A morte batera-lhe à porta, prematura, por entre um cancro. Não chegara ainda aos quarenta anos e deixara uma esposa com uma barriga do tamanho de uma criança. O tamanho de uma vida por outra. A vida que passa por nós e nos afronta quando deixa de passar.
A esposa e a barriga encontravam-se ao ombro de um padre amigo que não eu. De pouco serviriam as palavras, que nestes momentos só ouvimos a saudade. Porém, voltado o seu rosto para o lado onde me encontrou, sorri e disse-lhe. Perante a morte, temos três formas de lhe espreitar a porta. Ou deixamos que a revolta se apodere de nós, azedando aquilo que é a beleza da nossa vida que permanece. Ou usamos de indiferença, como se nada tivesse acontecido, apagando da memória tudo o que a beleza da vida que parte e a beleza da vida que permanece nos trouxe, tornando-nos sombra da nossa própria vida. Ou encaramos a força do caminho de rosto descoberto, com a naturalidade que brota da fé, e que nos faz viver ainda mais a beleza desta vida que passa e desta vida que permanece.
A esposa abriu os olhos e esboçou uma lágrima. Logo vi que, mais que para ela, estava a falar para mim. E apanhei-lhe a lágrima com o dedo, como se fosse a única palavra que ela me conseguia responder.
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