A Tradição é a resposta, desde sempre, aos problemas da Igreja.

A Tradição é a resposta, desde sempre, aos problemas da Igreja.:

O Concílio Vaticano II produziu documentos, mas não é, ele mesmo, um documento: como todo Concílio é, antes de tudo, um evento, um momento da história da Igreja que, como tal, se coloca em um nível factual e não veritativo 1. Enquanto o dogma formula uma verdade que, uma vez formulada, transcende, por assim dizer, a história, o Concílio, ou melhor, os Concílios nascem e morrem na história, e pelos historiadores podem ser julgados”. (R. de Mattei)


Na capa do último livro de Roberto de Mattei 2 está São Jerônimo 3 (347-419/420); trata-se do célebre afresco ‘São Jerônimo em seu estúdio’ (c. 1480), de Domenico Ghirlandaio 4 (1449-1494), guardado na Igreja de Todos os Santos, em Florença. Os livros abertos e os pergaminhos, com escritas em grego e hebraico, remetem à sua atividade: foi o primeiro tradutor da Bíblia do grego e do hebraico para o latim, conhecida como Vulgata. Ghirlandaio quis representá-lo absorto em pensamentos, enquanto dirige seu olhar para quem o observa. Este Doutor da Igreja, garante da Tradição Católica, olha para nós, nos perscruta e, com o rosto apoiado na mão esquerda, enquanto a outra mão está em atitude de escrever, parece dizer: “mas o que fizeram da Tradição que vos entregamos?”.


O livro traz um título decididamente interessante: Apologia da Tradição. Proscrito em O Concílio Vaticano II. Uma história nunca escrita (Lindau, pp 164, € 16,00). Com base na teologia mais segura, como o é aquela da Escolástica (e de São Tomás de Aquino em particular), da Contrarreforma e da Escola Romana dos séculos XIX e XX, a qual se estende até o XXI graças à extraordinária figura de Monsenhor Brunero Gherardini5, e com base no Magistério dos Sumos Pontífices, de Mattei se faz repetidor da posição da Tradição da Igreja, aquela que a torna Santa e Imaculada. Este estudo é a melhor resposta para aqueles que buscaram confutar, com argumentos pobres e às vezes mesquinhos, a obra O Concílio Vaticano II. Uma história nunca escrita (Lindau), que valeu ao seu autor o Prêmio Acqui Storia 2011.



Podem teólogos sérios e historiadores sérios observar os acontecimentos deletérios da e na Igreja? Ou devem ignorá-los e, por obsequio, não à Verdade, mas à autoridade, aceitar como sendo bom e eficaz tudo o que desta última deriva? “Splendore Veritatis gaudet Ecclesia” (“A Igreja se compraz do refulgir da Verdade”), isto afirmou Leão XIII6 (1810-1903), aos 04 de Maio de 1902, aos representantes de institutos históricos estrangeiros em Roma. A Igreja sempre homenageou, mais cedo ou mais tarde, quem lhe demonstrou amor, contribuindo a mantê-la como a quis o seu Fundador, isto é, pura de todo erro e heresia; até mesmo com a crítica, que o amor torna sempre construtiva.


A história da Igreja nunca foi pacífica. Perseguições externas e perseguições internas, heresias, maldades, corrupções de várias origens a têm constantemente agredido, porque Ela é composta de homens, porque a sua parte militante é composta de homens concebidos com o pecado [original, NdTª.]. Então, sejam benvindas as pessoas corajosas que não se escondem no confortável ‘seguir a corrente’. O próprio Leão XIII encorajava aqueles que se propunham a examinar as chagas da Igreja, como evidenciado por sua encíclica Depuis le jour, dirigida aos Bispos e ao clero da França (08 de Setembro de 1899):



O historiador da Igreja será tanto mais eficaz em fazer relevar sua origem divina, superior a qualquer conceito de ordem puramente terrestre e natural, quanto mais tiver sido leal em não dissimular nenhum dos sofrimentos que os erros de seus filhos, e às vezes até de seus ministros, têm causado ao longo dos séculos a esta Esposa de Cristo. Estudada assim a história da Igreja, por si só constitui uma magnífica e convincente demonstração da verdade e da divindade do Cristianismo7.



De Mattei, ao escrever a sua Apologia, faz referência, em particular, a duas obras de historiadores que se permitiram investigar a história da Igreja com um olhar lúcido e desencantado, obras muito apreciadas pelo próprio Leão XIII e por São Pio X8 (1835-1914): A História Universal da Igreja (que vai desde o nascimento da Igreja até o papado de Leão XIII), do Cardeal Joseph Hergenröther9 (1824-1890) e História dos Papas a partir do final da Idade Média, do barão Ludwig von Pastor10 (1854-1929).


Os erros podem acontecer com os filhos da Igreja, seus ministros, seus Pastores, seus chefes supremos; erros que não dizem respeito apenas às vidas pessoais, mas também ao mais elevado múnus que lhes foi confiado, ou seja, o exercício do governo. “A infalibilidade do Magistério da Igreja não significa que ela não conheceu ao longo de sua história cismas e heresias que têm dolorosamente dividido os sucessores dos Apóstolos e, em alguns casos, roçado a própria Cátedra de Pedro11. No entanto, os erros que a afastaram da Verdade, transmitida pela Tradição, nada tiraram à grandeza e indefectibilidade do Corpo Místico de Cristo, porque a santidade é parte integrante da Igreja. Mons. Pio Cenci, que cuidou da edição italiana da História dos Papas a partir do final da Idade Média, de von Pastor, disse: “Não há nada a temer: eu disse tudo, mas o disse como um filho obrigado a revelar as faltas de uma diletíssima Mãe12. O próprio von Pastor, em seu leito de morte, declarou: “Digam ao Papa que a última batida do meu coração é para a Igreja e o Papado”.


Os estudiosos intoxicados pelo modernismo (justo aqueles que desde sempre se orgulham de serem científicos tanto nos pensamentos como nos estudos), conscientes ou não conscientes de o ser, não podem criticar quem, com rigorosos instrumentos historiográficos, realizam pesquisas e aprofundamentos para lançar luz sobre os fatos e eventos e sobre as causas daqueles fatos e daqueles eventos. “Se os fatos históricos colocam problemas teológicos, o historiador não pode ignorá-los e deve trazê-los à luz, remetendo-se, sempre, à doutrina da Igreja. Da mesma forma, no plano teológico, todos os batizados têm o direito de levantar problemas e colocar questões às legítimas autoridades eclesiásticas, mesmo que ninguém tenha a faculdade de se substituir ao supremo Magistério da Igreja para resolver, de maneira definitiva, os pontos controversos13.


Por que São Jerônimo pôde traduzir? Por que Santo Atanásio14 (c. 295-373), mesmo condenado e excomungado, deposto de sua cátedra episcopal, foi posteriormente reconhecido como campeão da Fé ortodoxa? Por que São Paulino15 (300-358), Bispo de Tréveris, foi praticamente o único a lutar pela Fé nicena e foi exilado na Frígia, onde morreu por causa dos arianos16? Por que Santo Agostinho17 (354-430) impugnou os pelagianos18? Por que foi concedido a São Cirilo de Alexandria19 (370-444) de enfrentar vitoriosamente Nestório20? Por que aos santos abades de Cluny, enquanto o Papado vivia um período de grande degradação, foi permitido transformar os homens e as instituições da Idade Média? A essência da Madre Igreja nunca foi conspurcada, nem mesmo quando os homens de Igreja desviaram na Fé, nos princípios, na ética. A manter viva a chama sobre o alqueire foram as áureas figuras de inteligência, de zelo, de ardor, de altas virtudes teologais e cardeais. Assim também se deu durante o Sacro Império Romano, quando agiram personalidades como Santa Matilde21 (895[?]-968); Santa Adelaide22 (931-999), regente do Sacro Império Romano e do Reino da França; Santo Henrique II23 (973/978-1024) e sua esposa, Santa Cunegunda24 (978[?]-1039).


Por que historiadores e teólogos podem estudar, investigar, tentar entender o que está errado na Igreja? Não se trata de lesa majestade, mas de amor por aquilo que Cristo edificou sobre a pedra. De Mattei responde: “Antes de serem historiadores e teólogos, os estudiosos católicos são membros do Corpo Místico de Cristo e possuem não apenas o direito, mas o dever de ocupar-se, com a competência que lhes é peculiar, de todas as questões de Fé e de moral de que a Igreja, e somente Ela, é guardiã e mestra. Todo fiel, seja qual for a sua posição ou papel na Igreja e na sociedade civil, tem o direito de levantar questões e de interpelar a autoridade eclesiástica para que os resolva, através da palavra suprema do seu Magistério25 infalível.


E, então, Deus permite ao rebanho de se defender. De fato, dom Prosper Guéranger26 (1805-1875) afirma: “De regra, sem dúvida, a doutrina desce dos bispos até os fiéis; e não devem os súditos julgar, no campo da Fé, os chefes. Mas no tesouro da Revelação há pontos essenciais sobre os quais cada cristão, pelo fato de ser cristão, deve ter o necessário conhecimento e a devida custódia27.


Bispos, doutores, monges e monjas têm-se revelado um dique providencial para deter erros e defeitos. Os três primeiros séculos do Cristianismo foram banhados pelo sangue dos mártires. O século IV, no entanto, testemunhou o grande perigo do Arianismo28. O beato John Henry Newman29 (1801-1890), em 1859, já convertido ao Catolicismo, graças aos Padres da Igreja, graças à Tradição, graças à liturgia que havia admirado em Roma, na Sicília e em Milão, escreveu um artigo no qual afirmou que, durante a crise ariana, a Ecclesia docens não se mostrou sempre como ativo instrumento da Igreja infalível. Admirável o que depois assevera, em seu peculiar e analítico estudo sobre os arianos: “Quero dizer que, naqueles tempos de imensa confusão, o divino dogma da divindade de Nosso Senhor foi proclamado, inculcado, mantido e (humanamente falando) preservado muito mais pela Ecclesia docta que pela Ecclesia docens; que o corpo do episcopado foi infiel ao seu encargo, enquanto o corpo do laicato foi fiel ao seu batismo; por vezes o Papa, por outras as sés patriarcais e metropolitanas e outras de grande importância; por outras ainda os Concílios gerais, disseram o que não deveriam ou fizeram coisas que comprometeram ou obscureceram a Verdade revelada; enquanto, por outro lado, foi o povo cristão que, sob a proteção da Providência, constituiu a força eclesiástica de Atanásio, Hilário30, Eusébio de Vercelli31 e de outros grandes e solitários confessores que teriam falhado sem aquele32.


