Abbá, Papaizinho... um estudo sobre a experiência da Paternidade Divina em Jesus

Todo o viver (ser) de Jesus com relação a Deus e seu viver (ser) a serviço dos homens culmina na revelação do nome "Abbá" - Pai querido! - O Pai de Jesus se tornou, pela adoção divina, nosso Pai:






"Este nome suscita em nós, ao mesmo tempo o amor, a afeição na oração... e também a esperança de alcançar o que vamos pedir....Com efeito, o que poderia recusar ao pedido de seus filhos, quando já antes lhes permitiu ser seus filhos?" (Santo Agostinho).










Feitos Filhos adotivos do Pai, somos "revestidos de Cristo" e misericordiosamente introduzidos pelo Espírito, na Família Trinitária. Esta sublime realidade espiritual dá um profundo e definitivo sentido à nossa existência. Podemos agora, sem reservas, abandonar-nos à bondade e à paternal Providência divina, colocando-nos inteiramente à disposição do Reino (Lc 12, 22-30).






A experiência de Jesus, que marca a vida de sua alma é o amor- ternura de sua mãe e seu pai terrenos, Maria e José.O menino Jesus exprime essa experiência com dois termos familiares as crianças judaicas: IMMA = Mamãe, Mãe querida, mãezinha e ABBA = Papai, Paizinho, Pai querido.







Não existiu e não existe filho tão amável e tão amado como Jesus. Mais ainda: não existe filho que corresponda tão pura e fortemente ao amor recebido como Jesus: e Ele o expressa com esses dois termos tão ternos e carinhosos: IMMA e ABBA.






A isso se junta uma experiência com Deus absolutamente gratuita de Jesus que ultrapassa todas as experiências místicas de todos os homens: a experiência de que sua IMMA (Maria) e seu ABBA (José) são imagens, reflexos do amor materno-paterno do Pai Celeste.






Jesus crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens (Lc 2,52). Ele sabe com todas as forças humanas de sua alma que Ele vem do Pai e lhe cabe um amor especial de Filho. E Ele pode, num sentido único, chamar o Altíssimo de ABBÁ, e convidar seus díscipulos a com Ele chamar Deus de Pai (Jo 20, 17).






Dizendo "Pai nosso" fazemos a experiência feita por Jesus e transmitida a nós pelos apóstolos, de que Deus é Aquele que está aí como um Pai que cuida de seus filhos, que tem um coração sensível aos nossos problemas, que seu olhar pousa sobre nossos sofrimentos e seu ouvido é atento aos nossos clamores. O homem não é um número, nem uma partícula perdida nos espaços infinitos que nos aterram, uma PESSOA, alvo do amor carinhoso de Deus, cujo nome Ele conhece e guarda no coração. Aos cuidados deste Deus-Pai o ser humano pode confiar-se, entregar sua vida e sua morte, porque tudo concorrerá para o seu bem.










A invocação"Abba" relacionada a Deus causou perplexidade entre os judeus do tempo de Jesus. Mateus acrescenta, na sua redação do Pai nosso a frase: "que estás nos céus" (Mt 6,9), provavelmente para diminuir o impacto sobre a sensibilidade religiosa dos seus conterrâneos. "Céu", de fato, constitui um símbolo - usado, aliás, em muitas tradições culturais - que expressa transcendência, infinitude, aquilo que o homem não pode atingir com suas próprias forças.








Desta forma torna-se uma qualificação de respeito, soberania, majestade, reconhecimento de uma suprema alteridade.O Pai querido é simultaneamente o Deus imenso, eterno, onipotente, o Criador "do céu e da terra". A familiaridade com o Pai não deve minimizar o respeito a Ele devido! Amor e reverência, aliás, não se excluem; são inseparáveis como cara e coroa de uma moeda.






Ao ver a expressão "Abba", ó Pai, estamos frente a uma particularidade única de Jesus. Trata-se de um diminutivo afetuoso, usado normalmente pelas crianças no âmbito familiar, como dissemos acima. Portanto "Abba" é um termo explicitamente infantil de GRANDE intimidade, correspondendo assim ao nosso "papai", "painho", paiê". Não passava nunca pela cabeça de um judeu sério chamar YHWH dessa maneira! Seria uma blasfêmia ou, no mínimo, uma tremenda falta de respeito.











A invocação Abba relacionada a Deus é tão tipicamente Cristã que a palavra aramaica original ficou conservada no texto grego dos evangelhos. De fato, nos lábios de Jesus recebe um toque todo especial e personalíssimo, expressando, em encantadora simplicidade, uma ternura comovente e um abandono confiante.






Com isso, o Senhor manifesta algo completamente novo: Um relacionamento natural com Deus, na intimidade familiar e na proximidade afetiva de um verdadeiro filho. A missão específica de Jesus é revelar aos homens a pessoa de seu Pai. De fato, o "Deus verdadeiro" (Jo 17,3) que Ele nos faz conhecer é seu abba, Pai queridíssimo. Na véspera de sua morte o Senhor declara: "Manifestei Teu nome aos homens". (Jo 17, 6). Revelando a si mesmo como Filho, Jesus revela, no mesmo gesto, o Pai: Há quanto tempo convivo convosco e tu não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai". (Jo 14, 9).










No rosto de Jesus contemplamos a essência do Pai, um Deus de imenso amor, que na Misericórdia revela toda sua grandeza salvífica. Efetivamente, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é o Deus de extrema bondade para com todos, mas muito especificamente para os rejeitados, os pecadores, os doentes, os pequeninos, os marginais, os discriminados de toda espécie. É nesta predileção paterna que começa a manifestar-se a realidade do reino de Deus, que nada mais é do que o Reino do PAI (Lc 12,30-32).






ORAÇÃO:






"Meu Deus, como sois bom! Vós, que nos permitis chamar-vos de 'nosso Pai'! Quem sou eu, para que meu Criador, meu Rei, meu Mestre soberano me permita chamá-lo 'meu Pai? E não apenas me o permite,mas o ordena! Meu Deus, como sois bom! Quanto eu devo me lembrar, todos os momentos de minha vida, desta ordem tão doce! Que reconhecimento, que alegria, que amor, mas sobretudo, que confiança ela me deve inspirar!






Já que sois meu Pai, ó meu Deus, quanto eu devo sempre esperar em Vós! Mas também, já que sois tão bom para mim, quanto eu devo ser bom para os outros também! Já que vós quereis ser meu Pai e Pai de todos os homens, como eu devo ter para com todo homem - seja quem for, por pior que seja - os sentimentos de um terno irmão!






Daí, respeito, reconhecimento, confiança e esperança inalterável, amor filial para com Deus e fraternal para com os homens.






Nosso Pai, PAI NOSSO, ensinai-me a ter este nome sem cessar em meus lábios, com Jesus, Nele e por Ele, pois poder dizê-lo é minha maior felicidade".






(Bem-aventurado Charles de Foucauld)
                                                                                                                                                                



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