É urgente falar de Deus

Na sua habitual catequese desta semana o Papa Bento XVI destacou a importância de falar de Deus no mundo atual, especialmente nas famílias. O pedido veio em um contexto interessante. Por um lado, deu-se logo depois da apresentação do seu novo livro “A infância de Jesus”, que segundo o Cardeal Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a cultura ajudará a “repensar” o sentido do Natal graças à profunda abordagem que Bento XI faz sobre o nascimento de Cristo e a importância histórica do evento da Encarnação do Verbo. Por outra parte, o apelo chega pouco tempo antes do início do Tempo Litúrgico do Advento, quando a Igreja se prepara para o Natal. E talvez, justamente devido a este segundo contexto, o pedido do Papa ganhe ainda mais relevância.


Às vésperas do Natal, quando a Igreja justamente convida a centrar nosso olhar em Cristo e no evento do seu nascimento, levados pelo consumismo, Deus desaparece das nossas vidas. A tendência de que o Natal torne-se cada vez mais uma ocasião secular de intercâmbio de presentes e filantropia não cessa de crescer à medida que no mundo atual não se fala de Deus. A dessacralização da data chega ao absurdo que em alguns lugares dos Estados Unidos as pessoas não possam colocar presépios ou frases alusivas a Cristo, ao Natal ou qualquer menção ao aspecto religioso destas datas pelo temor a ofender os que não creem em Deus e os outros grupos religiosos que não celebram o Natal.

Isto é o que acontece quando os cristãos nos calamos. Quando deixamos de anunciar que Natal é Jesus, que Cristo veio e por amor pôs sua morada entre nós definitivamente. Pior que a atitude dos perversos, talvez seja o silêncio dos bons. Pior que o silêncio dos bons, talvez seja a indolência com a qual vemos a perseguição e morte de cristãos em países onde são minorias e nos acomodamos a um "cristianismo ocidental light", no qual somos cristãos, mas não atuamos como tal. Somos tão silenciosos como se em nossa nação fosse proibido o culto cristão público como em certas partes do mundo o é.

Talvez seja compreensível o silêncio dos cristãos no Irã, no Paquistão, Afeganistão, na Nigéria, mas não esqueçamos que o testemunho do seu sangue derramado grita aos céus e clama para que nós, que ainda gozamos da liberdade religiosa, não sejamos acuados pelo secularismo. O Papa sabe bem que a solução do mundo não está nos sistemas políticos, mas na conversão dos corações. Entretanto, sem anúncio, não há conversão. O Papa frisa ainda que o primeiro lugar onde não pode existir este silêncio sobre Deus é a família. Falar de Deus não pode ser um tabu na família. Se as crianças aprendem desde cedo a terem vergonha de manifestar sua fé e sua piedade, não podemos esperar do futuro mais que um crescente e pernicioso avanço da anticultura, da cultura de morte, da agenda ditada por poderosos grupos de interesse que querem que a fé seja cada vez mais relegada ao foro pessoal e banida do debate público. Se os inimigos da Igreja conhecem o poder do seu testemunho, com mais razão nós cristãos devemos saber que com o anúncio de Cristo, falando de Deus podemos mudar o mundo.

Nenhum comentário:

Arquivo