Durante os sessenta anos da crise ariana, faltou um pronunciamento infalível da Igreja docente, que tateava na confusão; no entanto o sensus fidei conservou a integridade da Fé. O sensus fidei, através do qual o Espírito Santo opera na Esposa de Cristo, repetidamente salvou a barca de Pedro.


Em dois milênios de vida, a Igreja deu de si manifestações e provas excelsas, mas também dolorosas e ruinosas. Pensemos, por exemplo, no que foi a Roma de Leão X33 que, capturado pelo mundo, se interessou mais pelos artistas, músicos, comediantes, pelas vaidades, do que pelos deveres de um Pontífice. No entanto, foi exatamente neste momento, quando Lutero34 ainda não era conhecido, que surgiram na Igreja as Companhias do Divino Amor: um movimento nascido e crescido próximo a Santa Catarina Adorno de’ Fieschi35 (1447-1510); depois vieram aqueles que tornaram reluzente a Igreja, ainda que em um tempo de escuridão e fuligem: São Caetano de Thiene36 (1480-1547), fundador dos Teatinos; São Felipe Neri37 (1515-1595), fundador dos Oratorianos; São João de Deus38 (1495-1550), fundador dos Fatebenefratelli39, Santo Antônio Maria Zaccaria40 (1502-1539), fundador dos Barnabitas; São Jerônimo Emiliano41 (1486-1537), fundador dos Somascos; Santa Ângela Merici42 (1474-1540), fundadora das Ursulinas; Santo Inácio de Loyola43 (1491-1556), fundador dos Jesuítas; São Vicente de Paulo44 (1581-1660), fundador dos Padres da Missão; São Francisco de Sales45 (1567-1622) e Santa Joana Francisca de Chantal46 (1572-1641), fundadores da Visitação; Santa Teresa de Ávila47 (1515-1582), a grande reformadora do Carmelo. “Para escrever a história da Igreja precisaria conhecer e narrar os feitos heroicos desses homens e mulheres, que alcançaram a santidade sob a influência da Graça Divina48.


A Igreja, portanto, mesmo atravessando tempestades de todos os tipos, não perde, graças à sua Cabeça, que é Cristo, a santidade de seus membros; membros que podem identificar-se à vezes nos Pontífices, às vezes nos doutos, às vezes nos simples, às vezes no clero, às vezes nos religiosos, às vezes nos fiéis… Depende da vontade de Deus.


Os vinte e um Concílios que se subseguiram ao longo dos séculos nunca foram indolores e pacíficos, mas frequentemente sofridos, seja antes que eles ocorressem, seja durante, seja depois. Cisma do Oriente, Cisma do Ocidente, Papas, antipapas, conclaves e contra conclaves, intrigas. “A docilidade diante dos inimigos da Igreja é, ao longo da história, o defeito mais recorrente daqueles que foram chamados a exercer a suprema autoridade de governo [...]. A assistência do Espírito Santo não significa que a eleição do Papa goza de ‘infalibilidade’, assim como não significa que no conclave será necessariamente escolhido o melhor candidato. Se a eleição é válida, explica o Cardeal Journet49, mesmo que seja o resultado de intrigas e de escolhas ruins, se tem a certeza de que o Espírito Santo, que assiste a Igreja, transformado no bem também o mal, permite que isso ocorra para fins superiores e misteriosos50.


Eis que abusos e ideias corruptas vêm a contaminar as vestes sagradas, semeando discórdia e infidelidade; mundanidade e torpeza de tamanho tal que não são suficientes poucos anos para restabelecer ordem e fidelidade, ortodoxia e integridade de pensamento e de Fé. “Mas ninguém se espante”, recita uma instrução de Papa Adriano VI51 (1459-1523), que o Núncio Francesco Chieregati52 (1479-1539) leu na Dieta de Nuremberg, aos 03 de Janeiro de 1523, “se não eliminamos de um só golpe todos os abusos, visto que a doença tem raízes profundas e é muito ramificada. Dar-se-á, então, um passo de cada vez, e, num primeiro momento, se atalhará com medicinas apropriadas aos males graves e mais perigosos, a fim de que com uma reforma apressada de todas as coisas não se emaranhe ainda mais o todo53.

É interessante notar como todos os primeiros 37 Papas da história da Igreja foram santos e quase todos foram mártires, enquanto, no segundo milênio, os Papas canonizados são poucos, e nenhum deles com a palma do martírio, mas são caracterizados pela intransigência e pela militância deles, porque se opuseram firmemente aos inimigos da Fé e da Civilização Cristã, trata-se de Gregório VII54 (1020/1025-1085), de Pio V55 (1504-1572) e Pio X.


O Venerável Pio Brunone Lanteri56 (1759-1830), fundador da Amizade Católica, de Turim, à qual pertencia Joseph de Maistre57 (1753-1821), um apologista do Papado, sustentava que “o Santo Padre pode tudo, ‘quodcumque solveris, quodcumque ligaveris etc.’58, é verdade, mas não pode nada contra a divina constituição da Igreja; é Vigário de Deus, mas não é Deus, nem pode destruir a obra de Deus59.


Resulta irrenunciável, depois do discurso de Bento XVI à Cúria Romana, em 22 de Dezembro de 2005, prosseguir no debate e na análise do pastoral Concílio Vaticano II, que tantos problemas criou dentro da Igreja e na Fé de clero e crentes, que se diziam católicos e que hoje não entendem mais o que realmente são, porque homens de Igreja traíram a Fé de sempre, dialogando com o erro, com os distantes, com as outras religiões, com os governos liberais, distantes anos-luz de Cristo Rei, presumindo ter algo para aprender com eles e esquecendo-se, assim, de serem depositários da Verdade absoluta de Nosso Senhor Jesus Cristo e, portanto, de Deus.


O precioso e explicativo livro do de Mattei esclarece como o Magistério seja chamado a alimentar-se à Tradição, e que ele não se identifica com a Igreja, “porque dEla constitui uma função, e por Ela é exercitado para ensinar as Verdades reveladas60. A Tradição, sendo Verdade, não deve ser interpretada, mas explicada, definida e, sobretudo, recebida e transmitida. Monsenhor Gherardini define perfeitamente a Tradição: “é a transmissão oficial, por parte da Igreja e de seus órgãos, para isto divinamente instituídos e pelo Espírito Santo infalivelmente assistidos, da divina Revelação na dimensão espaço-temporal61. Enquanto o Cardeal Louis Billot62 (1846-1931) explica que a Tradição é a “regra de fé anterior a todas as outras”: sempre igual a si mesma63, como igual a si mesma é a Fé, da qual a Tradição é a explicitação, e como igual a si mesmo é Cristo, que é o conteúdo e a alma da Fé e, portanto, da Tradição.


Cristina Siccardi



Tradução e notas (NdTª.): Giulia d’Amore di Ugento.





[1] NdTª.: ‘Veritativo’ é relativo ao nível ou condição de verdade de uma frase. Os valores veritativos mais comuns que podem ser associados a uma dada frase são: verdadeiro e falso.



[2] NdTª.: Roberto de Mattei (1948). Historiador italiano dedicado particularmente à história europeia, entre os séculos XVI e XX, com foco sobretudo à história das ideias religiosas e políticas. Católico tradicionalista, é conhecido por suas posições anti-evolucionistas, anunciadas inclusive em ambientes institucionais, e por sua crítica ao relativismo e às linhas de pensamentos que se afirmaram na Igreja após o Concílio II. Atualmente é docente de Historia Moderna e História do Cristianismo junto à Universidade Europeia de Roma, instituto dos Legionários de Cristo, onde também é coordenador do curso de láurea em Ciências Históricas. Foi conselheiro para questões internacionais dos governos Berlusconi I e II. É presidente da Fundação Lepanto e membro dos conselhos diretivos do Instituto Histórico Italiano para a idade Moderna e Contemporânea e da Sociedade Geográfica Italiana. Colabora com o Pontifício Comitê de Ciências Históricas. É diretor das revistas Nova Historica, Radici Cristiane e Corrispondenza Romana. Em 2001, fez, junto com outros renomados católicos tradicionalistas, um apelo público ao Papa contra o encontro interconfessional de Assis III. Publicou dezesseis títulos, entre os quais se destacam uma biografia sobre Plínio Corrêa de Oliveira e outra sobre o papa Pio IX; um texto sobre as relações entre a Europa e o Islã; um livro sobre os movimentos sectários e heréticos do século XVI e um ensaio de crítica à negação das ‘raízes cristãs’ da Europa, além do já célebre ‘Concílio Vaticano II. Uma história nunca escrita’, no qual de Mattei critica aqueles personagens que poderiam ter represado a ‘onda progressista’ no seio da Igreja e não o fizeram. De Mattei atribui a deriva pós-conciliar da Igreja a fatores como o influxo da chamada ‘teologia progressista’ (Hans Küng). Por causa disso, o seu nome é associado às posições sustentadas pelos lefebvrianos. Por esta obra foi indicado, em 2011, a dois prêmios: ‘Pen Club Italiano’ e ‘XLIV Premio Acqui Storia’, este último ele acabou ganhando em outubro.


