Mãos vazias

Eis o que desejo, Senhor: chegar diante de Vós com minhas mãos vazias. Nada de virtudes, nada de trabalhos, nenhuma honra nas quais possa apoiar-me, desdenhando de Vossa Graça. Nada pretendo que possa dizer propriamente “meu”, para que diante do Justo Juiz, meu tudo sejais Vós. Como aquela viúva louvada no Evangelho (Mc 12,42ss), não quero guardar nada para mim. Dar-vos-ei primeiro o que posso; e depois implorarei a força para dar também o que não posso; dar-vos-ei o supérfluo, mas também, por Vós, meu Senhor, abro mão do necessário. Nada para mim.
Meu tempo é vosso tempo, Senhor; esses bens, que instam-me tão amiúdo, vossos na verdade. Não buscar garantias neste mundo, que tão mal remunera seus aduladores: isso pretendo, meu Deus. Deitar-vos-ei, na bolsa do Templo, não apenas o que tendes me dado todos esses anos; lançar-me-ei a mim mesmo, todo inteiro, como oferta de louvor.
Sede minha única segurança, Senhor, minha herança na terra que há vir. Desde agora, contudo, já não tenha outro tesouro, além de Vós. Meu coração exilado aguarda o dia em que reencontrará sua única recompensa, que é o Senhor. Nada tenho, nada quero, nada espero – mãos vazias; pois não tendo em que me fiar, Vós mesmo compadecer-Vos-á desse pobre. Não rejeitais um coração miserável, Senhor, e sendo de tudo privado, sei que ter-Vos-ei a meu lado. E tendo a Vós, já sacia-me nada; ao Vosso lado, acalanta-me coisa alguma.

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