Sumário. Quantas graças devemos dar à bondade divina por nos ter dado Maria por advogada! Ela é tão poderosa, que os seus rogos são sempre atendidos. Ela é também tão piedosa, que não sabe negar o seu socorro a quem quer que a invoque. Mais, nossa boa Mãe vai em busca dos miseráveis, a fim de os ajudar; pois mais desejo ela tem de nos fazer bem, que nós de o receber. Ai de nós, se nos viéssemos a perder! O patrocínio poderoso da Virgem seria no inferno um dos nossos tormentos mais graves, lembrando-nos que possuíamos um meio tão eficaz de salvação e não soubemos aproveitá-lo.
I. Meu irmão, quando nos sentirmos culpados perante a justiça divina e já como que condenados ao inferno por causa dos nossos pecados, não nos entreguemos à desesperação; recorramos a Maria, refugiemo-nos debaixo de seu manto, e ela nos salvará. Tomemos a resolução de mudarmos de vida; tenhamos boa vontade e grande confiança no patrocínio de Maria e seremos salvos, porquanto ela é uma advogada poderosa e uma advogada piedosa.
Maria é uma advogada poderosa, porque, na palavra de Santo Antônio, sendo ela Mãe de Deus, os seus pedidos são para Jesus Cristo como outras tantas ordens, e é impossível que não sejam deferidos. Nem é somente uma advogada poderosa, mas, como se exprime Ricardo de São Lourenço, todo-poderosa; pois que é justo que a Mãe participe do poder do Filho; que é todo poderoso por natureza, fez a Mãe todo-poderosa pela graça; quer dizer que obtém tudo o que pede. – Por isso, São Gregório de Nicomedia, dirigindo-se à Virgem, diz: Ó Mãe de Deus, vós sois invencível e nada pode resistir ao vosso poder: já que o Criador considera a vossa glória como se fosse a sua própria.
Maria é também uma advogada piedosa, de modo que não sabe recusar o seu patrocínio a quem quer que a ela recorra. Eis porque o Espírito Santo a compara à oliveira: Quase oliva speciosa in campis (1) – “Qual oliveira especiosa nos campos”. Porque, assim como da oliveira não sai senão azeite, símbolo da piedade, assim as mãos de Maria não podem derramar senão graças e misericórdias, que ela dispensa a todos que se socorrem de seu patrocínio. Ela mesma vai à procura dos miseráveis, e mais desejo tem de nos fazer bem, do que nós de o receber. Quando São Boaventura contemplava em espírito à divina Mãe, parecia-lhe ver a própria misericórdia. Que graças não devemos, pois, render à bondade do nosso Deus, por nos ter dado uma advogada tão poderosa e piedosa!
II. Quando a divina Mãe apareceu um dia a Santa Brígida e lhe falou de sua misericórdia para com os pecadores, disse: “É para lastimar, e sê-lo-á eternamente aquele que, podendo em vida recomendar-se a mim, que sou tão benigna, para sua desgraça não recorre a mim e se condena.” – Grande Deus! Se nos condenássemos, qual não seria a nossa pena no inferno, ao pensar que nos podíamos salvar tão facilmente, recorrendo a Maria, mas que não o fizemos e em toda a eternidade não o poderemos mais fazer? Para que não nos suceda tamanha desgraça, avivemos hoje a nossa devoção e coloquemo-nos novamente debaixo do patrocínio desta grande advogada.
Vejo, ó minha Mãe santíssima, as graças que me tendes alcançado e a ingratidão com que vos hei respondido. O ingrato é indigno de novos benefícios; contudo não perco por isso a confiança na vossa misericórdia. Ó minha poderosa Advogada, tende compaixão de mim. Vós sois a dispensadora de todas as graças que Deus nos concede, a nós, miseráveis; Ele vos fez tão poderosa, tão rica e tão piedosa, para que nos socorrais! Quero salvar-me. Nas vossas mãos entrego a minha salvação eterna, confio-vos o cuidado da minha alma. Quero ser inscrito no número dos vossos servos mais dedicados; não me repilais de vós. Andais à procura dos desgraçados para os socorrer; não abandoneis então um pobre pecador que a vós recorre.
Falai em meu favor; vosso Filho faz tudo o que lhe pedis. Tomai-me sob a vossa proteção; porque, se vós me protegeis, não temo coisa alguma; não temo os meus pecados, porque me obtereis de Deus o perdão; não temo o demônio, porque sois mais poderosa do que todo o inferno; não temo enfim nem ao próprio Jesus, meu Juiz, porque basta uma oração vossa para aplacá-lo. Protegei-me, pois, ó minha Mãe, e alcançai-me o perdão dos meus pecados, o amor de Jesus, a santa perseverança, uma boa morte, e finalmente o paraíso. Verdade é que não mereço estas graças, mas, se as pedis para mim ao Senhor, ser-me-ão concedidas. Rogai, pois, a Jesus por mim. Ó Maria, minha Rainha, em vós confio, nesta esperança vivo, nela repouso, com ela desejo morrer. Amém. (*II 148.)
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1. Ecclus. 24, 19.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 277- 280.)
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Da confiança no patrocínio de Maria Santíssima.
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