[3] NdTª.: Sofrônio Eusébio Jerônimo (Hieronymus), São Jerônimo (347[?]-420), padre, apologista e primeiro tradutor da Bíblia do grego e hebraico para o latim, a Vulgata. Um dos Padres e Doutores da Igreja. Faleceu em Belém – onde fora morar para aprender perfeitamente o hebraico –, perto da gruta da Natividade. Padroeiro dos bibliotecários, das secretárias, dos arqueólogos e dos tradutores. Estudou em Roma e em Constantinopla, onde foi discípulo de Gregório Nazianzeno. Voltando a Roma (382), foi secretário do Papa Damaso I (305[?]-384[?]), tornando-se o seu mais provável sucessor. No entanto, a maioria do clero – que era, então, joviniana (Joviano, monge herético do IV século, que São Jerônimo combateu inclusive com uma obra em dois livros, Adversus Iovinianum) – não gostava de seu rigor moral e pretendia acabar com as agapetas (moças e viúvas que consagravam a vida a Deus com voto de castidade e conviviam castamente com eclesiásticos que professavam o celibato, a quem serviam em espírito de caridade, ocupando-se das tarefas do dia a dia; eram chamadas também de irmãs adotivas. Essa forma de convivência com base no amor espiritual era inspirada na 1ª Carta aos Coríntios: 9,4-5). Os antagonistas de Jerônimo se opuseram fortemente à sua eleição, aproveitando, como pretexto, a morte da jovem Blesilla – da poderosa família dos Cornélios, que, com a mãe e a irmã, abraçara a vida severa de orações, jejuns e penitências que São Jeronimo pregava – e elegeram como Papa Sirício (334-399), o qual acabou por condenar a heresia joviniana (390/392). Jerônimo voltou ao Oriente com seus discípulos e continuou a batalha pelo celibato clerical, fundando conventos masculinos e femininos. No ano em que morreu, o Imperador Flávio Honório (384-423) finalmente impunha o celibato ao clero. A Vulgata foi o maior empenho do santo que, a pedido de Papa Damaso I, reviu a tradução dos Evangelhos (382) e do Antigo Testamento em hebraico (390), o que lhe tomou 23 anos. A obra serviu de base para todas as posteriores traduções, até o XX século quando, para o Antigo Testamento, passou-se a utilizar o texto massorético hebraico e a Septuaginta e, para o Novo Testamento, utilizam-se os textos gregos. São Jerônimo escreveu mais de 70 biografias, entre as quais a de São Pedro e a própria; a obra foi chamada de De Scriptoribus Ecclesiasticis. Escreveu também: De Virginitate Beatae Mariae, De viris illustribus e a vida de três eremitas: Paulo, Ilarião e Malco. Memória: dia 30 de Setembro.


[4] NdTª.: Domenico di Tommaso Bigordi, ou Domenico Ghirlandaio (1449-1494). Pintor da escola florentina do Renascimento, contemporâneo de Botticelli, que se destacou pela qualidade de seus afrescos, autênticas crônicas da vida contemporânea. Adotou o nome de Ghirlandaio (ghirlanda = guirlanda) por ser filho de Tommaso Bigordi Ghirlandaio, um fazedor de coroas de flores, em ouro ou prata, que serviam de adorno de penteados para homens e mulheres. Foi discípulo do pintor florentino Alesso Baldovinetti, mas também demonstrou ter em seu estilo a influência de outros renascentistas italianos como Giotto, Masaccio, Andrea del Castagno e Andrea del Verrochio. Formou toda uma geração de excelentes artistas, dentre os quais se destaca Michelangelo Buonarroti.


[5] NdTª.: Brunero Gherardini (1925) é um sacerdote italiano e canônico da Basílica patriarcal de S. Pedro. Foi ordinário da Pontificia Università Cattolica Lateranense, decano da Facoltà Teologica e consultor da Congregação para a Causa dos Santos. É postulante dos beatos Pio IX e Dina Bélanger. Teólogo e autor de mais de oitenta livros e centenas de artigos; especialista em eclesiologia, cristologia, mariologia, teologia espiritual, Karl Barth e Martinho Lutero. Também especialista e interessado, desde 1948, pelo Ecumenismo, mas, segundo afirma, cada vez mais insatisfeito e crítico. Dirige a revista internacional Divinitas, de cunho claramente tomista. Das oitenta obras, destacam-se as referentes ao Concílio Vaticano II, sobretudo a trilogia: Concilio Ecumenico Vaticano II. Un discorso da fare; Concilio Ecumenico Vaticano II e, previsto para o próximo março, Alle radici d’un equivoco.


[6] NdTª.: Vincenzo Gioacchino Raffaele Luigi Pecci Prosperi Buzzi (1810-1903), Papa Leão XIII, O.F.S., foi padre (1837), Núncio Apostólico (1843), Bispo de Tamiathis (1843), Arcebispo de Perugia (1843) e Cardeal-presbítero (1853) de São Crisogno, É comum referir-se ao Papa Leão XIII como o ‘Papa das encíclicas sociais’, pelas suas doutrinas sociais e econômicas, nas quais ele apontava as falhas do Capitalismo e do Comunismo. A mais conhecida de todas, a Rerum Novarum (1891), sobre os direitos e deveres do capital e do trabalho, introduziu a ideia da subsidiariedade no pensamento social católico e marcou o início da sistematização do pensamento social católico, a Doutrina social da Igreja Católica. Concedeu a S.A.I., a Princesa D. Isabel, uma Rosa d’Ouro, por sua generosidade ao publicar a Lei Áurea. A encíclica Arcanum Divinae Sapientiae, sobre os valores da família, aborda os problemas relacionados com o matrimônio, fazendo a defesa da indissolubilidade do casamento e críticas ao divórcio. Leão XIII condenou a Maçonaria (Humanum Genus, 1884) e a heresia do Americanismo (Testem Benevolentiae – 1899).


[7] NdAª.: R. de Mattei, Apologia da Tradição. Proscrito em O Concílio Vaticano II. Uma história nunca escrita, Lindau, Torino 2011, pp. 12-13.


[8] NdTª.: Giuseppe Melchiorre Sarto (1835-1914), o Papa Pio X, O.F.S., foi o 257.º Papa da Igreja Católica (1903). Ficou conhecido como o ‘Papa da Eucaristia’ e foi o primeiro Papa a ser canonizado desde Pio V (1566–72). Preocupou-se especialmente em renovar a vida espiritual da Igreja, deixando de lado as preocupações políticas. Lutou contra o Modernismo e introduziu (1910) o juramento anti-modernista para os sacerdotes. Capelão de Tombolo (diocese de Treviso – 1858), pároco de Salzano (Veneza – 1867-1875), cônego da Catedral de Treviso, chanceler episcopal, diretor espiritual do Seminário e Bispo de Mântua (1884), pelo Papa Leão XIII, que também o nomeou Cardeal e Patriarca de Veneza (1893). Quando Papa (1903), indiferente às reformas sociais em curso, desenvolveu um papado extremamente conservador, concentrando sua atenção nos problemas apostólicos, em defesa do Catolicismo Romano. Com a Encíclica O firme propósito, permitiu que os católicos italianos participassem das eleições políticas. Dedicou-se particularmente à vida interna da Igreja para preservar a integridade da doutrina católica, ameaçada pelas novas correntes radicais no campo filosófico, teológico e bíblico, de inspiração modernista. Adotou rigorosas medidas contra eclesiásticos e leigos suspeitos de aderir a essa tendência. Reprimiu diretamente o Modernismo com a Encíclica Pascendi Dominici gregis (1907), não aceitou os democratas-cristãos e rejeitou a separação entre a Igreja e o Estado. Deu início à reforma e à reorganização da Cúria Romana (1908) e excomungou (1909) o sacerdote R. Murri, animador do movimento Democracia Cristã. Dissolveu (1910) o grupo francês Sillon, criado por Marc Sangnier. Incentivou a administração do Sacramento da Eucaristia, condenou a emancipação política e intelectual dos fiéis e reformou a liturgia e a música sacra. Tornou-se um dos precursores da Ação Católica, organização de jovens trabalhadores católicos voltada para a participação dos leigos no apostolado da hierarquia eclesiástica. Promoveu reformas litúrgicas e, também, desenvolveu a adaptação e a sistematização da lei canônica que resultou na publicação póstuma de um novo código, o Codex Iuris Canonici (1918). Foi beatificado (1951) e canonizado (1954) pelo Papa Pio XII. Memória: dia 03 de Setembro. Biografia.


[9] NdTª.: Joseph Hergenröther (1824-1890) foi um cardeal alemão, nomeado (1879) pelo Papa Leão XIII.


[10] NdTª.: Ludwig von Pastor (1854-1928) foi um historiador e diplomata alemão naturalizado austríaco. A sua obra mais conhecida é Geschichte der Päpste seit dem Ausgang des Mittelalters (História dos Papas a partir do final da Idade Média), que rendeu dezesseis volumes, entre 1886 e 1933.


[11] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 13.


[12] NdAª.: Idem, p. 12.


[13] NdAª.: Ibidem, p. 14.


[14] NdTª.: Atanásio, o Grande (295[?]-373), foi patriarca de Alexandria do Egito. Seu nome é ligado à Escola teológica de Alexandria, junto com Clemente e Orígenes. É Santo e Doutor da Igreja Católica.


[15] NdTª.: São Paulino (300-358) foi um Bispo francês que exerceu o episcopado em Tréveris (Alemanha). Por causa de uma disputa teológica entre Ário e Atanásio de Alexandria, e tendo ficado do lado deste, foi banido do País e enviado em exílio na Frigia (atual Turquia). A Igreja o venera como Santo.


[16] NdTª.: Os arianos eram sequazes de Ário ou Arius (256-336), que formulou a heresia do Arianismo (vide nota abaixo). Arius foi Bispo de Alexandria e não parece ter sido um homem de um caráter ascético, de moral pura e de convicções. Em 318, houve uma discussão entre o Bispo Alexandre de Alexandria e Arius, porque este acusava aquele de Sabelianismo (também conhecido como modalismo, monarquianismo modalista ou monarquianismo modal, é a crença não-trinitária de que Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo são diferentes ‘modos’ ou ‘aspectos’ de um Deus único percebido pelo crente). Num Concílio que Alexandre convocou em seguida, Arius foi condenado, mas ele tinha muitos seguidores e foi acolhido por Eusébio de Cesárea. Para restabelecer a união entre os Cristãos, o Imperador Constantino I convocou o Primeiro Concílio de Niceia (325), onde a doutrina de Arius acabou sendo condenada como herética e ele expulso, mas sua condenação foi anulada pelo Bispo Eusébio de Nicomédia (328), quando Atanásio se tornava Bispo de Alexandria. Em 335, Arius seria supostamente reabilitado, pois teria concordado em subscrever a doutrina de Niceia, que ele primeiro havia recusado, mas, antes que pudesse receber a comunhão em Constantinopla, morreu subitamente. De acordo com o relatório de Sócrates Scholasticus (História da Igreja, I, XXXVIII), o Metropolita Alexandre de Constantinopla (314-337), pediu, em conflito de consciência que a ordem do imperador lhe causara, que matassem Arius ou a ele, antes que se desse a comunhão.


