aqui também deixo o meu apelo. Quando algum familiar meu passa por um problema, seja uma doença ou dificuldade financeira, esse problema também me pertence. Foi isso que aprendi dentro de casa com os meus pais. Muitas vezes algum familiar meu estava doente, e minha mãe prontamente fazia tudo que estava ao seu alcance para ajudar. As vezes era sendo companhia, outras vezes conseguindo um hospital ou cirurgia. Também passamos por momentos econômicos muito difíceis, não tínhamos como pagar dívidas altíssimas. Me recordo quando as lojas do meu pai quebraram, e quem nos socorreu naquele momento? A minha família! 

A Igreja é nossa família, não podemos fechar nossos olhos e fingir que não estamos vendo os problemas pelos quais esta passando. Não podemos fazer de conta que isso não é do meu interesse. Ao contrário, é NOSSO PROBLEMA sim! Hoje como Igreja, como família, temos que nos unir! Ninguém pode negar que a JMJ foi um evento histórico e que ainda vamos colher inúmeros frutos, mas também não podemos deixar os líderes desse evento sozinhos. 

Digo isso, porque eu sei que muitos de nós brasileiros fomos a JMJ mas não fizemos a nossa inscrição. É sabido que sobrou uma quantidade enorme de Kits da JMJ, afinal a organização fez o que tinha que ser feito. Era preciso se preparar para acolher adequadamente os jovens. No entanto a maioria de nós foi a JMJ de maneira independente, ok sem problemas, que bom que você foi! Mas isso e muitas outras coisas geraram gastos que precisam ser quitados.

"A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e sobre todos eles multiplicava-se a graça de Deus. Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um" (Atos dos Apóstolos 4, 32-35)

Eu pergunto: você já fez alguma doação para ajudar nas dívidas da JMJ? Se sim, que bom!! Obrigada! Que tal agora pedir aos seus amigos do grupo de jovens para ajudarem também? Ou fazer uma pequena ação em prol das dívidas da JMJ?! Se cada grupo de jovens, cada família católica ajudar com o pouco que pode, tenho certeza que iremos ajudar nossa família superar esse desafio econômico e deixa-la tranquila para levar a frente todos os outros projetos que a juventude necessita. Vamos testemunhar a força da unidade Católica no Brasil. 

Magda Ishikawa

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Confira quem estará presente: 

Cardeal D. Raimundo Damasceno – Arcebispo Metropolitano de Aparecida e Presidente da CNBB
Cardeal Dom Orani Tempesta O.Cist – Arcebispo do Rio de Janeiro
Mons. Jonas Abib – Fundador da Comunidade Canção Nova
Pe. Paulo Ricardo –  Arquidiocese de Cuiabá – Mato Grosso
Pe. Reginaldo Manzotti – Fundador da Associação Evangelizar é Preciso
Pe. Joaõzinho scj -  Diretor Geral e professor na Faculdade Dehoniana
Pe. Omar Raposo – Reitor do Cristo Redentor do Corcovado
Pe. Eduardo Dougherty – Fundador da Associação do Senhor Jesus / TV Século 21 
Moysés Azevedo – Fundador da Comunidade Católica Shalom
Amor e Adoração
Vida Reluz
Banda Dominus
Missionário Shalom
Adoração e Vida
Dunga 
Ricardo Sá
Eugênio Jorge
Eros Biondini
Adriana Arydes
Nílton Júnior
Ziza Fernandes
Tony Allysson
Olívia Ferreira
Márcio Pacheco
Diego Fernandes
Ítalo Villar
Berthaldo Soares

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