A doutrina de Santo Agostinho sobre a predestinação e a graça
passou por fases progressivas. Antes de 396, período pré-episcopal:
vontade salvífica geral de Deus e quem não crê age em virtude da vontade
contrária do homem. Depois fala da vontade particular de Deus. Os
eleitos pela eficácia irresistível da graça e pelo dom particular da
perseverança final, conseguirão, infalivelmente, a vida beatífica, ao
passo que aos não eleitos, faltando-lhes a graça, são destinados à
perdição. É o que se chama de agostinismo, doutrina sumamente rigorosa.
Entretanto a doutrina fiel de Agostinho é que, sem o auxílio de Deus,
não podemos querer ou fazer algo de bom. No tratado De gratia et libero
arbítrio - Sobre a Graça e o Livro Arbítrio, demonstra que o homem
permanece livre sob a graça e pode evitar o pecado se quer, e, portanto,
verdadeiramente, merecer em conseqüência a vida eterna. Portanto, os
textos nos quais se encontram palavras mais duras que parecem diminuir a
liberdade do homem, devem ser elucidados pelos mais claros. A tese de
fé é esta: É dada ao homem a graça verdadeiramente eficaz que, contudo,
não é necessitante. Cumpre se admita a existência do pecado original, a
incapacidade do homem natural para operar o bem sobrenatural, a
necessidade absoluta da graça, também para o início da fé e a graça da
perseverança final. Em síntese, para Agostinho a graça e a liberdade não
se excluem, mas se completam. Dirá ele: "Aquele que te criou sem ti,
não te salvará sem ti" (S.Augustinus, Super Ioannem, - Sermão 169, 13
(PL38,923), citado por S. Tomás em S.Th. III. q. 84. aa. 5 e 7. Esta
citação encontra-se também no Catecismo da Igreja Católica, n.1847).
Ensinará também que entre a graça e a predestinação existe unicamente
esta diferença: a predestinação é uma preparação para a graça e a graça é
a doação efetiva da predestinação. É assim que diz o Apóstolo: " (a
salvação) não provém das obras, para que ninguém se vanglorie, pois
somos todos obras de Deus, criados em Cristo Jesus para realizar boas
obras" (Ef 2 9s), significa a graça, mas o que segue: "as quais Deus de
antemão dispôs para caminharmos nelas", significa a predestinação, que
não se pode dar sem a presciência, por mais que a presciência possa
existir sem a predestinação. Há verdades que a filosofia e a teologia
provam como inegáveis, mas cujos elos a inteligência humana finita,
limitada não é capaz de ligar. Deus é onisciente, todo-poderoso, criador
de tudo e dotou o ser racional de liberdade. Além disto, sabemos pela
Bíblia que ele concede sua graça, necessária para a prática do bem.
Jesus foi claro: "Sem mim nada podeis fazer"- (Jo 15,5) [grifo nosso].
Ele oferece seus poderosos auxílios divinos a todos os homens sem
exceção. No entanto, uns se salvam, outros se condenam. Lá no Calvário
Dimas ganha o céu, se torna o primeiro santo canonizado, mas Gestas não
se converte, pois havia passado para aquela margem da vida donde todo
retorno é impossível! O ser racional é livre para aceitar a Jesus como
Dimas ou recusá-lo como Gestas. A palavra de Deus nas Escrituras
esclarece, os sinais feitos por Cristo indicam sua divindade.
Entretanto, nem a poderosa palavra divina, nem os milagres feitos por
Jesus podem tolher a liberdade humana. Deus quer uma adesão pessoal,
consciente de cada um. É por isto que é tão beatificante a entrega a Ele
pela fé e aí está o valor da virtude, pois é um ser dotado de
inteligência que se volta para o seu Senhor. Aí a fonte de todo o
mérito.Há, porém, um grande obstáculo ao poder da graça, por assim dizer
maior do que a palavra do Todo-Poderoso e do que tudo que está no
Evangelho que é o endurecimento do coração. Este impede definitivamente
que Cristo possa repetir: "Hoje estarás comigo no Paraíso".
Bem-aventurados, entretanto, aqueles que se deixam iluminar pelas
inspirações celestes e se imergem na beleza das mensagens de Jesus, na
grandiosidade de seus prodígios, pois este, sim, escutará um dia estas
dulcíssimas palavras: "Hoje estarás comigo no Paraíso". Suprema desgraça
de uns, excelsa ventura de outros! .Gestas queria descer da cruz para
continuar na sua vida dissoluta. Deus se propõe, nunca se impõe. Há uma
passagem no Apocalipse sumamente esclarecedora: "Eis que estou à porta e
bato. Se alguém abrir, entrarei e cearei com ele e ele comigo" (Ap
3,20). Tem razão Paulo de Tarso: "Cuidai de vossa salvação com temor e
com tremor" (Fl 2,12). Dizia um grande santo: "Temo a Jesus que passa e
pode não voltar". Cumpre corresponder sempre às inspirações divinas.
Cristo afirmou: "Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em
abundância" (Jo 10,10) [grifo nosso]. Deus faz de sua parte. Cabe ao
homem dotado de liberdade imergir no oceano da bondade e misericórdia
divinas, fazer de sua parte e, após a morte, entrará na posse de uma
ventura sem fim!
http://nossasenhora-nelremar.blogspot.com/2013/09/apologetica-santo-agostinho-e.html
Fonte: Font, Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
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