[17] NdTª.: Aurélio Agostinho (354-430), Santo Agostinho de Hipona, foi um filósofo, bispo e teólogo romano. Padre, doutor e santo da Igreja, é conhecido simplesmente como Santo Agostinho, também chamado de Doctor Gratiae (‘Doutor da Graça’). Segundo Antonio Livi, filósofo, editor e ensaísta italiano católico, Agostinho foi ‘o maior pensador cristão do primeiro milénio e certamente também um dos maiores gênios da humanidade em absoluto’. As Confissões são sua obra mais célebre. ‘Fecisti nos ad te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te’ (Nos fizestes para Ti, Senhor, e nosso coração está inquieto até que descanse em Ti’ – Confissões I, 1).


[18] NdTª.: O pelagianismo é uma heresia atribuída ao monge Pelágio de Bretanha (350-430) e sustenta, em suma, que o homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e, portanto, não necessita da graça divina, a qual somente facilitaria a obediência. Segundo eles, todo homem nasce ‘moralmente neutro’, sendo capaz de se salvar quando assim o desejar, por seus próprios meios, sem qualquer intervenção divina. Pelágio debateu (séc. V) a sua heresia com Santo Agostinho, que defendia que o pecado original de Adão foi transmitido a toda a humanidade e que, por mais que o homem caído possa ainda escolher, está escravizado ao pecado e não pode não pecar. Para Pelágio, a queda de Adão afetou somente a ele, e se Deus exige que as pessoas vivam vidas perfeitas também lhes dá a habilidade moral para que possam fazê-lo. Segundo ele, Adão foi um mau exemplo para a sua descendência, enquanto Jesus foi um bom exemplo fixo para o resto da humanidade e também proporciona uma expiação a seus pecados, mas a humanidade continua a manter total controle sobre as suas ações. As sentenças pronunciadas contra esta heresia foram confirmadas pelo Papa Inocêncio I (401-417).


[19] NdTª.: Cirilo de Alexandria (375[?]-444) foi Patriarca de Alexandria e um dos Padres gregos. Foi o protagonista das controvérsias cristológicas do final do século IV e do século V e uma figura central do Primeiro Concílio de Éfeso (431), que levou à deposição de Nestório do Patriarcado de Constantinopla. Padre e Doutor da Igreja, sua reputação no mundo cristão resultou em seus títulos: Pilar da Fé e Selo de Todos os Padres. A Igreja Católica não o comemora no calendário tridentino, pois sua celebração foi adicionada apenas em 1882, sendo o dia 9 de fevereiro o dia de sua memória. A reforma do calendário o transferiu para o dia 27 de junho (dia em que teria morrido). O Papa Pio XII, por ocasião do XV centenário da morte de São Cirilo, promulgou (09 de abril de 1944) a Encíclica Orientalis Ecclesiae.


[20] NdTª.: Nestório (386[?]-451[?]) foi um monge que se tornou Patriarca de Constantinopla (428-431). Baseando-se na Escola de Antioquia, formulou a heresia nestoriana, que defende que em Cristo há duas pessoas (ou naturezas) distintas, uma humana e outra divina, completas em si de tal forma que constituem dois entes independentes. Nega também o título Theotokos (Mãe de Deus) a Maria Santíssima. Foi acusado de heresia por Cirilo de Alexandria. Ao procurar se defender da acusação no Primeiro Concílio de Éfeso acabou sendo condenado e derrubado de sua sé episcopal. Retirou-se para um mosteiro onde defendeu suas teorias heréticas por toda a sua vida. Nestório escreveu muito, mas quase todos os seus sermões foram queimados por ordem do Imperador Teodósio II. Os escritos que restam estão siríaco. A heresia nestoriana foi condenada também no Concílio de Calcedônia (451). CISMA NESTORIANO. Após as condenações nos dois concílios, as igrejas que apoiavam Nestório – que giravam em torno da Escola de Edessa – deixaram a Igreja Ortodoxa e se tornaram uma seita. Anatemizados no Império Romano, se mudaram para a Pérsia, então sob domínio sassânida, onde foram recebidos pelos cristãos persas que já haviam se tornado independentes de Constantinopla. A Escola de Edessa retornou então para a cidade de Nisibis, daí pra frente o centro do Nestorianismo. Em 484, os sassânidas mataram seu bispo (pró-bizantino) e o substituíram pelo nestoriano Barsauma de Nisibis, cortando efetivamente o último laço entre a cristandade persa e o Império Romano. Daí pra frente, o Nestorianismo se espalhou velozmente por toda a Ásia, ganhando presença na Índia, nas estepes da Ásia central, nos territórios mongóis e na China.


[21] NdTª.: Matilde de Ringelheim (890[?]-968), Santa Matilde, era Duquesa de Saxônia e Rainha da Alemanha, e filha do Conde Dietrich da Vestfália e de Reinhild da Dinamarca. Ela foi educada pela avó, a Abadessa do convento beneditino de Eufurt, e logo abraçou a Fé Católica. Em 909, casou-se com Henrique I da Germânia, dito o Passarinheiro. Tiveram cinco filhos. Hedwige da Saxônia (esposa de Hugo, o Grande, Conde de Paris); Oto (Rei e mais tarde – 961 – Imperador Oto I); Gerberga da Saxônia (casada primeiro com Giselbert, Duque da Lorena, e depois com o Rei Luís IV da França); Henrique I, o Briguento (Duque da Baviera) e Bruno I, o Grande (Arcebispo de Colónia e Duque de Lorena). Durante o reinado do marido, ocupou-se das obras de caridade fazendo erigir numerosos hospitais e os mosteiros de Quedlinburg, Pöhlde, Nordhausen, Grona e Duderstadt. Viúva, retirou-se em um convento (primeiro em Nordhausen, depois em Quedlinburg), obtendo assim a conversão dos filhos. Foi proclamada santa por aclamação, logo após a sua morte.


[22] NdTª.: Adelaide de Borgonha (931-999), Santa Adelaide da Itália, ou Santa Adelaide de Borgonha. Foi regente do Sacro Romano Impero e do Reino da França e era filha de Rodolfo II, Rei de Borgonha, e de Berta da Alemanha. Aos dezesseis anos, casou-se com Lotário II, Rei da Itália, filho de Hugo de Provença, e logo ganhou fama de cristã exemplar. Teve apenas uma filha: Emma, Rainha da França como esposa de Luís IV. Viúva aos dezenove anos, pois o marido fora envenenado, Berengário II queria obrigá-la a casar com o filho, Adalberto, para tomar a coroa italiana, mas ela se negou e foi aprisionada por Berengário. Adelaide conseguiu fugir com a filha Emma e pediu ajuda a Oto I, filho de Santa Matilde, que a ajudou a recuperar a coroa do Reino da Itália. Oto I a desposou (651) e tiveram quatro filhos: Matilde (Priora dei Quedlinburg); Henrique; Bruno; Oto (que se tornou o Imperador Oto II). Novamente viúva (973), tornou-se regente e conselheira do filho Oto II e, depois, do neto Oto III. Mulher culta (falava quatro línguas), dedicava-se não apenas aos assuntos de Estado, mas sobretudo à caridade e à construção de conventos. Nos últimos anos, retirou-se no convento de Seltz (Alsácia), onde morreu, mas de seu túmulo, uma vez bastante visitado, as relíquias despareceram após uma reforma. Foi elevada aos altares (1907) pelo Papa Urbano II.


[23] NdTª.: Henrique II, o Santo (973/978-1024), Duque de Baviera, foi Rei da Alemanha (1002) e da Itália (1024). Foi coroado com a famosa Coroa de Ferro, que contém um dos cravos da Crucificação de Cristo. Filho de Henrique, o Pacífico, foi coroado Imperador do Sacro Romano Império (1014) pelo Papa Bento VIII. Foi o último exponente da dinastia Saxônica. Foi o único rei alemão a ser declarado santo pela Igreja Católica. Casado com Cunegonda (vide nota abaixo), inspirou sua vida no modelo evangélico de caridade e oração e reinou solícito com o bem-estar de seu povo, preocupando-se sempre em promover-lhe a elevação humana e cristã. Por sua insistência, o papa Bento VIII prescreveu (1014) o uso do Credo Niceno-Constantinopolitano, aos domingos na Missa. Segundo se conta, ele e sua esposa fizeram votos de castidade e por isto não deixaram filhos. Henrique foi canonizado (1147) pelo Papa Clemente II, e sua esposa Cunegunda (1200) pelo Papa Inocêncio III. Suas relíquias foram carregadas em campanhas contra exércitos heréticos em 1160. Sua tumba está na Catedral de Bamberg. Memória: dia 13 de Julho.


[24] NdTª.: Cunegunda de Luxemburgo (975-1040), também conhecida por Cunegundes e Cunigunda, foi a esposa do Imperador São Henrique II (vide nota acima). Filha de Siegfried de Luxemburgo (922-998) e de Edviges de Nordgau (935[?]-992), era descendente de sétima geração de Carlos Magno. O seu casamento com o Santo Henrique II foi espiritual, isto é, eles se casaram com o mútuo acordo de não consumarem o ato. Cunegunda participava da vida política da corte, inclusive dos Conselhos Imperiais. Tornou-se Imperatriz do Sacro Romano Império. Após a morte do santo rei (1024), ela se tornou regente, juntamente com o seu irmão, até a eleição de Conrado II. Viúva, Santa Cunegunda ficou relativamente pobre, devido à enorme riqueza doada por ela e pelo marido às obras de caridade. Em 1025, exatamente um ano após a morte do esposo, Santa Cunegunda retirou-se à Abadia beneditina de Kaufungen. Foi sepultada na Catedral de Bamberg, perto de seu esposo e foi canonizada pelo Papa Inocêncio III (1200). Memória: dia 03 de Março.


