Reflexão sobre Mc 9,38-40
Vimos no evangelho da eucaristia de ontem, Jesus, depois de uma viagem, chegar com os discípulos, a casa. Não sabemos que casa era. Provavelmente a que Jesus habitava depois de se ter mudado de Nazaré para para Cafarnaúm.
O que interessa é saber que, no evangelho de Marcos, a casa é o lugar do ensinamento. É quando estão sós, Jesus e os discípulos, na calma e tranquilidade, sem a agitação das multidões, das praças e caminhos. Jesus aproveita para uns momentos de catequese.
Ontem: quem é o maior? Jesus coloca uma questão a partir de algo que se viveu no caminho. Depois vem a resposta, simples, breve: o último é o primeiro; o mais pequeno é o maior.
Hoje: é João que coloca uma questão a Jesus a partir de algo que se passou no caminho também: alguém que não é do grupo, que não anda connosco, não segue Jesus, expulsa demónios em teu nome. Nós proibimo-lo!
Sim! Tu não podes fazer isso. Não és do nosso grupo, não andas com Jesus, não és da nossa comunidade. Não podes fazer o que ele faz, nem o que nós fazemos. Tu não entras nas nossas categorias, na forma de ser do nosso grupo. Não pensas, não vives como nós. Não tens direito a fazer isso.
Pensamento lógico! Sim! Mas errado.
Mais uma lição de humildade, de liberdade e autonomia de Deus.
Quem és tu para colocar entraves à acção de Deus? O Espírito Santo sopra onde quer, como quer, em quem quer. Quando tu lá chegas ele já lá está. Ele é o protagonista da evangelização, da vida da igreja e da vida em Igreja; da acção de Deus na humanidade.
Ele precede-nos nas pessoas e realidades que encontramos. No fundo, a evangelização não é levar a palavra de Deus, mas é fazer despontar essa palavra que nos precede e existe já em cada realidade em cada pessoa.
Por isso ele nos desconcerta, nos ultrapassa, age fora dos nossos esquemas. E ainda bem!
Diz a carta dos bispos de 2010, como eu vos fiz fazei vós também, no nº 8: "O ES continua a suscitar e a animar novos movimentos, novas formas eclesiais, novos métodos e novos rumos, nova primavera no inverno da Igreja, quantas vezes surpreendendo e pondo em causa a excessiva confiança que pusemos nas nossas estruturas e programações, distribuição de poderes e funções" E continua no nº 13: "A igreja necessita de uma forte comoção, que a impeça de se instalar na comodidade, na estagnação e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres, dos excluidos, dos explorados, dos marginalizados".
Deus continua a provocar-nos, desconcertar-nos, espantar-nos com a sua liberdade de acção. Por muito que o queiramos prender aos nossos esquemas, ele foge-nos, liberta-se, ultrapassa-nos. Somos nós que temos de nos conformar a ele e não o contrário. Ele não pode ficar prisioneiro das nossas estruturas, que vamos construindo. Ele é liberdade e libertação.
Deixemo-nos habitar pelo ES e vivamos segundo a sua inspiração.
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