O seminarista Matheus Pigozzo toca num ponto importante da vida de muitos casais da atualidade: o igualitarismo, que é tão injusto quanto o machismo ou o feminismo. Aliás, já lembramos em outro texto que o feminismo é só a outra face da moeda do machismo. Será que a dignidade da mulher deriva de suas tarefas extra-domiciliares? Será que a dignidade da mulher depende de sua atividade social? Matheus apresenta um bom texto sobre tema proibido na mídia laical.
Um Mundo mais Feminino?
Não sei já perceberam, mas está cada vez mais comum vermos a presença feminina em ambientes tidos como exclusivamente masculinos; as funções sociais e políticas parecem ser ultrapassadas se, ao menos parcialmente, não são ocupadas por mulheres. Até a voz que apresenta a programação televisiva agora é feminina! Para muitos, isso é uma vitória contra um sistema social machista e opressor. Agora a mulher passou não só a ser autorizada, mas quase que coagida a alcançar as mesmas funções e obrigações do sexo oposto.
Não se trata aqui de defender, com tom anacrônico, a volta de uma época na qual as mulheres eram vistas, por muitos, como incapazes e inapropriadas aos mais diversos assuntos da sociedade. O que importa, no momento, é refletir se o fato de hoje uma mulher dirigir um ônibus, pegar em armas na carreira militar ou anunciar filmes na televisão a torna "mais igual", mais independente e mais mulher.
A tradição cristã, na qual a nossa civilização encontra suas bases, sempre – ao menos teoricamente e de forma oficial – ensinou a igual dignidade do sexo feminino em relação ao masculino: a figura da criação da mulher que sai do lado de Adão, indicando nem a inferioridade, nem superioridade; a exaltação da figura mariana, sendo uma mulher a pessoa criada com maior pureza e santidade; o ensino do respeito ao casamento e ao sexo, evitando a coisificação do outro etc. Porém, ao mesmo tempo, sempre deixou explicito – e isso não só a tradição de um povo, pois é algo que está presente de forma clara na natureza comum a todos os humanos – que homem e mulher são diferentes na sua anatomia, sua psicologia e na sua função e familiar.
Analisem, pois, ajudados pela analogia bíblica do corpo. A mão tem maior dignidade do que o joelho? Não. Ambos formam um único mesmo digno corpo, no entanto, cada um exerce uma função diferente. O fato de o joelho permitir o movimento das pernas, o genufletir ou o apoio numa queda não o torna mais importante ou mais digno do que a mão, que desenvolve o papel de pegar, acariciar ou de comunicar, gestualmente, com alguém. Ambos são corpo, ambos são igualmente bons, apesar de exercerem papéis diversos. O homem e a mulher são iguais por serem imagem e semelhança de Deus, e não por pretenderem possuir o mesmo feitio anatômico, andar com as mesmas roupas ou fazer o que, geralmente, o outro faz.
A sociedade está envolta por uma atmosfera de igualitarismo tão grande que parece não ver que tratar diferentes de forma igual é tão ruim quanto tratar iguais de forma diferente. O nível chegou a tão alto escalão de gravidade que hoje se prende, denuncia e critica, duramente, quem captura tartarugas marinhas ou caça golfinhos no oceano, mas não se dá importância, e até se incentiva, a matar seres humanos inocentes no seio materno. Será que um golfinho nascido tem maior valor que um homem ainda no ventre da mãe? Ou todas as vidas são iguais? Entre salvar um cachorro que está para morrer afogado e salvar uma criança que está prestes a ser atropelada, há gente que fica com sérias dúvidas.
Mas, retornando ao assunto deste artigo, me questiono: será que com todas essas mudanças, com todo esse espaço, as mulheres têm sido mais respeitadas, mais bem tratadas, melhor valorizadas? Por um lado, acho que essa orquestração ideológica conseguiu seu objetivo. Sim, hoje as mulheres são tratadas iguais aos homens. Mas isso é realmente bom para elas? O privilégio de nove meses de gestação, por ser muito diverso da condição masculina, agora é trocado por longos machos anos de estressante trabalho, não por ser preciso para sustentar a família, mas para chegar aos altos patamares do status empresarial. A vida empenhada em zelar pela casa e a educar os filhos, vê-los crescer, dar os primeiros passos e dizer as primeiras palavras, foi masculinamente substituída pela vida dos quilométricos engarrafamentos e da entediante rotina trabalhista. Enfim, da cozinha ao escritório, dos filhos aos patrões ou empregados, do aconchego do lar à aventura do mundo! Ela está mais feliz? Ela está mais mulher? Ela está mais ela?
Não é minha intenção dizer que lugar de mulher é exclusivamente em casa, não. Às vezes, trabalhar não é só um direito, mas uma necessidade; porém, não pode ser justa uma promoção social da mulher na qual se exclua ou denigra o que mais a faz ser quem é: ser mãe, ser esposa, ser feminina, ser mulher. Sinceramente, entre os sorrisos das "modernas" mulheres do trabalho e das simples donas de casa com seus muitos filhos, vi nessas últimas um teor mais feliz, mais pleno, verdadeiro e natural.
Posso estar enganado; contudo, penso que só trataremos a mulher de forma justa e coerente quando entendermos que não é por falar em uma conferência "boa noite a todos e todas!", ou por votarmos em uma mulher somente pelo fato de ser mulher, ou, ainda, por racharmos a conta do restaurante, para sermos justos com uma assalariada. Mas, sim, quando entendermos que ela é mulher, que é diferente, e que essa diferença é bela e não interfere na sua importância e na sua dignidade. Aí imagino que teremos um mundo mais feminino, e não um mundo de mulheres sem feminilidade.
Matheus de Barros Pigozzo
Seminarista da Arquidiocese de São João Batista
Niterói-RJ
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