[25] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 14.


[26] NdTª.: Prosper-Louis-Pascal Guéranger (1805-1875) foi um sacerdote francês, abade e restaurador do Priorado Beneditino de Solesmes, do qual foi primeiro Prior-geral. Fundou a Congregação da França da Ordem de São Bento. Contrariando o uso do clero galicano, começou a usar o Missal Romano em seus ofícios, convertendo-se no inspirador do movimento francês da restauração litúrgica. Em 11 de julho de 1833, com o consentimento do bispo de Le Mans, adquiriu o velho Priorado de Solesmes (secularizado pela Revolução Francesa), para onde se mudou com três companheiros, restaurando assim a Ordem Beneditina na França. Em 1837 mudou-se para Roma e emitiu os votos solenes na Abadia de San Paolo Fuori le Mura. Em 1º de setembro, obteve do Papa Gregório XVI um Breve Apostólico com o que estava fundada a Congregação da França da Ordem de São Bento, herdeira das suprimidas congregações de Cluny, de San Mauro e dos Santos Vito e Idulfo. Entre seus escritos mais importantes cabe recordar Instituições litúrgicas (1840-1851) e O Ano Litúrgico (1841-1866).


[27] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 32.


[28] NdTª.: O Arianismo foi uma heresia defendida pelos seguidores de Arius (vide nota acima), bispo de Alexandria, que negava a existência de uma consubstancialidade entre Deus Filho (Jesus Cristo) e Deus Pai que os igualasse, fazendo do Cristo pré-existente uma criatura, embora a primeira e mais excelsa de todas, encarnada em Jesus de Nazaré: Jesus seria subordinado a Deus, e não o próprio Deus. Segundo Arius, só existe um Deus; Jesus seria seu filho e não a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Afirmava que Deus seria sempre um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si mesmo.


[29] NdTª.: John Henry Cardeal Newman (1801-1890), C.O., foi um sacerdote anglicano inglês convertido ao Catolicismo. Foi nomeado cardeal pelo Papa Leão XIII (1879). Foi beatificado pelo Papa Bento XVI (2010), em Birmingham. Era ainda sacerdote da Igreja Anglicana quando se tornou um dos líderes do Movimento de Oxford. Considerando o Anglicanismo de seu tempo excessivamente protestante e laicizado, e o Catolicismo corrompido em relação às origens do Cristianismo, buscou uma ‘via média’ entre os dois, e, pesquisando sobre os primórdios da Igreja Católica e do Cristianismo em geral, converteu-se ao Catolicismo. Depois de sua conversão (1845), foi ordenado (1847) sacerdote da Igreja Católica em Roma, abriu e dirigiu em Birmingham um oratório de São Filipe Néri e foi reitor da Universidade Católica da Irlanda (1854). John Henry Newman foi proclamado (1991) venerável depois de uma intensa investigação sobre a sua vida e as suas obras, feita pela Congregação para a Causa dos Santos.


[30] NdTª.: Hilário de Poitiers (300[?]-368) foi um bispo da cidade romana de Pictavium (Poitiers), na Gália. Doutor da Igreja, é chamado de Martelo dos Arianos (Malleus Arianorum) e o Atanásio do Ocidente. Memória: dia 14 de Janeiro.


[31] NdTª.: Eusébio de Vercelli (283[?]-371), Papa, Mártir (309), foi o primeiro bispo conhecido do norte da Itália na antiga Diocese de Vercelli e um dos principais expoentes da luta contra a difusão da heresia ariana. É santo da Igreja Católica. Memória: 16 de Dezembro. Biografia.


[32] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 26.


[33] NdTª.: Giovanni di Lorenzo de’ Medici (1475-1521), o Papa Leão X (1513), foi o último não-sacerdote a ser Papa. Coube-lhe ser o Papa do começo da Reforma Protestante de Martinho Lutero, com suas 95 teses. Era o segundo filho de Clarice Orsini e Lorenzo de Medici, o governante mais famoso da República de Florença. Seu primo, Giulio di Giuliano de Medici, viria a sucedê-lo como Papa Clemente VII (1523-34). Seu pontificado entrou para a história por fazer de Roma um florescente centro cultural e aumentar o poder papal na Europa à custa do aumento da divisão da Igreja ocidental e do fortalecimento do movimento luterano. Continuando o trabalho de Júlio II (seu predecessor) no terreno artístico, acelerou as obras da Basílica de São Pedro, ampliou a Biblioteca do Vaticano e fez de Roma novamente o centro cultural do Ocidente. No campo político, concluiu um acordo que dava aos reis da França o poder de eleger quase toda a hierarquia religiosa do País, mas quando Francisco I da França invadiu a Itália, apoiou as tropas do imperador Carlos V. Para financiar os vultosos gastos militares e com a corte papal, aumentou a venda de indulgências, o que deu origem ao desafio a Roma lançado por Martinho Lutero (1517), o qual, obviamente, tinha interesses, junto com a nobreza germânica, nos ganhos financeiros desse mercado. Com o encerramento do Concílio de Latrão, convocado por Júlio II, foi incapaz de avaliar as profundas raízes políticas e sociais das teses luteranas e perdeu a oportunidade de desenvolver reformas imprescindíveis na Igreja Católica.


[34] NdTª.: Martinho Lutero (1483-1546), alemão, foi um sacerdote agostiniano (1507) e professor de teologia, principal responsável pela herética Reforma Protestante. Alegando que a Igreja Católica negociava as indulgência e contestando que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou (1517), com suas 95 Teses, o pregador enviado por Roma para pregar sobre as indulgências, o frade alemão Johann Tetzel (1465-1519), o qual respondeu com 122 Antíteses, e Lutero replicou com o sermão sobre a Graça e a Indulgência. Mas Tetzel, após estudos teológicos junto à Universidade de Frankfurt an der Oder, compôs uma dissertação e mais 50 teses que contrapôs a Lutero. A recusa de Lutero em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X (1520) e do Imperador Carlos V (Dieta de Worms, 1521), resultou em sua excomunhão pelo Papa e na condenação pelo Imperador, como fugitivo e herege, sendo proscritas suas obras. Sobre sua vocação, ele teria se tornado monge apenas para escapar à prisão, por ter matado um colega de estudos, Jerônimo Buntz (não há quase informações sobre ele). A sua elogiosa biografia no Wikipédia, no entanto, informa que se deveu à intercessão de Sant’Ana, a quem recorreu durante uma tempestade, prometendo que se o salvasse dos raios tornar-se-ia monge. Lá até se menciona a morte do colega, mas não se lhe é atribuída. O Wikipédia também informa que sua morte foi natural, embora, algumas linhas abaixo sugira que possa ter sido assassinado. Mas a tese de suicídio parece ser mais crível, tendo em vista que é apontada tanto por católicos como por protestantes, como Ambrósio Kuntzell (ou Kudtfeld), seu criado, que depois se tornou médico, e que teria contado que encontrara seu amo enforcado no quarto; o doutor de Coster, que o teria examinado logo após a morte, já no chão, mas com os sinais típicos de enforcamento; Jacques Maritain, que, em sua obra Três Reformadores, publicou uma ilustração feita por certo Lucas Fortnagel logo após a morte de Lutero; Thomas Bozio, em seu De Signis Ecclesiae (1592), afirma que ouviu de um criado de Lutero que ele havia se enforcado. O doutor G. Claudin, na Crônica Médica (1900, p. 99) publicou o texto do depoimento do criado. Evidentemente, uma figura como Lutero não cabe em uma biografia de notas de pé de página.


[35] NdTª.: Caterina Fieschi Adorno (1447-1510), ou Santa Catarina de Gênova, foi uma mística italiana, proclamada santa (1737) pelo Papa Clemente XII. É conhecida pelo título de Doutora do Purgatório, por ter escrito o Tratado do Purgatório. Filha do nobre genovês Giacomo Fieschi, sobrinho de Papa Inocêncio IV e Vice-rei de Nápoles por breve período. Casou-se (1463), por conveniência política, com o príncipe Giuliano Adorno, acrescentando o sobrenome dele ao seu. Depois de anos de vida mundana, converteu-se, mudou de vida e teve a primeira visão mística (1473). Logo o marido também se converteu e ambos passaram a levar uma vida simples, mudando-se para uma pequena casa, perto de um hospital. O marido entrou para a Ordem Terceira de São Francisco. A vida mística de Santa Catarina foi intensa e resultou em dois escritos: o Tratado do Purgatório e o Diálogo Espiritual. Ela teve uma vida de intenso serviço à caridade fraterna. Em seu ensino espiritual se evidencia a luta contra o amor próprio. Deus – diz a mística – deve ser amado por Ele mesmo, não por temor ou gratidão. O fim da vida espiritual é chegar a amar Deus completamente, e para isso se faz necessário despir-se do amor próprio, porque este pode se apropriar da mente e do coração humano, tornando-se o motor do próprio pensar e agir e excluindo Deus de sua vida. Para purificar o ‘eu’ que cresceu demais, em prejuízo do Divino, o próprio Deus permite, aqui e no Purgatório, o sofrimento. Em 1497, impele o notário, filantropo e humanista genovês Ettore Vernazza a fundar a primeira Companhia do Divino Amor, um movimento de clero e leigos que será o modelo para análogas instituições de caridade de outras cidades italianas, no quadro do que foi chamado a Reforma Católica. Beatificada em 1675, foi canonizada em 1737. Memória: dia 15 de Setembro.


[36] NdTª.: São Caetano de Thiene (1480-1547) nasceu em Vicenza, então parte da República Veneziana, de família nobre. Aos 24 anos recebeu a láurea em direito civil e canônico (utriusque Juris Doctor). Em 1506, trabalhou como diplomata para o Papa Julius II, com quem ele ajudou a conciliar a República de Veneza. Em 1516, ordena-se padre. Em 1523, funda o Oratório do Divino Amor, congregação erigida canonicamente pelo Papa Clemente VII em 1524. A partir do nome da cidade de Chieti (em Latim: Theate), surgiu o nome pelo qual a ordem é conhecida, os ‘Teatinos’.


