O padre das redes sociais (ou A transparência voltou ao discurso religioso):
Bênção pelo YouTube: Padre Paulo Ricardo movimenta multidões pela internet
300 + 2.847 + 10.000. O resultado dessa soma é um registro da quantidade de fiéis católicos reunidos, nesta semana, para apoiar padre Paulo Ricardo de Azevedo Junior, sacerdote da arquidiocese de Cuiabá (MT) que, no dia 27 de fevereiro, foi alvo de uma carta aberta difamatória assinada por 27 militantes marxistas que receberam o sacramento da ordem.
As manifestações de apoio ao padre começaram pelas redes sociais e, na quinta-feira, 08/03, em apenas uma hora, contabilizaram 2.847 menções importantes no Twitter de acordo com o site Analytics Topsy. A ferramenta informa o número e a influência de poderosas ações em 140 caracteres comuns em protestos políticos, na divulgação de marcas e em manifestações populares nas quais cada indivíduo com uma conta na rede Twitter expressa seu sentimento sobre um tema do momento.
Além das menções, no Twitter, 10 mil pessoas participaram de um abaixo-assinado, também eletrônico e pelo menos outras 300 estiveram reunidas, fisicamente, no Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho, em Cuiabá, para rezar pelo padre, o primeiro sacerdote católico a experimentar a força das redes sociais, no Brasil.
O padre que deixa as redes sociais em polvorosa, no país, não é nenhuma celebridade acostumada a dar autógrafos. Ele não canta, não é bonitão, nem escreve livros de auto-ajuda ou apresenta programas diários no rádio ou na TV. Padre Paulo Ricardo, um careca de aproximadamente 1,90m, é o que o Vaticano chama de “webpastor”, uma figura facilmente encontrável pelo Google, sempre presente no YouTube e, o mais importante, um homem de fácil diálogo com uma comunidade de fiéis que em nada se confundem com fãs à espera da próxima dose de emoção oferecida por seus artistas preferidos.
Os seguidores de padre Paulo Ricardo, termo comum à redes sociais, são hiperconectados à rede mundial de computadores, gostam de opinar, criticar, e rezar – alguns em latim, outros com o dom de línguas do Espírito Santo, outros com véu sobre a cabeça. A maioria desses seguidores é jovem, está preocupada com assuntos internos do catolicismo e reconhece no papa Bento XVI não somente a figura de um homem religioso, mas de um intelectual que não cansam de ouvir e citar em seus twitters, facebooks, contas de youtube e numerosos blogs – alguns até mesmo premiados em concursos nacionais.
O que é preciso para mobilizar mais de 10 mil pessoas em menos de uma semana, sem usar a mídia tradicional? O segredo de padre Paulo Ricardo passa por sua figura de liderança, mas está, principalmente, num valor comum ao mundo digital: a transparência. O que pode ser uma descoberta nova para a religião no ciberespaço já é praticado por muitas ONGs, empresas, governos e pessoas públicas.
Na religião, o que seria a transparência? A julgar pela mensagem do padre das redes sociais, neste caso transparência é assumir o discurso religioso sem receios do politicamente correto. Não que assumir sua própria identidade seja uma novidade para a religião católica, mas, não é difícil admitir que tanta música e conselhos de autoajuda estavam, ultimamente, personalizando demais a mensagem católica ao gosto do freguês.
Padre Paulo Ricardo, membro do Conselho Internacional de Catequese (Coincat), da Congregação para o Clero, uma espécie de Ministério do Vaticano para os Sacerdotes, puxou a tomada dos holofotes do politicamente correto e encarou o desafio da transparência. A julgar pela defesa ferrenha de seus milhares de seguidores e pela reação contrária, igualmente ferrenha, de seus poucos adversários: ele acertou.
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