[37] NdTª.: Felipe Néri (1515-1595), o Apóstolo de Roma e o Santo da Alegria, foi um padre e santo católico. Em 1564, o Papa Pio IV pediu a Felipe Néri que assumisse a responsabilidade da Igreja de São João dos Florentinos, ordenando três dos seus discípulos, que viviam e oravam em comunidade, sob a direção de Felipe. Com o placet do Papa Gregório XIII, adquiriram (1575) sua própria Igreja, Santa Maria de Vallicella, que foi reformada por estar em ruínas. O Papa aprovou formalmente a Congregação do Oratório, a única em que os sacerdotes, sendo seculares, viviam em comunidade, mas sem votos, e mantinham as suas propriedades, devendo contribuir para as despesas da comunidade. Os que quisessem fazer votos, eram livres para deixar a Congregação e unir-se a uma ordem religiosa. O instituto tinha como fim a oração, a pregação e a administração dos sacramentos. A aprovação final veio em 1612.


[38] NdTª.: Juan Ciudad (1495-1550), São João de Deus, foi um religioso espanhol de origem portuguesa, fundador da Ordem Hospitaleira dos ‘Fatebenefratelli’ (os Irmãos Hospitaleiros). Em 1690, foi proclamado santo pelo Papa Alexandre VIII. Memória: dia 08 de Março.


[39] NdTª.: a Ordem Hospitaleira de São João de Deus (Ordo Hospitalarius Sancti Ioannis de Deo) é um instituto de vida consagrada; os frades dessa ordem mendicante, chamados popularmente de Fatebenefratelli, pospõem ao nome as siglas O.H. ou F.B.F. O nome Fatebenefratelli (Fate bene fratelli, ou seja Fazei bem irmãos) nasceu do hábito do fundador e dos primeiros frades de convidar os benfeitores a colaborar economicamente com as obras de caridade da ordem dizendo: “Fazeis bem a vós mesmos, irmãos, pelo amor de Deus”.


[40] NdTª.: Antonio Maria Zaccaria (1502-1539) foi um médico e padre católico italiano, fundador da Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo (Barnabitas) e da Congregação das Freiras Angélicas de São Paulo. Papa Leão XIII o proclamou Santo em 1897.


[41] NdTª.: Gerolamo Emiliani (1481-1537), ou Gerolamo Miani – São Jeronimo Emiliano – foi um religioso italiano, canonizado pela Igreja Católica. Inicialmente seguiu carreira militar que abandonou para se dedicar ao serviço dos pobres, distribuindo a eles todos os seus bens. É o fundador da Ordem dos Clérigos Regulares de Somasca, destinada a socorrer as crianças órfãs e as pobres. Viveu em um dos períodos mais atormentados da Igreja, o da Reforma Protestante, seguido pela Contrarreforma Católica, da qual foi expoente. Memória: dia 08 de fevereiro.


[42] NdTª.: Ângela Merici (1474-1540) foi a fundadora das Irmãs Ursulinas e foi canonizada pelo Papa Pio VII em 1807. Jovem ainda, entrou para a Ordem Terceira de São Francisco. Desde muito cedo esta jovem, possuidora de uma beleza rara, vivia a mais santificante das vidas: dormia num leito de tábuas, alimentava-se de pão e água e dava assistência a todos os que a procuravam. Tudo seria completado por uma vida que é descrita como de total apostolado. Certo dia, teve uma visão na qual Deus lhe teria revelado a fundação da Ordem das Ursulinas (1535), um instituto feminino sob a invocação de Santa Úrsula, para assistência e formação de meninas pobres. Memória: dia 27 de Janeiro.


[43] NdTª.: Íñigo López (1491-1556), Santo Inácio de Loyola ou Loiola, foi o fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas), uma ordem religiosa católica romana que teve grande importância na Reforma Católica. Atualmente, a Companhia de Jesus é a maior ordem religiosa católica no mundo. A grande biografia não cabe em notas de pé de página, contudo, breves informações: nasceu nos Países Bascos, órfão de mãe bem cedo e de pai aos 16 anos, foi protegido por um parente, ministro do Tesouro Real, de quem se tornou pajem. Gravemente ferido na Batalha de Pamplona (1521), passou meses em convalescência, passando a procurar livros para ler, tomando em mãos o ‘Vita Christi’, de Rodolfo da Saxônia, e a Legenda Aurea (sobre a vida dos santos), de Jacopo de Varazze, monge cisterciense que comparava o serviço de Deus com uma ordem cavalheiresca. A partir destas leituras, empolgou-se com a ideia de uma vida dedicada a Deus, emulando os feitos heroicos de São Francisco de Assis e outros. Decidiu devotar a sua vida à conversão dos infiéis na Terra Santa. Durante esse período, Inácio desenvolveu os primeiros planos dos Exercícios Espirituais (Ejercicios Espirituales). Recuperada a saúde, partiu para se dedicar ao serviço da Divina Majestade. Primeiro no Mosteiro de Montserrat, onde se confessou durante três dias. Em 1522, despiu-se de toda sua roupa e passou a vestir-se com sacos e assumiu um estilo de vida mendicante, impondo-se rigorosas penitências à imitação dos santos. Vivia de esmolas, privava-se de carne e vinho, frequentava a missa diária e rezava o Breviário. Costumava visitar o hospital e levar comida para os doentes. No Mosteiro de Manresa (onde apenas se hospedava), teve diversas experiências espirituais e visões e também passou por diversas provações internas: o desânimo, a aflição e a noite escura da alma. Passadas estas provações, teve o ânimo renovado diante de novas experiências espirituais. A vivência interior deste período deu-lhe a matéria para escrever os Exercícios Espirituais. Foi à Terra Santa, mas, diante dos planos frustrados de viver em Jerusalém, novos ideais surgiram: ajudar as almas e para isto decidiu estudar. Partiu para Barcelona, onde começou os estudos, e, depois, para Alcalá, onde, além dos estudos, dedicava-se aos exercícios espirituais que lhe valeram a suspeita pela Inquisição de ser um alumbrado (seita mística de cunho protestante). Foi solto, mas mandaram se vestir normalmente e abandonar os exercícios. Partiu, então, para Salamanca, onde foi novamente preso e entrega seu livrinho de exercícios espirituais ao bispo para exame, este nada encontra e o solta, junto com seus companheiros, proibindo-lhe de pregar os exercícios antes de quatro anos de estudos. Inácio decide, então partir para Paris, sozinho. Em 1528, entrou na Universidade de Paris, onde formou um pequeno grupo, cativado pelos exercícios, e pretendia ir a Jerusalém. Inácio já era docente. Em 1534, ele e os outros seis fundam a Companhia de Jesus, na capela Cripta de Saint-Denis, na Igreja de Santa Maria, em Montmartre, “para efetuar trabalho missionário e de apoio hospitalar em Jerusalém, ou para ir aonde o Papa quiser, sem questionar”. Em 1537, vão à Itália para procurar a aprovação papal a sua viagem à Terra Santa. O Papa Paulo III concedeu-lhes a aprovação e permitiu que fossem ordenados padres, em Veneza, pelo Bispo de Arbe (24 de Junho). Impedidos de ir à Terra Santa por questões políticas, continuam perambulando pela Itália até se estabelecerem em Roma. Novas suspeitas foram levantadas sobre o grupo. Acusavam Inácio de ser fugitivo da Inquisição espanhola. O peregrino dirigiu-se então ao papa, solicitando que se abrisse um novo processo. Novamente sua obra foi examinada, e nada foi encontrado que o condenasse. O Papa Paulo III, diante de um mundo em expansão, necessitava de missionários para terras longínquas, como as Américas e o Oriente. Contava com os jesuítas para esta tarefa. Além disto, novos companheiros queriam aderir ao grupo, verificando-se a necessidade de organizar a nova Ordem, por meio de uma regra de vida, que foi apresentada ao Papa, que a aprovou verbalmente em 03 de setembro de 1539. Em 1540, o Papa Paulo III confirmou a ordem através da Bula Regimini militantis Ecclesiae. Em 1551, criou o Colégio Romano (a atual Pontifícia Universidade Gregoriana), de ensino gratuito, que, adotando o sistema parisiense, renovou o ensino na Itália. Com o advento do Papa Paulo IV, desfavorável a Inácio, a obra passou por dificuldades financeiras, recuperadas somente 25 anos após sua morte, pelo Papa Gregório XIII. Entre 1553 e 1555, Inácio ditou sua experiência espiritual ao Pe. Gonçalves da Câmara, e foi considerada pelo Pe. Nadal o seu testamento espiritual. Os jesuítas foram um grande fator do sucesso da Reforma Católica. Foi canonizado (1622) pelo Papa Gregório XV. Memória: dia 31 de Julho.


[44] NdTª.: Vincent de Paul ou Vincent Depaul (1581-1660), São Vicente de Paulo, foi um sacerdote católico francês, canonizado por Papa Clemente XII em 1737. Foi um dos grandes protagonistas da Reforma Católica na França do século XVII. Foi Capelão da Rainha Margarida de Valois (a rainha Margot). Pe. Vicente era encarregado da distribuição das esmolas aos pobres e fazia visitas aos enfermos no hospital de caridade em nome da rainha. Vicente fundou a Confraria do Rosário. Vendo o abandono espiritual dos camponeses, fundou a Congregação da Missão (Padres Lazaristas), para a evangelização do “pobre povo do interior”. A Congregação da Missão demorou de 1625 até 1633 para receber a Bula do Papa Urbano VIII, reconhecendo-a. Em 1643, o rei Luís XIII pediu para ser assistido, em seu leito de morte, por Vicente, tendo morrido em seus braços. A seguir foi nomeado pela Regente Ana d’Áustria, de quem era o confessor, para o Conselho de Consciência (para assuntos eclesiásticos dessa Regência). Num apelo que o pe. Vicente fez durante sermão em Châtillon, nasceram (1617) as Senhoras Damas da Caridade (hoje conhecidas como Associação Internacional de Caridades – AIC). A primeira irmã de caridade foi a camponesa Margarida Nasseau, que contou com a orientação de Santa Luísa de Marillac, a qual, mais tarde, estabeleceu (1633) a Confraria das Irmãs da Caridade (atuais Filhas da Caridade). Sua vida é uma história de doação aos irmãos pobres e de amor a Deus. Muitos acham que a maior virtude de São Vicente é a caridade, mas sua humildade suplantava essa virtude. Sempre buscava o bem da Igreja. São Vicente de Paulo foi um pai dos pobres e um reformador do clero. Basta dizer que as Conferências Vicentinas, fundadas por Antônio Frederico Ozanam e seus companheiros, em 23 de abril de 1833, foram inspiradas nele. Memória: dia 27 de Setembro. Seu corpo permanece incorrupto até hoje.


[45] NdTª.: François de Sales (1567-1622), São Francisco de Sales, foi um sacerdote católico, Bispo de Genebra. Tem o título de Doutor da Igreja, é titular e patrono da família salesiana (fundada por São João Bosco). Era famoso pela direção espiritual e pela sabedoria dos seus escritos. Ele e Santa Joana Francisca de Chantal, de quem foi diretor espiritual, criaram a Ordem da Visitação, uma Ordem religiosa contemplativa. Foi também diretor espiritual de São Vicente de Paulo. Tornou-se uma figura líder da Reforma Católica, também chamada de Contrarreforma. Em 1609, seus escritos (cartas, pregações) foram reunidos e publicados com o título Introdução à vida devota ou Filotéia, que é a sua obra mais importante e que é editada até hoje. Outra obra ainda editada é o Tratado do Amor de Deus, fruto de sua oração e trabalho. Estes dois livros são considerados clássicos espirituais. Além destes livros, a coletânea de cartas, pregações e palestras alcança 50 volumes. A popularidade e o valor destes escritos fez com que fosse considerado padroeiro dos escritores católicos. Foi beatificado no ano em que faleceu e foi a primeira beatificação a ser formalizada na Basílica de São Pedro. Foi canonizado em 1655, pelo Papa Alexandre VII, e em 1867 foi declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio IX. Foi declarado em 1923, pelo Papa Pio XI, patrono da imprensa católica. Em 1632, na exumação dos seus restos mortais, o seu corpo encontrava-se em perfeito estado e inclusive com elasticidade nos braços, e ao mesmo tempo uma fragrância doce emanava de seu túmulo. São Francisco de Sales aceitou em sua casa um jovem com dificuldade de audição e criou uma linguagem de símbolos para possibilitar a comunicação. Essa obra de caridade conduziu a Igreja a dar-lhe outro título, ou seja, o de padroeiro dos surdos. Memória: dia 24 de Janeiro.


[46] NdTª.: Jeanne-Françoise Frémiot de Chantal (1572-1641), ou Santa Joana Francisca de Chantal, foi uma nobre católica, fundadora da Ordem da Visitação. Foi canonizada em 1767, por Clemente XIII. Desposou o Barão de Chantal, tornando-se Baronesa de Chantal, passando o casal a residir no Castelo de Bourbilly, onde fez celebrar missa diariamente, com a presença de todos os empregados domésticos, ocupando-se da instrução religiosa destes e de suas necessidades materiais. Aos domingos e dias de festa, participavam da missa paroquial. Ficou viúva aos 28 anos de idade, com um filho e três filhas. A partir de então, fez voto de castidade, dedicando-se à prática da caridade. Retirou-se do mundo e passou a dividir o seu tempo entre a oração, o trabalho e a educação dos filhos. Em 1604, na casa de seu pai em Dijon, conheceu o Bispo de Genebra, São Francisco de Sales (vide nota). Identificando nele a pessoa para dirigi-la espiritualmente, ligou-se a ele por uma profunda amizade. Com os filhos mais crescidos e amadurecidos, planejou ingressar na vida monástica. Para esse fim, o jovem Barão de Chantal, com 15 anos de idade, foi entregue ao avô materno, que passou a cuidar de sua educação e de seus bens; a sua filha mais velha desposou o Barão de Thorens; a filha do meio faleceu pouco depois; a filha mais nova desposou o Conde de Toulonjon. Em 1610, em Annecy, sob a orientação do Bispo de Genebra, a Baronesa fundou a Congregação da Visitação de Santa Maria, juntamente com Jacqueline Fabre e a senhorita Brechard. Dirigiu, como superiora, de 1612 a 1619, a casa que fundou em Paris, no bairro de Santo Antônio, aonde chegou a ser perseguida. Deixou o cargo de superiora da Ordem e voltou a Annecy. Faleceu, após grande agonia, pronunciando o nome de Jesus. A visitandina Margaria Maria Alacoque é filha da Ordem que ela fundou. Memória: dia 12 de Agosto.


[47] NdTª.: Teresa Sánchez de Cepeda Ávila y Ahumada (1515-1582), Santa Teresa de Jesus, ou Ávila, foi uma religiosa espanhola mística. Realizou a reforma na Ordem dos Carmelitas. Foi proclamada Doutora da Igreja. A leitura das ‘Cartas’ de São Jerônimo, cujo fervoroso realismo encontrou eco na alma de Teresa, a ajudou a tomar a decisão de se tornar religiosa. Mesmo contra a vontade paterna, foi para o Convento da Encarnação, mas a doença que a perseguia piorou e o pai a levou para casa. Lá, na convalescência, começou a ler o livro O Terceiro Alfabeto Espiritual, do Padre Francisco de Osuna. Teresa seguiu as instruções da pequena obra e começou a praticar a oração mental e, após três anos, recuperou a saúde e retornou ao Carmelo. Sua prudência, amabilidade e caridade conquistavam a todos, por isso recebia muitas visitas no parlatório que os conventos espanhóis mantinham segundo o costume da época, e Teresa vivia desculpando-se dizendo que suas enfermidades a impediam de meditar. Pouco depois da morte de seu pai, o confessor de Teresa fê-la ver o perigo em que se achava sua alma e aconselhou-a a voltar à prática da oração. Desde então, a santa jamais a abandonou. No entanto, ainda não se decidira a entregar-se totalmente a Deus nem a renunciar totalmente às horas que passava no parlatório trocando conversas e presentes com os visitantes. Cada vez mais convencida de sua indignidade, Teresa invocava com frequência os grandes santos penitentes, Santo Agostinho e Santa Maria Madalena, aos quais estão associados dois fatos que foram decisivos na vida dela: O primeiro foi a leitura das ‘Confissões’, de Santo Agostinho. O segundo foi um chamamento à penitência que ela experimentou diante de um quadro da Paixão do Senhor: “Senti que Santa Maria Madalena vinha em meu socorro… e desde então muito progredi na vida espiritual“. Sentia-se muito atraída pelas imagens de Cristo ensanguentado em agonia. Certa ocasião, ao deter-se sob um Crucifixo muito ensanguentado, perguntou: “Senhor, quem Vos colocou aí?” Ouviu uma voz: “Foram tuas conversas no parlatório que me puseram aqui, Teresa“. Ela chorou muito e a partir de então não voltou a perder tempo com conversas inúteis e com amizades que não a levavam à santidade. Finalmente, ela fundou o convento de São José em Ávila, mas teve, desde o começo, sérias dificuldades que quase a fizeram desistir. Teresa estabeleceu em seu convento a mais estrita clausura, o silêncio quase perpétuo e a maior pobreza. As religiosas vestiam hábitos toscos, usavam sandálias em vez de sapatos (por isso foram chamadas ‘descalças’) e eram obrigadas à abstinência perpétua de carne. A fundadora, a princípio, não aceitou comunidades com mais de treze religiosas. Mais tarde, nos conventos que possuíam alguma renda, aceitou que residissem vinte monjas. Mas a grande mística não descuidava das coisas práticas e sabia utilizar as coisas materiais para o serviço de Deus. Certa ocasião disse: “Teresa sem a graça de Deus é uma pobre mulher; com a graça de Deus, uma fortaleza; com a graça de Deus e muito dinheiro, uma potência“. Ela fundou um pequeno convento de frades em Duruelo (1568) e em Pastrana (1569), nos quais reinava a maior pobreza e austeridade. Santa Teresa deixou o resto das fundações de conventos de frades a cargo de São João da Cruz. Depois de muitas lutas, incompreensões e perseguições, ela obteve de Roma uma ordem que retirava os Carmelitas Descalços da jurisdição do Provincial dos Calçados. Em 1580, quando se estabeleceu a separação entre os dois ramos da Ordem do Carmo, Santa Teresa de Ávila tinha 65 anos e sua saúde estava muito debilitada, mas ainda assim, nos últimos anos de sua vida, fundou outros dois conventos. As fundações da Santa não eram simplesmente um refúgio das almas contemplativas, mas também uma espécie de reparação pelos destroços causados nos mosteiros pelo Protestantismo, principalmente na Inglaterra e na Alemanha. Foi canonizada em 1622. No dia 27 de setembro de 1970, o Papa Paulo VI conferiu-lhe o título de Doutora da Igreja. Santa Teresa de Ávila é considerada um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. Mesmo os ateus e os livres-pensadores são obrigados a enaltecer sua viva e arguta inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo bom senso. O grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, a tinha em tão alta estima que a escolheu como patrona, e a ela consagrou-se como filho espiritual, enaltecendo-a em muitos de seus escritos. Memória: dia 15 de outubro.


[48] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 64.


[49] NdAª.: Cardeal Charles Journet (1891-1975).


[50] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 71-72.


[51] NdTª.: Adriaan Florenszoon Boeyens (1459-15237), Papa Adriano VI (1522). Foi o último papa não italiano até João Paulo II, 456 anos depois. Ele e o Papa Marcelo II foram os únicos papas que mantiveram seu nome de batismo após a eleição. Adriano foi o único papa nascido nos Países Baixos (Holanda). Adriano VI é conhecido por ter lançado a Reforma Católica.


[52] NdTª.: Francesco Chieregati, Chericati, Chierigato, Cheregato, Cherigatti ou Clericatus (1479-1539) foi um bispo católico. Foi nomeado Núncio Pontifício para a Dieta de Nuremberg (1522), que iria discutir a questão luterana, o problema turco e a correição da disciplina eclesiástica.


[53] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 66.


[54] NdTª.: Ildebrando Aldobrandeschi di Soana (1020/1025-1085), Papa São Gregório VII, OSB, foi o 157º Papa da Igreja Católica (1073) e um dos mais influentes da História. A sua eleição é considerada fora do padrão habitual. Não era sacerdote quando foi eleito Papa, por aclamação popular, em 22 de Abril de 1073. Sendo uma transgressão da legalidade estabelecida em 1059 pelo Concílio de Melfi, que decretou que na eleição papal só podia intervir o colégio cardinalício, nunca o povo romano. Não obstante, obteve a consagração episcopal em 30 de Junho de 1073. Muito combativo em favor dos direitos da Igreja, enfrentou galhardamente o Imperador Henrique IV, do Sacro Império Romano, em defesa da superioridade do Poder Espiritual sobre o Poder Temporal; emprestou o seu nome ao maior programa de reforma da Cristandade Católica em toda a sua história: a Reforma Gregoriana. Foi monge na Abadia de Cluny, considerada a alma da Idade Média. A pedido da Condessa Matilde, perdoou Henrique IV, que, entretanto, voltou a rebelar-se contra a Santa Sé. Devido ao seu carácter combativo, granjeou inimigos que o exilaram. Ao morrer fora de Roma, disse a frase que se tornaria famosa: “Amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso morro no exílio“. Em 1075, Gregório VII publica o Dictatus Papae, que são 27 axiomas onde expressa as suas ideias sobre o papel do Pontífice na sua relação com os poderes temporais, especialmente com os imperadores do Sacro Império. Estas ideias poderão resumir-se em três pontos principais: O Papa é senhor absoluto da Igreja, estando acima dos fiéis, dos clérigos e dos bispos, e acima das Igrejas locais, regionais e nacionais, e acima dos concílios; O Papa é senhor único e supremo do mundo, todos lhe devem submissão incluindo os príncipes, reis e imperadores. A Igreja romana não cometeu erros nunca. Esta batalha pelos fundamentos da supremacia papal tem o seu apogeu na obrigatoriedade do celibato do clero e no ataque à Simonia. Gregório VII não introduziu o celibato, mas conduziu a batalha com maior energia do que os seus antecessores. Em 1074, publicou uma encíclica dispensando da obediência os bispos que permitiam o casamento dos sacerdotes. No ano seguinte, sob fortes protestos e resistência, encoraja medidas contra estes, privando-os dos rendimentos.


[55] NdTª.: Antonio Michele Ghisleri (1504-1572), Papa Pio V, O.P., foi o 225º Papa da Igreja Católica. Nascido no norte da Itália, ingressou aos 14 anos na Ordem Dominicana e fez uma brilhante carreira eclesiástica, como bispo, cardeal (sob o título de Santa Maria Sopra Minerva), inquisidor-mor e, por fim, Papa. Aplicou energicamente as decisões do Concílio de Trento, restabelecendo a moral e a ascese espiritual, e combateu fortemente a Reforma Protestante. Com sua Bula In cœna Domini, reafirmou a legitimidade e supremacia da Igreja Católica e da Cabeça Visível do Corpo Místico, o Santo Padre. Reduziu substancialmente os gastos da Sé de Roma, foi responsável pela publicação do Catecismo Romano e ordenou o ensino da teologia tomista nas universidades. Ordenou a residência compulsória para os clérigos e regulou os hospícios (instituição católica). Com a Bula Quo Primum Tempore instituiu a Missa tridentina, através do estabelecimento do texto oficial da Missa e do Ofício Divino, que foram a práxis litúrgica ordinária do Rito Latino em toda a Igreja até o Concílio Vaticano II. A bula teve por finalidade unificar a Reapresentação do Sacrifício da Cruz e impedir abusos e deturpações no culto sagrado. Em Roma mandou que Daniele da Volterra, discípulo de Michelangelo, recobrisse com roupas a nudez pintada no teto da Capela Sistina. Sua bula De salutis gregis dominici proibia os cruentos espetáculos das touradas. Conseguiu a duros esforços coordenar os interesses de potências católicas e levá-las à vitória de Lepanto, em 7 de Outubro de 1571. A importância desta vitória, para a defesa de uma Europa cristã e obtida em circunstâncias militares muito difíceis, graças à intercessão de Nossa Senhora, para quem o Papa mandou rezar o terço em todo o mundo católico, levaram o Papa Pio V a instituir naquela data o dia de Nossa Senhora da Vitória, bem como a divulgar, em toda a Cristandade a prática da oração do Rosário, cuja origem é atribuída à aparição da Santa Virgem ao fundador da Ordem dos Pregadores, São Domingos de Gusmão. Beatificado a 27 de Abril de 1672, foi proclamado santo (1712) pelo Papa Clemente XI. Memória: dia 30 de abril.


[56] NdTª.: Pio Brunone Lanteri (1759-1830) foi um sacerdote italiano, fundador da congregação dos Oblatos de Maria Virgem. Proclamado venerável pelo Papa Paolo VI (1965). Durante os estudos universitários, sob a direção do padre suíço Nikolaus von Diessbach, fundador em Turim da associação Amicizia Cristiana (apostolado de imprensa católica sã), aprofunda a espiritualidade de Sant’Alfonso Maria de Ligório e de Santo Inácio de Loyola, particularmente os Exercícios Espirituais, de cuja difusão se encarregará a partir daí. Foi ordenado sacerdote (1782) em Turim e, depois de ter tentado em vão de reconstituir a associação de von Diessbach, fundou, em 1817, a Amicizia Cattolica, que conservou os ideias e o caráter secreto da associação precedente mas com um programa mais adequado à Idade da Restauração. Organizou a assistência ao Papa Pio VII durante sua prisão no palácio episcopal de Savona (1809-1812), mas foi descoberto e obrigado ao confinamento em sua casa de Bardassano. Em 1814, caindo Napoleão, voltou a Turim. A sua obra é importante para a formação de uma cultura católica laica, em resposta às ideias racionalistas difundidas pelo Iluminismo, e é também antecipadora dos movimentos sucessivos, particularmente a Ação Católica, como lembrado por Pio XI.


[57] NdTª.: Conde Joseph-Marie de Maistre (1753-1821) foi um escritor, filósofo, diplomata e advogado. Foi um dos expoentes mais influentes do pensamento contrarrevolucionário, no período imediatamente seguinte à Revolução Francesa de 1789. Maistre era a favor da restauração da monarquia hereditária, para ele uma instituição de inspiração divina. Defendia também a suprema autoridade do Papa, quer em matérias religiosas como em matérias políticas. De acordo com Maistre, apenas os governos baseados na constituição Cristã, implícita nos costumes e instituições de todas as sociedades europeias, mais especialmente nas monarquias católicas europeias, poderiam evitar as desordens e as matanças que seguem a implementação de programas políticos racionalistas, tais como a então recente Revolução Francesa. Um defensor entusiasta do princípio da autoridade estabelecida, que a revolução pretendia destruir, Maistre defendeu-o em todos os domínios: no Estado, enaltecendo a monarquia; na Igreja, enaltecendo os privilégios do papado; e no mundo, glorificando a providência divina. É o autor da célebre frase: “Cada povo tem o governo que merece“.


[58] NdAª.: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu” (Mt, 18,18).


[59] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 75.


[60] NdAª.: Idem, p. 108.


[61] NdAª.: B. Gherardini, Quaecumque dixero vobis. Parola di Dio e Tradizione a confronto con la storia e la teologia (Tudo o que que vos disse. Palavra de Deus e Tradição em confronto com a história e a teologia). Lindau, Torino 2011, p. 170. [NdTª.: “Quaecumque dixero vobis” é do Evangelho de João (14,26): “Paracletus autem Spiritus Sanctus quem mittet Pater in nomine meo ille vos docebit omnia et suggeret vobis omnia quæcumque dixero vobis”, ou seja, “Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos sugerirá tudo o que vos tenho dito”].


[62] NdTª.: Louis Billot (1846-1931), filósofo e teólogo tomista insigne, foi um cardeal francês. Pertencia à Companhia de Jesus (1869). Era docente de diversas universidades eclesiásticas e da própria Companhia. Colaborou para a Pascendi de Papa Pio X, que condena o Modernismo. Criticou duramente a conduta do Papa Pio XI, em relação à Action française, uma associação católica tradicionalista fundada por Charles Maurras e condenada pela Santa Sé (1926), mas reabilitada por Papa Pio XII (1939). A Action française publicara um artigo crítico contra a Igreja, e o cardeal Billot enviou uma mensagem de adesão, que o fez ser convocado ao Vaticano (1927) e recebido em audiência pelo Papa. Os secretários e monsenhores da Cúria conheciam bem o caráter irascível de Pio XI e a tendência de tratar até os cardeais, se errassem algo, com muita severidade e esperavam ouvir gritos e palavras de fogo por trás da porta do estúdio papal, mas a audiência com o cardeal Louis Billot foi estranhamente breve e silenciosa. Em poucos minutos, Billot saiu da sala sem o barrete, o anel e a cruz peitoral: havia renunciado à dignidade cardinalícia porque indignado com a atitude dura do Pontífice e da Secretaria de Estado contra a Action française. Morreu como um simples sacerdote jesuíta, em 1931, com 85 anos, perto de Roma.



[63] NdAª.: R. de Mattei, op. cit., p. 100. Cfr. Cardeal L. Billot s.j., De Immutabilitate traditionis (1907), tradução francesa com notas do abade J-M. Gleize, Tradition et modernisme. De l’immuable tradition, contre la nouvelle hérésie de l’évolutionnisme (Tradição e modernismo. Da imutável tradição contra a nova heresia do evolucionismo), Courrier de Rome, Villegenon 2007, pp. 32, 37.




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